O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos e ex-reitor da universidade de Harvard, Larry Summers, afirmou, nesta segunda-feira (17), que a economia global irá demorar mais que o previsto para se recuperar da crise causada pela pandemia do novo Coronavírus (covid-19). A razão desta desconfiança com a retomada do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta é ligada a presença do vírus por muito tempo e também a limitações nas ações dos governos.
Larry Summers explicou, durante uma live organizada pelo banco espanhol Santander, que os estímulos impulsionados pelo governo dos Estados Unidos fizeram com que as vendas no país e na Europa aumentem mais rápido do que o projetado no início da crise. Entretanto, por serem artificiais, essas ajudas governamentais apresentam um efeito apenas temporário. Além disso, segundo o economista, em função de os Executivos não serem capazes de manter ou aumentar os estímulos por um grande período, a recuperação da economia global “será muito mais lenta do que as pessoas esperam”
Segundo o ex-secretário do Tesouro a crise provocada pelo Coronavírus foi “brutal”, mas há um “rebote” nas atividades econômicas de EUA e Europa.
“Essa é a boa notícia, mas é algo artificial no sentido ter ter sido impulsionado por estímulos do governo”, salientou o economista, “as pessoas acreditam que esse seja um fenômeno transitório, mas está claro agora, do ponto de vista epidemiológico, que a covid-19 estará conosco por um bom tempo”.
O ex-secretário do Tesouro do governo Bill Clinton também falou sobre as eleições presidenciais dos EUA, que ocorrerão em novembro deste ano. Larry Summers salientou a provável derrota de Donald Trump pelo ex-vice presidente e candidato do Partido Democrata Joe Biden, que deveria ser eleito com maioria em ambas as casas do Congresso.
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“Acho muito possível que, quando a história for escrita mais de um século a partir de agora, nem [o atual presidente dos EUA] Donald Trump ou a covid-19 sejam os temas mais lembrados do período dos últimos cinco anos”, explicou o economista.
Todavia, o ex-secretário também indicou que o tema mais relevante atualmente é a guerra comercial entre China e Estados Unidos, a qual está entre os tópicos que geram maior pessimismo para o cenário da economia global dos próximos 15 anos. “Acho que a situação atual tem paralelos perturbadores com a ascensão da Alemanha no começo do século 20”, salientou Summers, indicando a existência de “razões e bases para nos preocuparmos com um conflito entre EUA e China”.
Larry Summers salientou risco de alta excessiva nas Bolsas de Valores
Discursando sobre o descolamento dos mercados de capitais em relação aos indicadores das economias reais, Larry Summers alertou sobre um excessivo otimismo por parte das Bolsas de Valores. Segundo o economista, a taxa de juros real, que tem seu principal indicador no índice dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, está perto de 100 pontos-base negativa.
“Se você tem uma grande redução no juro real, que significa uma diminuição substancial na taxa de desconto, isso poderia levar a, entre outros efeitos esperados, uma alta de 25% a 30% no mercado de ações”, explicou o economista, “Então haveria espaço para os lucros caírem substancialmente. Mas suponha que você esperava que os lucros recuem 50% pelos próximos três ou quatro anos, mas percebe que a covid-19 vai acabar e então os lucros vão retornar aos níveis normais, então não é uma surpresa total que os mercados estejam subindo”.
Segundo o ex-reitor de Harvard, é possível que “o otimismo no mercado acionário tem sido impulsionado pela taxa de desconto e, nesse sentido, não está completamente sem razão”. Isso pois as economias dos países industrializados atualmente estão vivendo um cenário de “zero lower bound”, ou seja, com taxas de juros próximas de zero. E, segundo ele, as taxas vão continuar baixas”essencialmente pelo fato de que não podem ser reduzidas no futuro, então quando tem um pouco de notícias econômicas positivas, as pessoas esperam um pouco mais de inflação com uma taxa de juros perto de zero, o que contribui para reforçar o preço dos ativos”.
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Por último, o economista afirmou que o Brasil deveria investir em potencializar sua biodiversidade única e se atentar mais nas questões ambientais. Afinal, segundo o economista, grande parte dos compostos químicos do futuro que irão colaborar com o desenvolvimento da saúde humana serão retirados da natureza.
“O valor econômico mais elevado da Amazônia é sua função como pulmão do mundo e acho prudente a sociedade brasileira investir pesadamente em maximizar esse valor”, declarou Larry Summers, “Talvez o Brasil tenha de ser compensado pelo serviço de ser o pulmão do planeta”.
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