Selic a 13,75% de novo: para onde vai a taxa de juros após mais um Copom sem alterações?
Nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu novamente pela manutenção da Taxa Selic em 13,75%, em mais um comunicado que seguiu com citações ao cenário fiscal a reafirmações do papel “vigilante” do Banco Central (BC) para com a inflação – atualmente abaixo de 5% no anualizado.
Com a mesma Taxa Selic desde meados de agosto de 2022, a grande discussão macroeconômica do mercado é sobre quando a autoridade monetária passará a cortar juros e iniciar um ciclo baixista.
Apesar de a situação estar mais amena do que antes, o BC ainda conta com uma pressão intensa e explícita do Palácio do Planalto pelo corte de juros – para estimular a atividade econômica no início do novo governo, gerando mais consumo e barateando custo de capital.
Especialistas apontam que há cautela por parte da autoridade monetária, que ainda aguarda algumas sinalizações da equipe responsável pela elaboração da política fiscal.
Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, avalia que mesmo diante de um cenário que é considerado “bem resolvido” com o arcabouço fiscal, a meta da inflação gera expectativas.
“O arcabouço fiscal está mais resolvido, mas a questão não está fechada. A nota do Copom foi mais positiva ao sinalizar o avanço do arcabouço fiscal e a redução de um eventual cenário de cauda onde voltaria a subir a taxa de juros. As expectativas de inflação não melhoraram e há uma expectativa sobre a meta de inflação que será anunciada em breve. Com isso o BC deve esperar um pouco para indicar qual o caminho dos juros”, afirma.
As projeções da casa são de 12,50% de Selic para o fim de 2023 e de 9% para o ano que vem, levando em conta uma desaceleração da inflação global.
- Lucro líquido do Bradesco (BBDC4) no 1T23 recua 37,3%, para R$ 4,28 bilhões, mas supera estimativas
- Ibovespa sobe com alta da Petrobras (PETR4) e bancos; Vale (VALE3) e CSN (CSNA3) cedem com queda do minério
- Copom mantém taxa Selic a 13,75% ao ano pela 6ª vez seguida; entenda por quê
- IPCA ainda maior em 2023: Veja novas projeções do Boletim Focus
BC à espera de números melhores da inflação
Apesar dos dados de inflação mais otimistas nas últimas divulgações, o Banco Central também deve aguardar números bons nos próximos meses antes de afrouxar a política monetária e adotar uma postura mais dovish.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, comenta que o IPCA do mês passado foi melhor do que o esperado com qualitativo promissor também – assim como o IPCA-15 -, mas há uma expectativa para as próximas divulgações.
“Isso obviamente ajuda na condução de política monetária, mas, ainda para essa reunião, já era sabido que teríamos uma manutenção na taxa. Inclusive, pelas declarações que o [presidente do BC] Roberto Campos Neto deu no no Senado e vem se manifestando há algum tempo, dizendo que ainda é cedo [para iniciar o ciclo de cortes]. A gente precisa de mais consistência nos dados para que comece um ciclo de afrouxamento monetário”, comenta.
Em relatório, analistas do Bank of America (BofA) destacaram que o ciclo de corte de juros deve se iniciar somente em agosto.
Os especialistas David Beker e Natacha Perez projetavam um corte já nesta reunião, para 13,50%, mas ponderam um ambiente mais nebuloso para o BC.
“Dada a nossa percepção do estado atual da economia, os efeitos acumulados do aperto monetário e deterioração do mercado de crédito, adiamos nossa projeção para o início de um ciclo de flexibilização de 425 pontos base para agosto (que ocorrerá após a reunião do Conselho Monetário Nacional). Esperamos um corte inicial de 50pb e a taxa Selic em 11,75% para o fim de 2023, e continuamos projetando uma Selic de 9,5% para 2024”, preveem.
Como calibrar a carteira
Paulo Ricardo dos Santos, especialista em investimentos da Blue3, aponta que não foi ‘nenhuma surpresa’ a manutenção da Selic e mantém uma visão mais pessimista.
“Fica difícil enxergar uma queda e dar uma projeção assertiva, mas penso que está bem desenhado que isso não deve ocorrer no curto prazo, inclusive vendo a pressão política”, analisa.
Sobre movimentos na carteira de clientes e como o mercado reage, Santos aponta que o momento é caótico e a compra de equities no momento atual depende de um apetite por risco maior por parte do investidor.
“Mudar portfólio vai do perfil do investidor, e com isso é importante alinhar com o cliente. Estamos vindo de um grande período de especialistas comentando sobre ‘bolsa barata’, e de fato temos que dar mais vazão à renda variável e produtos estruturados para clientes com apetite de mais risco. De modo geral, segue valendo a máxima de que é importante dar um norte de carteira pensando no longo prazo e manter uma boa reserva de oportunidade“, comenta.
“Na renda fixa, naturalmente deve ocorrer um movimento de queda em alguns títulos, e o investidor que fica olhando o mês a mês vai acabar deixando dinheiro na mesa. Os pós fixados devem ter uma rentabilidade pior na queda da Selic, e os investidores devem carregar isso”, acrescenta.
Movimentos da Bolsa
Diferentemente do último pregão pós Copom, o dia não foi de ‘tela vermelha’ para as equities, com varejo, aéreas e demais companhias alavancadas ou que dependem do ciclo de crédito apresentando grandes quedas.
A temporada de balanços, por sua vez, figurou como grande driver do dia, com baixa de mais de 9% na Embraer (EMBR3) e de 6,2% na CSN (CSNA3).
- Maiores Altas
- Maiores Baixas
Projeções para Selic em 2023 e 2024
Atualmente o consenso do mercado financeiro projeta uma Selic de 12,50% para o ano de 2023. Para 2024 a estimativa é de 10%. Os dados são do último Boletim Focus.