Com as notícias de vacinas e um possível fim da pandemia, as bolsas mundo afora foram tomadas pelo otimismo. S&P 500, Dow Jones Industrial e Nasdaq parecem ter espantado a crise, ultrapassarando, recentemente, suas máximas históricas. O brasileiro Ibovespa não fica muito atrás, estando, até nesta sexta (11), cerca de 3% atrás do patamar de antes do surgimento da Covid-19. Em dólar, porém, há um desconto maior, principalmente em alguns setores da bolsa.
Além da vacina, a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos também anima. Há a perspectiva de que o democrata terá um tom menos belicoso do que Donald Trump em relação à China, o que empolga os investidores globais.
De acordo com Leonardo Weller, professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, quando o fim da crise surge no horizonte, momento em que provavelmente estamos agora por conta das notícias sobre a vacina, o otimismo aparece. “Quando expectativas ruins dão lugar às boas, as pessoas se sentem mais confortáveis para consumir e as empresas para investir, o que gera crescimento econômico”, afirma.
A partir desse momento, o otimismo pode fazer a economia pode superar a crise e deslanchar, caso as expectativas se cumpram, ou, caso não, fazê-la afundar de vez. “Os investimentos em período de otimismo pós-crise podem, por si só, mover a economia. São o que chamamos de “profecias autorrealizáveis”, diz Weller.
Fim da crise ou agravo
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o mundo viveu, após a crise, um período de boom econômico. Na Gripe Espanhola, a mesma coisa. “A doença durou dois anos e matou muita gente, mas, quando passou, a economia logo se recuperou”, afirma.
Na outra ponta, a Grande Depressão, que aconteceu na sequência ao crash da bolsa em 1929, é um exemplo de burst. “Em 1932, a economia estava muito pior do que em 29. Era o efeito das expectativas otimistas se frustrando”, afirma o professor da FGV.
Weller, com isso, recomenda cautela. No Brasil, as questões políticas rondando à vacina, o que pode atrasar a campanha de imunização, e o problema fiscal ainda em aberto, são sombras no desenvolvimento do país, que ficar de fora da onda do boom pós-crise.
Guilherme Motta, gestor de renda variável da GAP Asset Management, vai no mesmo caminho, afirmando que, agora, está tomando opções mais cautelosas. “Por enquanto, o mercado e a realidade econômica estão muito distintos. Há um excesso de liquidez no mundo e ainda há risco”, afirma.
Apesar dos dois cenários possíveis, alguns investimentos parecem mais certos no cenário pós-crise e, no último mês, houve já um movimento de carteiras para a chamada “economia real”.
Confira os setores da bolsa que mais podem se beneficiar no contexto pós-crise:
1. Petróleo e Gás: um boom precisa de energia
Um dos setores da bolsa que deve se benficiar com uma recuperação econômica é o de petróleo e gás, que reflete o cenário internacional.
O preço do petróleo Brent ainda está descontado em relação ao patamar que possuía em fevereiro, antes de a crise se instaurar. As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) ainda acumulam queda de quase 10% no ano.
Caso o boom do pós-crise se materialize, é de se esperar que a demanda por energia cresça, uma vez que ela é a base de toda produção.
2. Shoppings: preços descontados, vacinação no radar
O setor de shoppings é outro setor da bolsa que deve melhorar no contexto pós-crise.
Em relatório divulgado nesta sexta-feira (11), o BTG Pactual destacou que os shoppings ainda estão muito descontados em relação aos níveis pré-pandemia. Ações ordinárias do Iguatemi (IGTA3), por exemplo, estão com seus valores quase 30% mais baratos do que em fevereiro, e a companhia foi a que mais se recuperou no setor.
Para os analistas do banco, mesmo com a crise da covid-19, as ações do setor estão baratas de forma excessiva, uma vez que a vacância cresceu apenas 2,2%, menos do que o esperado, e que as vendas vêm aumentando semanalmente.
Apesar disso, o setor está fortemente atrelado ao desenrolar da campanha de vacinação no país, que vem passando por entraves políticos para acontecer.
3. Bancos: movimentação recente mostra investidores indo para o setor
Além de petróleo e shoppings, o setor financeiro está entre os setores da bolsa que devem ficar mais positivos.
Como parte da movimentação dos recursos se direcionando para a “economia real”, analistas apontam que os bancos vêm recebendo aportes consideráveis. O Safra, em relatório, apontou que a rotação de portfólios para esse setor foi forte em novembro.
Ações do mercado financeira ainda estão, majoritariamente, descontadas. O Itaú (ITUB4), por exemplo, tem suas ações preferenciais cerca de 17% mais baratas em relação ao começo do ano.
O Bradesco BBI, em relatório, afirmou que os bancos brasileiros estão saindo da crise “em boa forma”, com “impulso dos ganhos aumentando” e “bem provisionados para o futuro” (com uma taxa de inadimplência prevista para 4% em 2021).
A BlackRock afirmou que vê os bancos brasileiros em um cenário favorável no futuro por conta da curva mais longa de juros ainda alta.
Em um cenário mais pessimista, porém, um burst pode causar problemas e aumentar a inadimplência, afetando a rentabilidade dos bancos. A Fitch, por exemplo, vê os bancos da América Latina ainda pressionados em 2021, com lucratividade baixa em relação às tendências históricas e com o risco de uma nova onda aumentar a crise.
4. Mineração e siderurgia entre os setores da bolsa favorecidos
No cenário de recuperação após crise da Covid, o setor de mineração e siderurgia, que não depende do mercado interno, deve ser um dos mais beneficiados.
Os contratos de minério futuro vêm em uma tendência de alta desde o final de outubro, com cinco semanas consecutivas de avanço. Nesta sexta (11), a commodity avançou cerca de 2,27% na China, fechando a US$ 160,13.
O Goldman Sachs elevou a projeção do preço de minério de US$ 90 para US$ 120 em 2021. Já a Jefferies diz que o preço deve se manter acima dos US$ 150 no próximo ano.
A China, principal importadora do produto, está com seu setor industrial aquecido. Em novembro, as exportações do país tiveram seu maior avanço em quase três anos. Houve uma desestocagem da commodity e a produção mundial ainda está em um nível mais baixo do que antes da pandemia.
5. Saneamento e energia elétrica: setores da bolsa que dão proteção
Para quem quer optar por segurança, Guilherme Motta, gestor da GAP, indica que os setores da bolsa ligados a saneamento e energia são boas opções.
A maioria das ações de ambos os setores ainda estão descontadas. A CPFL (CPFE3), do setor de energia, por exemplo, está quase 20% mais barata do que no período pré-crise. A Sabesp (SBSP3), de saneamento, beira os 30% de desconto.
Para o gestor, essas ações ainda oferecem segurança. “A previsibilidade é alta e os papéis, geralmente, corrigem os descontos da inflação”, afirma.
Além disso, caso o boom vier, e o Brasil realmente superar a crise, as companhias destes setores da bolsa devem surfar na movimentação.