O investimento da Shein no Brasil após a polêmica em torno da taxação das importações coloca três pedras no caminho das varejistas de moda como Lojas Renner (LREN3) e C&A (CEAB3), na visão dos especialistas do Santander. Em relatório divulgado nesta segunda (24), os profissionais do banco reforçam que é difícil ter uma compreensão clara desses impactos no longo prazo, mas que o cenário à vista não será nada fácil.
“Caso a Shein importe com sucesso seu modelo de produção de pequenos lotes ultrarrápidos com fornecedores brasileiros nos próximos anos, os principais players de moda podem precisar reavaliar suas estratégias de cadeia de suprimentos”, argumentam os analistas do Santander Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo.
Na visão do trio, o investimento da Shein no Brasil pode fazer com que as varejistas enfrentem
- necessidade de maiores investimentos em parcerias com fornecedores novos e existentes;
- adoção acelerada do e-commerce em todo o segmento;
- riscos de rentabilidade, uma vez que a concorrência por mão de obra qualificada deve aumentar, aliada à pressão de preços;
Em nossa opinião, o compromisso do significativo investimento da Shein no Brasil pode ser um reconhecimento da empresa de que as vendas atuais e o posicionamento competitivo estão em risco devido ao futuro aumento da supervisão do governo.
“O momento levanta questões sobre as razões por trás dessas ações. Concordamos que a incursão da Shein em produzir localmente no Brasil pode levá-la a encontrar vários gargalos de produção, limitando concorrentes à medida em que a eficiência internacional pode ser replicada no Brasil. No entanto, acreditamos que os investimentos da Shein têm um significado inegável para a indústria, que tem muito a aprender com a altamente eficiente cadeia de suprimentos chinesa”, ressaltam.
Guerra contra varejistas nacionais
Após uma reunião às pressas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a Shein anunciou um plano para criar 100 mil empregos no País em três anos, por meio de parcerias com duas mil fábricas brasileiras e um investimento inicial de R$ 750 milhões.
“A chave para nossa estratégia de crescimento é alavancar nossa escala global e excelência operacional para apoiar e contribuir para as economias e ecossistemas locais. emos visto grande sucesso no Brasil desde nosso lançamento em 2020 e, com a crescente demanda dos consumidores, vimos a oportunidade de localizar mais a nossa cadeia de fornecimento para beneficiar os consumidores, as pequenas empresas e a economia em geral”, disse Marcelo Claure, chairman da Shein para a América Latina, em comunicado à imprensa na semana passada.
Com esse investimento, a varejista asiática espera que 85% da sua produção seja nacional até 2026. Segundo os analistas do Santander, os dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) apontam que o setor empregava 1,3 milhão de trabalhadores formais em 2022, com cerca de 22,5 mil fábricas.
“Como referência, em 2022, a Lojas Renner contou com cerca de 1,4 mil fornecedores locais para adquirir seus produtos, enquanto a C&A contou com 794 fornecedores locais”, comentam os analistas ao apontarem que esse projeto da Shein pode ser mais forte do que a atual estratégia das varejistas nacionais.
Com esse cenário duvidoso pela frente sobre o investimento da Shein no Brasil, o Santander trabalha com recomendação outperform (equivalente à compra) para as ações da Lojas Renner, com o preço-alvo de R$ 30. Os papéis da C&A têm recomendação neutra, ao preço-alvo de R$ 2,40.