Por que o S&P 500 bateu recorde tantas vezes ao longo do ano?
O S&P 500 bateu recorde atrás de recorde neste ano, abastecido pela recuperação da economia dos Estados Unidos e pela sinalização do Federal Reserve (Fed) de início da retirada dos estímulos — mas sem a elevação da taxa de juros tão cedo.
Na quinta-feira (2), o índice marcou a 54ª máxima histórica apenas em 2021, um movimento alimentado pela bateria de resultados do segundo trimestre de 2021. Segundo último relatório da FactSet, das 91% das empresas listadas no S&P 500, 87% reportaram números de lucro por ação (LPA) e de receita acima da expectativa.
Para o terceiro trimestre, no entanto, dezenas de companhias emitiram guidances negativos. Além disso, o múltiplo de preço/lucro de 12 meses para o índice está em 21,1, de acordo com a FactSet. A relação está acima da média de cinco anos (18,2) e da de 10 anos (16,3).
Para Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos, além da economia a todo vapor, o múltiplo mais elevado pode ser explicado pelo posicionamento de Jerome Powell, presidente do Fed. O chairman admitiu a possibilidade do início da redução gradual dos estímulos monetários caso a economia americana siga crescendo, mas o dirigente adotou tom mais dovish.
O mercado recebeu bem a fala sobre os requisitos para um aumento da taxa de juros, diferentes daqueles utilizados para a diminuição do ritmo de compras de títulos. Na análise do presidente do banco central dos Estados Unidos, um aperto monetário prematuro neste momento poderia levar a um impacto “particularmente prejudicial”.
“No geral, a economia como um todo tem se saído muito bem e os juros na mínima estimulam a tomada de risco em Bolsa,” afirmou Luis Sales. A expectativa do analista é de que o S&P 500 continue o movimento positivo até o fim do ano, não obstante a redução dos estímulos.
S&P 500 vira o porto seguro do mundo
A carteira teórica do S&P 500 possui exposição relevante ao setor de tecnologia. Das 10 maiores posições do índice, oito são do segmento. E, embora os juros mais baixos sirvam para impulsionar o desempenho de ações como do setor de construção, eles são cruciais para papéis de tecnologia.
Ações de tecnologia, como Apple (AAPL34) e Facebook (FBOK34), são sensíveis a uma variação da taxa de juros nos Estados Unidos por causa do modelo de valuation do fluxo de caixa descontado, explicou Scott Hodgson, gestor de renda variável da Galapagos Capital.
É por meio desse modelo que especialistas trazem o fluxo de caixa futuro para valor presente. Para isso, é necessário aplicar uma taxa de desconto, cujo valor aumentaria com uma possível elevação da taxa de juros. Com a política acomodatícia do Fed, growth stocks tiveram o campo inteiro para correr.
Scott Hodgson destacou ainda o papel de incertezas envolvendo países emergentes. No Brasil, os ruídos de Brasília não tiveram fim, enquanto, na China, Pequim tem fechado o cerco às gigantes Alibaba (BABA34) e Tencent, além diversas outras empresas.
“O investidor internacional pode escolher onde alocar capital. Com tanto barulho em mercados emergentes, preferem estar nos Estados Unidos. Incertezas e volatilidade estão movendo investidores aos EUA,” disse o gestor. “O S&P 500 virou o porto seguro do mundo. Não só os EUA, mas particularmente as mega caps.”
Scott Hodgson disse estar otimista em relação aos próximos meses. Segundo o especialista, depois de recordes sucessivos, historicamente o índice continuou a fechar mais alto nos meses seguintes, mas tudo dependerá da uma rali, ou pelo menos de uma estabilidade, por parte das empresas de tecnologia dos Estados Unidos.
O gestor também acredita que, ao dizer qual o ritmo de e quando começará a retirada dos estímulos, o Fed vai retirar um peso das costas de Wall Street e abrir caminho para mais performances positivas.
Bolsas de NY dependerão do cenário de reequilíbrio
A política expansionista de estímulos monetários e fiscais, adotada nos Estados Unidos, serviu para conter os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Neste momento, tem objetivo de sustentar a retomada da economia do país.
Na visão de Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, existe um movimento de reequilíbrio nos mercados financeiros. A injeção de capital e liquidez alavancou o fluxo de investimentos em Bolsa — produzindo o ritmo de máximas históricas e resultados acima do estados —, porém investidores tornam agora ao Fed, à redução dos estímulos e às projeções da recuperação da economia nos EUA.
Para final do ano, o S&P 500 dependerá “muito desse cenário de reequilíbrio entre estímulos, recuperação, vacinação e juros baixos até 2022 e 2023.
(Com Estadão Conteúdo)