Para a gestora Squadra, os últimos processos de IPOs de empresas na bolsa de valores foram baseados em informações falhas sobre as operações das companhias e incentivos diretos para a promoção das ofertas.
A Squadra participou de quatro ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), de um total de 60 que vieram a mercado em um ano e meio. Em carta aos cotistas, a gestora diz que em três delas, atuou como âncora – mas essas oportunidades foram exceções.
Diante disso, a gestora analisou que as informações entregues aos potenciais investidores não correspondem à totalidade dos serviços ou da forma como a companhia atua. O nível de conhecimento seria assimétrico ao dos proprietários das empresas que estão com o negócio à venda na bolsa de valores.
“Por definição, o dono conhece muito mais a companhia do que qualquer comprador, por mais educado que [este] possa estar”, escreve a equipe da Squadra em carta. Mas o ponto é que as informações entregues aos potenciais investidores são selecionadas e não necessariamente passam a mensagem certa.
Squadra alerta para níveis de informação em IPOs
“Números expressivos são apresentados sem que necessariamente tais clientes estejam sequer ativos. Em alguns casos, nos indagamos, até se tais usuários ‘pertencem’ de fato a determinada plataforma.”
A Squadra levanta a possibilidade de usuários de aplicativos utilizarem as plataformas simplesmente como um canal para acessar determinados serviços ou benefícios, mas não como clientes assíduos. “Estando sujeitos, portanto, à alta probabilidade de fuga quando diante de melhores oportunidades financeiras”, alerta em carta.
Geralmente, os processos de IPOs não levam mais de um mês e envolvem empresas, e até mesmo setores, que os potenciais investidores não conhecem previamente. Sendo assim, eles ficam reféns das informações que lhes são entregues.
“Como se não bastasse, os vendedores contratam os bancos de investimentos e oferecem-lhes suculentos incentivos para promover a oferta da melhor maneira possível (adivinhem para quem?). Ou seja, há uma assimetria muito grande de informações e incentivos entre compradores e vendedores no momento de um IPO.”
Comprando vendido
Na carta, a Squadra aborda os resultados do portfólio “short” (vendido), com contribuição fundamental para a estratégia long-biased. Seus exemplos são o grupo ressegurador IRB (IRBR3) – sobre o qual a gestora alertou no ano passado para uma contabilidade controversa, que levou a mudanças na gestão – e o grupo de educação Cogna (COGN3), pela atuação da controlada Vasta.
A gestora vê com ceticismo a narrativa de que aberturas de capital de subsidiárias gerariam valor substancial para a empresa controladora, cujas ações já são negociadas na bolsa. O exemplo mais emblemático, escreve em carta, foi o IPO da Vasta, que teve suas ações listadas na Nasdaq em julho de 2020.
Na ocasiação da oferta, a euforia do mercado gerou duas oportunidades para a estratégia de short da Squadra:
- Primeiro na Cogna, que viu suas ações se valorizarem no curto período que antecedeu a listagem da Vasta.
- Segunda na Vasta, que se beneficiou da euforia e foi precificada acima da sua principal concorrente, a Arco Educação, que vinha apresentando histórico excepcional desde a abertura de capital em 2018.
“Na ocasião aproveitamos o que julgávamos ser uma distorção entre preço e valor, aumentando nossa posição short em Cogna e abrimos posição short em Vasta.”
As operações, com ambas as ações caindo mais de 50% até o fim do primeiro semestre de 2021, deram grande contribuição a estratégia long-biased da Squadra, que fechou o período com valorização de 8,3%, depois de ganhos de 12,2% em 2020, com a desvalorização do IRB.