Considerado um dos eventos mais aguardados da agenda da semana no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), começou hoje (31), às 10h08, e pode confirmar amanhã (1) mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa de juros, a Selic. Atualmente, a taxa está em 12,75% ao ano.
Na última reunião de setembro, o Copom anunciou o segundo corte seguido da taxa Selic. A taxa caiu para 12,75%, na sexta reunião do ano. A decisão era majoritariamente esperada pelo mercado e foi unânime, contando com o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
A Warren Rena espera que comitê reduza a meta Selic em 0,50 ponto percentual, para 12,25%, em linha com o sinalizado na reunião anterior e a visão consensual do mercado.
“Consideramos ainda como mais provável que o comunicado repita a mensagem de que os membros do Comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário, colocando uma barra alta tanto para aceleração quanto para a desaceleração do ritmo de ajuste”, aponta Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da casa.
Ainda para Goldenstein, desde a última reunião do Copom, não se materializou nenhum dos fatores citados na ata que poderiam elevar ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva.
“As expectativas de inflação mais longas (2025 e 2026) permaneceram rígidas em 3,50%, os dados de atividade mostraram alguma moderação (mas sem configurar uma “abertura contundente do hiato do produto”) e, apesar do avanço da desinflação de serviços, a avaliação do Copom deve ser no sentido de que é preciso aguardar mais dados para qualificar como uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada”, acrescentou.
Para os analistas Victor Guglielmi, Rafael Pacheco e Fernando Siqueira, da Guide Investimentos, o grupo deve voltar a reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual.
“O cenário mostrou deterioração em alguns aspectos desde a última reunião, sobretudo nos mercados internacionais, mas a inflação local seguiu em tendência de baixa. O comunicado do Copom deve manter tom cauteloso e antever novo corte de mesma magnitude para a última reunião de 2023”.
A casa também espera um comunicado nos moldes do que foi recebido em setembro, ressaltando uma piora adicional no ambiente global para economias emergentes.
“A mensagem deve ser a mesma, reforçando a manutenção do conservadorismo no atual processo de redução da Selic diante de um processo desinflacionário lento, resiliência da atividade e incerteza fiscal. Assim, esperamos que um novo ajuste de 0,5 p.p. seja sinalizado para a última reunião de 2023, ou seja, uma Selic em 11,75% no fim do ano”, acrescentaram os analistas.
Para o Bank of America, o Copom também deve cortar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25%, por unanimidade.
“O cenário externo deteriorou-se devido à guerra Israel-Hamas, a taxa de câmbio se depreciou, mas a atividade recuou e a inflação subjacente continuou a desacelerar.”
Ainda de acordo com o BofA, o comitê deve realçar a incerteza do lado externo para manter o ritmo de flexibilização monetária, apesar das condições internas favoráveis.
Corte de 0,5 ponto percentual também é consenso entre grandes bancos brasileiros
Por sua vez, um levantamento feito pelo BTG Pactual entre os dias 24 e 26 de outubro que procurou saber a prospectiva do Copom, reforçou as expectativas do mercado de corte na taxa.
Das 61 pessoas que responderam à pesquisa, 95% julga que o grupo cortará a Selic em 50 pontos-base na reunião desta semana. Em dezembro, aproximadamente 98% dos respondentes anteveem outro corte em igual proporção.
Nas reuniões seguintes, de janeiro a maio de 2024, o corte de 50 pontos-base segue altamente predominante, com as apostas de uma aceleração de ritmo de 75 pontos-base tendo perdido grande importância, assim como precificado pela curva de juros. “De qualquer forma, a alternativa de redução de ritmo segue com baixa probabilidade”, diz o levantamento do banco.
Em relação ao nível da Selic em 2024, 49% dos pesquisados veem a taxa Selic encerrando 2024 em 9,50-9,75%, enquanto quase 53% via a Selic encerrando entre 8,50-9,25% na pesquisa anterior. Uma parcela menor, porém elevada, de quase 25%, vê a Selic encerrando 2024 entre 9,00-9,25%.
Já o Santander (SANB11) espera que o Copom mantenha o ritmo de flexibilização sinalizado anteriormente e entregue um corte de 50 pontos-base amanhã (1), levando a taxa Selic para 12,25%. Segundo o banco, a previsão está alinhada tanto com o consenso dos analistas quanto com o preço da curva de rendimentos.
“Em nossa opinião, a probabilidade de um ritmo mais acelerado de cortes de juros diminuiu, devido ao aumento das incertezas internacionais traduzida em taxas externas. Observamos, no entanto, que o risco de um ritmo mais rápido ainda não acabou, pois esperamos que a inflação continue a melhorar e que a atividade econômica desacelere ainda mais nos próximos trimestres. Não podemos descartar a possibilidade de cortes mais acentuados, principalmente no início de 2024”, afirmou o banco.
XP: política monetária ainda precisará permanecer restritiva em 2024
Os economistas Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, da XP, entendem que as taxas de juros internacionais mais elevadas e as incertezas fiscais internas não comprometem a margem para cortes na taxa Selic no curto prazo.
“Mantemos nosso cenário de que o Copom reduzirá a taxa básica em 0,50 ponto percentual por reunião até maio de 2024, entregando um corte final de 0,25 ponto percentual em junho (logo, taxa terminal de 10,00%). Acreditamos que a política monetária ainda precisará permanecer restritiva no próximo ano para compensar os efeitos da política fiscal expansionista e garantir a convergência da inflação à meta”, disse a casa.
Ainda de acordo com a XP, o aumento das taxas de juros de mercado nas economias desenvolvidas tende a ser um limitador adicional à flexibilização monetária de países emergentes em 2024.
“Supondo estabilização da inflação em torno de 4,0%, a política monetária poderia ser neutra em 2025. Estimamos o juro real de equilíbrio em 5,0%. Consequentemente, a taxa Selic poderia ser ajustada para 9,00% no primeiro semestre daquele ano”, completa a casa.
Não são esperadas grandes mudanças no comunicado, diz economista-chefe da Suno
Na visão de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a expectativa é de que a autoridade monetária corte novamente a taxa de juros em 50 pontos-base, levando a Selic para 12,25% ao ano. Para o especialista, em relação à reunião de setembro, não são esperadas grandes mudanças no comunicado.
“O cenário doméstico não alterou de forma relevante nos últimos meses. Por exemplo, a atividade econômica continua dando sinais de desaceleração como o esperado pelo Banco Central (BC) – o IBC-Br, a PMC e a PMS de agosto corroboram isso. Além disso, o mercado de crédito segue arrefecendo e, a inflação, segue benigna”, afirmou Sung.
Contudo, de acordo com o economista, as incertezas no cenário externo e o risco fiscal brasileiro deverão ser enfatizados pelo Comitê. Além disso, diz Sung, os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia podem manter os preços do barril de petróleo e de outras commodities em níveis elevados por mais tempo, o que tenderia a exercer pressões inflacionárias e dificultar o trabalho dos Bancos Centrais pelo mundo.
“Esse cenário forçaria as autoridades a manterem as taxas de juros elevadas por mais tempo. Um transbordamento e escalonamento dos conflitos para outras regiões poderá influenciar nesse cenário”, acrescenta.
Por fim, para 2023, a projeção da Suno Research para a taxa terminal da Selic é de 11,75% ao ano e para 2024, elevou suas projeções de 9,25% para 9,75% ao ano.