Com Selic em queda, setor de varejo vai melhorar nos próximos meses?
Considerado um dos setores mais sensíveis às mudanças na taxa de juros (Selic), o varejo encerrou a temporada de balanços do 4T23 impactado negativamente pela pressão sobre o consumo das famílias. Por outro lado, o segmento tem perspectivas de melhora ao longo do ano de 2024, com alguns especialistas projetando que as varejistas terão um desempenho superior ao do Ibovespa.
De um modo geral, analistas concordam que o ano começou pior do que o esperado para as ações brasileiras. As perspectivas de cortes nas taxas de juros dos EUA não melhoraram, ao passo que uma pressão maior na inflação do Brasil pode levar o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo dos cortes na Taxa Selic.
A última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que foi unânime e amplamente aguardada pelo mercado, reduziu a taxa básica de juros brasileira caiu para 10,75%, com o grupo indicando “elevação da incerteza e necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”.
No caso do varejo, os balanços das empresas do setor mostraram que os gastos do consumidor estiveram sob pressão no 4T23, carregando o peso de um cenário de consumo ainda adverso, segundo avaliação do BTG Pactual.
Para o banco, é preciso considerar a dinâmica do segmento de varejo, que ainda é ditado pelo fluxo de notícias políticas/econômicas. Apesar dos sinais de melhoria, os investidores ainda evitam elevar muito as suas posições.
Além disso, o BTG acredita que após a redução das estimativas de lucro no final do ano passado, em resposta a uma perspectiva de taxas de juros mais elevadas, há pouco espaço para revisões altistas neste início de 2024.
O Suno Notícias reuniu as perspectivas para as principais varejistas no radar dos investidores para este ano. Confira:
Mercado Livre (MELI34) é ‘vencedor’ no segmento de e-commerce, diz BTG
Considerada a maior empresa de comércio online do Brasil, o Mercado Livre (MELI34) é uma das varejistas mais bem vistas pelos investidores, sobretudo após anunciar que vai investir R$ 23 bilhões no Brasil em 2024, número 21% maior em relação ao ano anterior, e pouco mais do que o dobro do investimento realizado em 2021.
A companhia quer ampliar a área de logística, segmento no qual as plataformas rivais estrangeiras, como Amazon e Shopee, vêm aumentando gastos nos últimos anos, mas também deseja competir com grandes varejistas locais, como Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo.
No caso do e-commerce brasileiro, a perspectiva do mercado é de crescimento secular nos próximos anos, com GMV (sigla em inglês para volume bruto de mercadorias) muito superior aos níveis pré-pandemia, ainda que um custo de financiamento mais elevado impeça a maioria dos players de manter os ritmos de crescimento dos últimos anos, abrindo caminho para uma maior consolidação. “Continuamos vendo o MELI como vencedor nos segmentos de e-commerce e pagamentos na América Latina”, escreve o BTG Pactual.
BTG: Lojas Renner (LREN3) está bem posicionada para ganhar participação de mercado
Uma outra varejista que também tem sido acompanhada de perto pelo mercado é a Lojas Renner (LREN3). Apesar da desaceleração nas vendas nos últimos trimestres devido a uma base forte de comparação e uma perspectiva mais desafiadora para o consumo discricionário, a empresa ainda é bem vista por analistas, visando um ganho de participação de mercado no setor de vestuário.
“Além de uma melhoria gradual na rentabilidade e na posição de caixa líquido, vemos o negócio de financiamento ao consumidor da LREN como um beneficiário de potenciais cortes nas taxas de juros. As preocupações estruturais dependem da concorrência de players puramente digitais como a Shein – apesar da crescente discussão sobre a tributação das plataformas internacionais – e dos números da Realize”, destacam os analistas do BTG.
Na última terça-feira (2), inclusive, as ações da Renner dispararam mais de 4%, impulsionadas pela revisão na orientação e metas de preço pelo Bank of America (BofA). Para a casa, a varejista demonstrou avanços significativos em gestão de crédito, rentabilidade e adesão ao programa de subscrição, além de um aumento no caixa, conforme relatado no último balanço referente ao 4T23.
Grupo Soma (SOMA3): Itaú BBA vê melhora em tendências de rentabilidade
Após ter a ação penalizada em 2023 sobretudo por questões fiscais, o Itaú BBA passou a ter uma visão construtiva em relação ao Grupo Soma (SOMA3) para o ano de 2024. O banco enxerga uma melhoria nas tendências de lucratividade da companhia, que devem crescer ao longo do ano.
“Nossa visão construtiva com a evolução da rentabilidade em 2024 é impulsionada pela evolução do projeto de eficiência na fábrica da Hering, ganhos de eficiência (advindos de cortes de despesas realizados no último trimestre de 2023), e normalização da rentabilidade da Farm Global”, avalia o banco.
O banco também enxerga um grande potencial de valorização na tese com o reconhecimento de sinergias vindo da fusão com a Arezzo (ARZZ3), especialmente na geração de receitas adicionais pela exploração de calçados e acessórios das marcas do Grupo Soma. “Esperamos mais granularidade no potencial de geração de valor vindo das sinergias durante os próximos meses”, pontua o Itaú BBA.
Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) ainda são motivo de atenção, diz BB-BI
Dentro das companhias do universo de cobertura do BB Investimentos, a casa observou que no mês de março – período em que a temporada de balanços do 4T23 foi encerrada – a Casas Bahia (BHIA3) viu seu papel despencar, refletindo os resultados abaixo das estimativas do mercado.
As ações da Casas Bahia fecharam o mês de março em queda de 25%, sendo o segundo principal destaque de baixa do Ibovespa. Assim, os papéis reverteram a valorização de 14,58% registrada em fevereiro.
Após um ano de 2023 difícil, a Casas Bahia continua em contexto desafiador, segundo diversos analistas. No quarto trimestre de 2023 (4T23), a companhia apresentou um prejuízo contábil de cerca de R$ 1 bilhão, aumentando as perdas em 513,5% na comparação anual.
No caso de sua principal concorrente, a Magazine Luiza (MGLU3), o BB-BI observou que apesar de ter apresentado melhoria na rentabilidade, o crescimento moderado das vendas da varejista preocupou o mercado. No período, o lucro líquido ajustado do Magalu foi de R$ 101,5 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 15,2 milhões registrado no mesmo período do ano passado. Com isso, a administração chamou o período de “trimestre da virada”.
No geral, para o BB Investimentos, o cenário macroeconômico continua positivo para o setor de varejo, e as expectativas para o segmento são de uma evolução em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, com os papéis seguindo um movimento superior ao apresentado pelo Ibovespa.
“A inflexão da curva de concessão de crédito, a inflação sob controle, a taxa Selic e a inadimplência em queda são alguns dos fatores que estão impactando positivamente as varejistas, o que pode levar o mercado a revisar para cima as projeções de lucro das companhias”, escreve.