Aos poucos, o Brasil vai tentando tirar o atraso em comparação ao resto do mundo com a ascensão do setor de tecnologia. Com a taxa de juros abaixo da média histórica e em processo de digitalização da economia, o segmento terá um crescimento exponencial nos próximos 5 anos, segundo a Pipeline Capital.
A consultoria é uma “boutique” focada especificamente no setor de tecnologia, auxiliando no processo de fusões e aquisições, abertura de capital e continuidade no crescimento inorgânico de empresas do segmento — sejam elas scale-up, ou seja, novas e de crescimento muito acelerado, ou já consolidadas no mercado.
“Certamente existe um limite para os negócios no setor, mas ainda estamos longe desse esgotamento”, disse Alon Sochaczewski, CEO da Pipeline Capital, em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias. Ele entende que o perfil do brasileiro médio ainda está longe do “topo” do que o setor pode entregar.
“Foi a pandemia que impulsionou o digital para o principal canal de acesso ao consumo. As pessoas foram inseridas no mundo digital muito rápido, mas esse processo ainda está no início”, afirma.
Segundo o executivo, que já passou pela BM&F (enquanto ainda não era B3) e pelo banco Safra, a tecnologia é o motor da transformação digital. “Enquanto a economia real padece em meio às dificuldades trazidas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o ‘PIB’ da economia digital está voando.”
Surgimento de empresas do setor de tecnologia
A Pipeline Capital possui duas operações distintas. A primeira, chamada sell side, refere-se à representação das companhias que serão vendidas ou estão no mercado para captarem rodadas de investimento. Hoje, o patrimônio líquido das empresas que compõem a carteira da consultoria neste segmento é de R$ 2,5 bilhões — quase três vezes maior do que no início do ano passado.
O outro negócio é o buy side. Neste caso, a consultoria atua com empresas que estão buscando crescer de forma inorgânica, comprando outros players menores. Segundo Sochaczewski, boa parte dessas empresas já são listadas em Bolsa, e precisam alocar o capital levantado no mercado — como no caso da Locaweb (LWSA3), que realizou um follow-on recentemente.
Depois de sete anos de estrada, a empresa passou a atuar fora na Europa, México e Estados Unidos, levando as empresas para expandirem seus horizontes. Contudo, o espaço no Brasil ainda é pouco explorado, para o executivo.
“Ao menos pelos próximos cinco anos, o crescimento de fusões e aquisições no setor de tecnologia vai crescer cada vez mais no Brasil. Estamos passando por uma correnteza de capital, seja pelas pessoas físicas aplicando o dinheiro na Bolsa ou de capital estrangeiro que vem vindo — ao menos por meio de venture capital.”
Bancarização é o símbolo da transformação digital
Na entrevista concedida ao SUNO Notícias, o CEO da consultoria relembrou que o processo de transformação digital no País foi instaurado em meados da década passada. Quem deu o ponta pé foram as fintechs.
“Pelas características do Brasil, onde a maior parte da população ainda é desbancarizada, quem deu início a essa mudança foram as fintechs. A aceleração dessas companhias é forte como nunca antes” diz. “Estamos vendo até empresas de delivery, como a Rappi, podendo prestar serviços bancários. Isso ajudou na transformação.”
Essa semana foi marcante para o Banco Inter (BIDI11). A instituição de Minas Gerais atingiu a marca de 10 milhões de clientes, dobrando o número de um ano para outro. O Nubank já possui 35 milhões de usuários — mais do que o Santander (SANB11), um dos grandes tradicionais do País.
Segundo o estudo “Aceleração da inclusão financeira durante a pandemia da Covid-19”, realizado pela Americas Market Intelligence em parceria com a Mastercard, porém, o número de desbancarizados no Brasil caiu 73% durante a pandemia, movimento impulsionado pelo auxílio emergencial.
“É impressionante a mudança causada pela digitalização nos últimos talvez três anos”, comenta Sochaczewski.
Diversificação tecnológica
No Brasil, muitas empresas ditas de tecnologia ainda tem sua imagem ligada ao e-commerce, como a Westwing (WEST3) ou Mobly (MBLY3), que recentemente realizaram suas ofertas públicas inicias de ações (IPO, na sigla em inglês). Para a Pipeline, todavia, o horizonte do setor não demorará para ser ampliado.
“Temos 35 vertentes do setor de tecnologia sendo mapeadas”, diz o executivo. Segundo ele, as empresas disruptivas passam por esportes, finanças, benefícios, saúde, entre outros.
O setor de saúde, inclusive, é um dos focos dos novos empreendedores. Com a escassa qualidade de saúde no setor público, companhias privadas têm desenvolvido projetos inovadores que trazem soluções práticas aos clientes.
Os grupos Fleury (FLRY3) e Sabin, grandes nomes da medicina diagnóstica, criaram em novembro do ano passado a Kortex Ventures, um fundo de investimentos em startups, já nascendo com R$ 200 milhões no bolso para ir às compras.
“Logo mais as ‘healthtechs’ irão explodir no mercado. A quantidade de empresas que surgiram nos últimos três anos deste segmento é impressionante. Para o sucesso no setor de tecnologia, somente é necessário um amadurecimento e melhor entendimento com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).”