Que os novos nomes chineses como Shopee e Aliexpress vem roubando a cena no segmento de e-commerce todo mundo já sabe. Mas agora chama a atenção a Shein, empresa de moda feminina, que começou a agitar o status quo do setor de vestuário.
Para se ter uma base de comparação, o aplicativo da Shein foi a plataforma de moda mais baixada entre os brasileiros em 2021, segundo dados divulgados pelo banco Goldman Sachs.
A companhia chinesa teve três vezes mais downloads do que as Lojas Renner (LREN3), ficando na frente também de empresas como C&A (CEAB3), Marisa (AMAR3) e Arezzo (ARZZ3). No ano passado, o aplicativo acumulou 23,8 milhões de downloads no Brasil, bem à frente dos líderes locais.
A Shein está posicionada com um player de fast fashion, embora tenha se destacado como ainda mais rápido do que os principais pares do setor (como Zara e H&M) com seu tempo de produção estimado entre 3 e 7 dias (vs. 21 dias de outros players) e com cerca de 500 lançamentos por dia.
“A Shein está ganhando escala rapidamente no Brasil, embora ainda esteja em uma operação de comércio eletrônico transfronteiriço puro”, analisou o relatório do Goldman Sachs.
Atualmente, a Shein exporta para mais de 220 países, tendo apenas a China como sua base de produção, já que seu preço baixo não é um diferencial entre concorrentes locais chineses.
A empresa tem sido um grande sucesso, especialmente entre os consumidores da Geração Z, devido à sua natureza digital, forte presença no TikTok bem como sua atuação ativa com digital influencers e preços muito acessíveis.
“A Shein trabalha com mais de 5 mil fábricas, o que cria um ambiente bastante competitivo entre seus fornecedores, favorecendo assim seu poder de barganha. Além disso, como sua produção é baseada na China, ela também se beneficia de mão de obra barata, o que contribui ainda mais para sua competitividade”, analisou o relatório da XP.
Os analistas destacam que a empresa chinesa trabalha fortemente com análise de dados, com um algoritmo proprietário que mapeia os interesses e preferências de moda dos consumidores na internet, além de um conjunto enorme de dados do comportamento dos usuários em sua plataforma.
Ainda que a companhia esteja ganhando escala no Brasil, os especialistas apontam que agora ela não é um risco direto para grandes players da moda no País, mas sim para os pequenos.
“Portanto, embora reconheçamos os riscos que esse modelo de negócios disruptivo pode representar para participação e a lucratividade das incumbentes, não vemos um risco imediato significativo para Lojas Renner e Arezzo. Acreditamos que a Shein está interrompendo as rendes de varejo menores”, escreveu o Goldman Sachs.
A XP, por sua vez, reconhece também que a Shein precisa ser monitorada de perto, mas ainda vê alguns desafios para que ela ganhe escala o suficiente e se torne uma ameaça aos grandes players. Veja os desafios:
- Seu longo tempo de entrega, variando em média entre 30-45 dias;
- Logística reversa, na qual cabe ao cliente arcar com os custos da devolução e a responsabilidade levar o item aos Correios
- Falta de experiência multicanal.
Outro ponto analisado é que a empresa de fast fashion não é sustentável, embora produza lotes menores.
“Este é um elo fraco do modelo de negócios da Shein mas, embora a empresa tenha um nível muito alto de lançamentos, eles geralmente fazem isso por meio de lotes menores (50-100 peças), o que minimiza grandes perdas. No entanto, essa é uma questão ESG inerente à indústria da fast fashion devido ao alto uso de solo/água e produção de resíduos.”
“Além disso, a baixa visibilidade da estrutura de sua cadeia de suprimentos também é um ponto de atenção, principalmente no que diz respeito às condições de trabalho”, concluiu a XP.