Ícone do site Suno Notícias

Com Selic em queda, o que esperar para o setor de construção em 2024?

Com Selic em queda, o que esperar do setor de construção? Foto: Pexels.

Com Selic em queda, o que esperar do setor de construção? Foto: Pexels.

Considerados um dos setores mais sensíveis às mudanças na Selic, o segmento de construção pode ser beneficiado por uma perspectiva de queda nas taxas de juros nos próximos meses. Além da redução no custo dos financiamentos – estimulando a demanda por imóveis, especialmente entre os consumidores que dependem de crédito -, o movimento pode aumentar a atratividade dos investimentos, segundo analistas de mercado.

Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, explica que com a queda da renda fixa, os investimentos em imóveis podem se tornar mais atrativos para os investidores, mas afirma que é importante ter cautela.

“O cenário macroeconômico é incerto, a inflação ainda está alta e o crescimento do PIB é moderado. Ainda existe também uma incerteza sobre o futuro da taxa Selic. O ritmo de queda da Selic ainda é incerto, e a taxa pode voltar a subir no futuro. Em resumo, a queda da Selic é um vento a favor do setor de construção, mas ainda há incertezas no horizonte”, explica.

Aa última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que foi unânime e amplamente aguardada pelo mercado, reduziu a taxa básica de juros brasileira para 10,75%, com o colegiado do BC indicando “elevação da incerteza e necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”.

No caso do consumidor, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avalia que taxas de juros mais baixas significam menores custos de financiamento para a compra de imóveis, tornando a aquisição de casas ou apartamentos mais acessível e aumentando a demanda no mercado imobiliário. Assim, a maior demanda incentiva mais projetos de construção, alimentando um ciclo virtuoso de crescimento no setor.

“O inverso também é verdadeiro. Quando as taxas de juros sobem, o custo de financiamento para novos projetos e a compra de imóveis aumenta significativamente. Isso pode levar a uma desaceleração na construção civil, pois os projetos se tornam menos viáveis economicamente e a demanda por novos imóveis diminui com os financiamentos mais caros”, pontua.

Cruz reforça que o setor de construção civil é particularmente sensível às taxas de juros devido à natureza de longo prazo tanto do financiamento de projetos quanto dos empréstimos imobiliários. Para ele, pequenas variações nas taxas podem ter impactos significativos sobre a viabilidade de projetos de construção e a decisão de compra de imóveis.

“As taxas de juros no Brasil são muito voláteis e têm uma correlação positiva com as exportações líquidas, afetando os ciclos econômicos do país”, acrescenta.

Setor de construção: quais empresas se destacam neste cenário e quais merecem atenção?

Neste sentido, Vinícius Moura, da Matriz Capital, destaca algumas empresas que se destacaram na temporada de balanços do 4T23, encerrada há poucas semanas, e outras que ainda devem se recuperar ao longo do tempo.

Para ele, a Cyrela (CYRE3) apresentou forte crescimento nas vendas e lançamentos, com boa rentabilidade. A Plano & Plano (PLPL3) teve um bom desempenho operacional, com aumento da receita e do lucro líquido, enquanto a Eztec (EZTC3) foi uma surpresa positiva com a recuperação da margem bruta e a redução da alavancagem.

“Essas empresas se destacaram por boa execução da estratégia, com lançamentos bem-sucedidos, foco em nichos de mercado rentáveis e controle de custos; posicionamento estratégico, devido à presença em regiões com alta demanda por imóveis e foco em produtos com boa aceitação do público, além de solidez financeira, com baixo endividamento e boa geração de caixa”, salienta.

Em contrapartida, entre os destaques que merecem atenção, Moura acredita que a MRV (MRVE3) está em processo de reestruturação, com foco na redução do endividamento e na melhora da rentabilidade, enquanto a Gafisa (GFSA3) está buscando retomar o crescimento após um período de dificuldades.

“Essas empresas ainda precisam reduzir o endividamento, melhorar a rentabilidade e recuperar a confiança dos investidores, ao mesmo tempo que necessitam lançar novos projetos, aumentar as vendas e conquistar novos clientes”, explica o economista.

Minha Casa Minha Vida: possível falta de recursos do FGTS é ponto de atenção para setor?

Para alguns analistas de mercado, o aumento expressivo nas vendas de residências no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), do Governo Federal, emergiu o risco de uma eventual falta de recursos do Fundo de Garantia (FGTS) para abastecer os financiamentos no segundo semestre.

Assim, o mercado monitora o fato de que além de uma redução na demanda por imóveis, um possível esgotamento desses recursos pode trazer prejuízo para as empresas, já que as construtoras podem ter que reduzir seus lançamentos e vendas.

“Não acho que vá acontecer isso de fato. O governo, em última instância, acharia outra base de recursos, mas é importante monitorar, até porque o Executivo já está discutindo limitar a questão de imóveis usados para ficarem disponíveis para o Minha Casa Minha Vida, aumentar a remuneração do FGTS. Tudo isso está sendo discutido”, afirma Gustavo Cruz, da RB Investimentos.

Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, também concorda que com o aumento significativo na procura por imóveis de baixa renda, é legítima a preocupação por falta de capital para os financiamentos que usam o FGTS.

No entanto, acredita que esse efeito deverá ser controlado pela própria Selic se estabilizando aos 9% ao final de 2024. “Logo, a repercussão para os financiamentos deverá ter uma procura maior em 2024, que poderá perder parte do ritmo em 2025. Vale ressaltar que o mercado global de imóveis ainda sente os efeitos das baixas nas commodities e sinais de crise na Ásia e EUA”, acrescenta.

Sair da versão mobile