Nesta terça-feira (26), o Banco Central divulgou a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), na qual decidiu reduzir a taxa Selic de 11,25% para 10,75%. Na visão da XP, o documento enfatiza o aumento das incertezas na conjuntura econômica internacional e doméstica.
Sobre o cenário doméstico, segundo a XP, o Copom reforçou sua percepção de um cenário caracterizado pela resiliência da atividade econômica, embora não tenha observado mudança substancial na perspectiva de crescimento.
“A autoridade monetária está mais preocupada com os possíveis efeitos do mercado de trabalho apertado – particularmente a expansão da renda real – sobre a dinâmica da inflação de serviços”, explica a Research.
Quanto à inflação de curto prazo, a ata reforçou que o atual processo de desinflação tem sido liderado pela dinâmica favorável dos bens industrializados. “Por outro lado, o Comitê destacou a “recorrência” de surpresas na inflação de serviços e seus componentes subjacentes, afirmando que a intensificação do processo desinflacionário – a chamada segunda etapa – estará mais relacionada ao cenário do mercado de trabalho e da demanda agregada”, diz a XP
Para a XP, a ata do Copom reforçou o viés de alta para a projeção da Selic em 9,00% até o final de 2024. “Além disso, o cenário de desaceleração no ritmo de corte da taxa básica de juros a partir de junho (para 0,25 p.p.) ganhou maior probabilidade no período recente.”
Selic: não há sinalização de redução no ritmo de corte em junho, diz economista da Warren
Na discussão sobre a condução da política monetária, o Comitê notou a resiliência na atividade econômica com dinamismo no mercado de trabalho, mas aponta que o cenário-base de inflação e atividade não divergiu substancialmente do previsto, avalia Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos.
“Assim, esse aumento da incerteza prescreve cautela na condução da política monetária. Cabe notar que, em janeiro, ressaltava-se apenas a incerteza no cenário internacional e, na ata de março, foi excluído o parágrafo que abordava que o cenário doméstico vinha se encaminhando conforme o esperado”, explica o economista da Warren.
Sobre a sinalização dos futuros passos da política monetária, a avaliação do Comitê é de que o uso da indicação de redução da Selic na mesma magnitude para as reuniões subsequentes cumpriu seu papel de coordenar as expectativas, aumentar a potência da política monetária e reduzir a volatilidade.
No entanto, conforme relata Goldenstein, a decisão agora foi por se ganhar flexibilidade e evitar os riscos de perda de credibilidade futura da comunicação e volatilidade excessiva, em função das incertezas do cenário. “Um aspecto relevante é que o Copom reforça de que a mudança da prescrição futura não indica uma alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base. Interpretamos que não há uma sinalização de que o ritmo será reduzido para uma queda de 25 bps a partir da reunião de junho, a não ser que haja surpresas com relação ao cenário esperado.”
Além disso, o Comitê se revela ainda mais data dependent, ao avaliar que que as informações trazidas por atualizações dos conjuntos de dados analisados serão particularmente importantes para definir o ritmo e a taxa terminal de juros.
“A ala mais hawkish (alguns membros, não a maioria), por fim, argumenta, que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, independentemente da taxa terminal. Mesmo aqui, percebe-se que não há ainda discussão sobre o encerramento do ciclo e sim sobre o ritmo de ajuste”, conclui Goldenstein.
BC buscou maior flexibilidade ao mudar orientação de juros, diz Ata do Copom
Na ata do Copom divulgada nesta terça-feira (26), o Banco Central (BC) afirmou, em relação à decisão de redução da Selic de 11,25% para 10,75%, que as maiores incertezas do cenário levaram a autarquia a julgar apropriado ter maior flexibilidade na condução da política monetária. Assim, o grupo decidiu mudar sua orientação e antecipar uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa de juros apenas para a próxima reunião.
Para o BC, ainda que a comunicação já contivesse uma condicionalidade embutida, avaliou-se que não trazia a flexibilidade requerida. “Além disso, argumentou-se que uma retirada tardia, possivelmente vista como uma promessa não cumprida, deveria ser evitada porque poderia ter impacto sobre a credibilidade futura da comunicação e provocar volatilidade excessiva”, explica o grupo na Ata do Copom divulgada nesta terça.
Após todos os argumentos, o Copom unanimemente concluiu que o cenário mais incerto reduzia o benefício da sinalização futura e elevava seus custos. Assim, tal avaliação levou o Comitê a comunicar que antecipava uma redução de mesma magnitude na próxima reunião, reforçando que a alteração na comunicação se dava por uma mudança na incerteza e não no cenário-base.
“Tal alteração reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária. Por fim, reforçou-se que seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base”, pontuam os membros do Copom no documento.
A decisão sobre a redução da Selic tomada na semana passada – que foi unânime – não surpreendeu o mercado. Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira votaram pelo corte de 0,5 p.p na taxa Selic, em linha com a orientação anterior e com a expectativa dos investidores em relação ao ritmo de ajustes dos juros no Brasil.
O último Boletim Focus, divulgado nesta terça-feira (26), trouxe estimativas que apontam para uma Selic a 9,00% no final do ano.
Selic em 9%: confira as novas projeções do Boletim Focus
Segundo Relatório de Mercado Focus divulgado pelo Banco Central as expectativas para a taxa Selic permanece em 9,00% até o final deste ano.
De acordo com a pesquisa, para 2025, a torcida do mercado é de que a taxa Selic consiga chegar ao patamar de 8,50% e que mantenha o mesmo valor em 2026.