SoftBank: política de campeãs explica aportes bilionários

O aporte de US$ 100 milhões (cerca de R$ 410 milhões) do SoftBank na plataforma brasileira de artigos domésticos MadeiraMadeira, anunciado na última terça-feira (18), foi a mais recente investida do fundo de investimento japonês no Brasil. A operação deixou muita gente curiosa em relação aos reais objetivos da gigante.

Mas, afinal, qual é a estratégia do SoftBank com todos esses aportes bilionários em startups? Especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias enxergam os investimentos em empresas estratégicas como parte de uma grande política de criação de campeãs regionais do conglomerado oriental. O objetivo é que essas empresas possam liderar seus mercados de atuação em toda a região.

“O SoftBank está tentando construir campeões na América Latina. A questão da Rappi, no B2C, e também na Loggy, no B2B, mostra bem isso. O fundo está tentando colocar capital nessas empresas para se tornarem grandes e liderarem mercados”, analisa Bruno Diniz, diretor da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), “Ambas começaram locais, mas logo vão para a maioria dos países”.

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Além da colombiana Rappi e da brasileira Loggy, ambas de entregas, a empresa possui diversos aportes no histórico recente em empresas da região.

O novo investimento na MadeiraMadeira foi realizado pelo SoftBank Latin America Fund, a divisão regional do fundo de investimentos que tem cerca de US$ 5 bilhões em custódia. Esse é apenas mais um dentro do variado plano da corporação japonesa.

A lista de investimentos do fundo na região conta com:

-Rappi – US$ 2 bilhões – liderado pelo SoftBank
-Gympass – US$ 300 milhões USD – liderado pelo SoftBank
-Creditas – US$ 231 milhões – liderado pelo SoftBank
-Loggi – US$ 150 milhões – liderado pelo SoftBank
-QuintoAndar – US$ 250 milhões – liderado por SoftBank
-Banco Inter – US$ 330 milhões
-Clip – US$ 100 milhões
-MadeiraMadeira – US$ 110 milhões – liderado pelo SoftBank
-Volanty – US$ 17,6 milhões – liderado por Kaszek e SoftBank

“O fundo está investindo naquelas empresas que acredita que podem dar um bom retorno, obviamente. Mas, mais do que isso: o SoftBank também pensa em companhias que possam ter operação em diversos países da região, que conheçam a cultura local e que se adaptem rapidamente em todos eles”, afirma ao SUNO Notícias uma fonte do setor de venture capital.

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Para Bruno Diniz, da Abstartups, esses aportes mostram que o fundo vê oportunidades na América Latina como um todo.

“O SoftBank conseguiu, com esse movimento na região, consolidar a ideia que existem oportunidades por aqui e que não estavam sendo devidamente exploradas. A gente tinha, durante muito tempo, uma necessidade de fundos que fizessem aportes maiores. Durante esse tempo vários fundos surgiram, mas ainda faltavam os grandes cheques para algumas expansões mais agressivas”, explicou Diniz.

Empresas como a Grow, holding da brasileira Yellow e da mexicana Grin, de bicicletas e patinetes elétricos compartilhados, a Loft, que comercializa imóveis pela internet, e a fintech Nubank já foram mencionadas como as próximas agraciadas por algum aporte do fundo do SoftBank.

Softbank inflaciona os preços

Apesar da excitação de agentes do mercado com a enxurrada de dinheiro da SoftBank no setor de venture capital brasileiro, a companhia não escapa das críticas. Operadores do mercado afirmam que o fundo vem aportando dinheiro demais no setor e, geralmente, paga mais do que as empresas realmente valem.

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Dessa forma, dizem, o SoftBank estaria inflacionando os preços do mercado de startups como um todo.

“Essa estratégia de longo prazo faz com que o dinheiro investido no momento não seja tão contado. Se o SoftBank pensa em lucrar bilhões, alguns milhões a mais talvez não façam sentido. Mas, para o mercado, gera uma distorção importante, inflacionando todos os outros preços”, diz uma fonte de um fundo de investimentos de venture capital.

Segundo Diniz, contudo, as críticas levam em consideração uma base mais sólida, como os EUA, por exemplo.

“Se fosse nos EUA, você pagar mais em uma empresa gera um processo semelhante a esse [inflacionário]. Mas, por aqui, ainda há muita margem para crescimento, então eu tento ver isso pelo lado positivo”, diz o diretor da Abstartups.

Fundo investe pelo mundo

A América Latina não é a única região que o SoftBank vem dando o que falar. Só neste segundo semestre, o fundo de investimentos japonês investiu US$ 10 milhões na sueca Exeger Sweden AB, de energia solar; US$ 200 milhões na americana Cybereason, de proteção a ataques cibernéticos, além de US$ 250 milhões na indiana Ola Eletric, de carros elétricos.

Com esses invetimentos o SoftBank busca retornos financeiros maiores no longo prazo. Mas, nem tudo são flores. Dois desses grandes aportes do fundo que, agora, dão dor de cabeça aos investidores são Uber e WeWork.

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Na Uber, o fundo comprou quase 20% antes do IPO da empresa por US$ 2,2 bilhões. Se a expectativa era de captar até US$ 120 bilhões com o IPO, a oferta de ações acabou sendo avaliada em US$ 82 bilhões pelo mercado.

Já no WeWork, o investimento foi de US$ 2 bilhões. Mas isso enquanto a base de avaliação da empresa era de US$ 47 bilhões. O IPO da companhia, contudo, foi adiado (a pedido do próprio SoftBank) com a expectativa de levantar entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões na oferta -valor bem abaixo do inicial.

Assim, caso o SoftBank queira bons resultados em seus investimentos, vai ter que esperar por mais um tempo.

Vinicius Pereira

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