O Brasil é um forte candidato a receber fluxo de recursos estrangeiros e tem a seu favor bons fundamentos no setor externo, inflação controlada e juros para baixo, disse Luis Stuhlberger, executivo-chefe e de investimentos da Verde Asset, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Segundo Stuhlberger, que está à frente de um dos multimercados mais antigos e respeitados pelo mercado, o país é um potencial destino com a redução do capital para outras economias emergentes.
Ele acredita que o PIB do Brasil pode surpreender marginalmente e ficar acima de 2%, mas que ainda assim, “o país sempre vai estar flertando com o abismo na parte fiscal”.
Questionado sobre o que esperar para 2024 em relação ao setor de gestão de recursos e multimercados, Stuhlberger pontua que é muito mais fácil lidar com o cenário econômico, ao contrário do cenário político ou geopolítico, que são mais difíceis de controlar.
“Outra coisa que você não controla, mas que vai ficar cada vez mais difícil, são desastres naturais. Com o ‘global warming’ [aquecimento global], a quantidade possível de desastres naturais aumenta”, acrescenta o gestor.
Stuhlberger sobre fluxo estrangeiro: “Brasil não tem grandes inimigos”
Perguntado pelo Valor sobre se perante outros emergentes, o Brasil pode ser beneficiado por fluxo estrangeiro, Stuhlberger acredita que o país possui um ‘tremendo benefício’ no geopolítico, e que não tem grandes inimigos.
“O Brasil é um grande beneficiado do fato de a China receber menos investimentos. Para aquela montanha de capital que vai para a China, se um pedacinho daquilo vier para cá já é muito. Eu acho que o país também vai se beneficiar de ter uma inflação mais baixa e juros mais baixos, um agrobusiness continuando bem”.
Sobre os riscos, o gestor da Verde Asset acredita que na parte fiscal o Brasil sempre estará ‘flertando com o abismo’, mas que esse problema deve se manifestar mais em 2025 e 2026.
“Eu ainda acho que 2024 é um ano em que o país vai estar relativamente OK. Alguma coisa desse pacote natalino que o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad aprovou, com algum entendimento com o Congresso, é possível melhorar um pouco a arrecadação. O governo tem uma carta na manga que não está sendo dita, mas que parte disso seria possível, que é reinstalar o Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre os combustíveis, que foi tirada no governo Bolsonaro”.
Taxa de juros pode chegar entre 8,5% e 9% ao fim de 2024, diz Stuhlberger
Sobre o tema da inflação, Stuhlberger pontuou que, se a taxa de juros terminar 2024 a 4% nos Estados Unidos, é difícil imaginar que aqui no Brasil tenha uma Selic que não seja de 4,5 a 5 pontos maior que os ‘Fed Funds‘.
“Do lado otimista, a gente poderia chegar a algo entre 8,5% e 9%. Se você imaginar que a nova taxa de juro real de equilíbrio nos Estados Unidos será maior do que a que se viu de 2008 até 2021, que em vez de ser 2,5%, seria alguma coisa como 3,5% a taxa neutra, temos que pensar aqui numa Selic de 8%, 8,5%, mas isso talvez em 2025, não em 2024″, avalia. “Isso claramente movimenta mais o mercado de capitais, todos os segmentos vão crescer e se beneficiar de um juro mais baixo”, acrescenta.
Já sobre o câmbio, o gestor pontua que seu fundamento é ‘maravilhosamente bom’, lembra que a balança comercial subiu de US$ 50 para US$ 100 bilhões em dois anos.
“Vai subir mais, vai ter [exportação do petróleo do] pré-sal. O déficit em conta corrente, se pegar o último trimestre, está praticamente zero, não vai ser zero, mas pode ser 0,5%. Essa é uma área em que o Brasil não para de crescer, em exportação de commodities de tudo que é tipo: petróleo, minério de ferro, carne, soja, milho, açúcar”, descreve.
“A balança comercial está boa, não porque o Brasil entrou numa crise e as importações desabaram. As importações estão normais. O que está indo bem são a exportação e o FDI [investimento estrangeiro direto]. É razoável para a bolsa, para projetos da economia real, infraestrutura, tem muito interesse em privatizações”, finaliza Stuhlberger.