O ex-ministro da Fazenda e economista Maílson da Nóbrega teceu críticas aos solavancos entre o Planalto e a autoridade monetária do Brasil vistos com mais intensidade em meses passados. Para ele, os ataques feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central (BC) foi suficiente para agitar o mercado e ajudou a postergar uma possível queda da Selic.
Em entrevista exclusiva ao canal do Suno Notícias, o ex-ministro da Fazenda também destacou que é extremamente inusual que esse tipo de conflito exista. Para Maílson, a atitude de Lula joga contra a melhora econômica do Brasil.
“Se o Lula, o Haddad e a turma do PT não tivessem feitos os ataques que fizeram ao BC, a Taxa Selic já tinha caído. Mas, como fizeram isso, o mercado começou a ficar preocupado e as expectativas desancoraram”, disse.
“Somos o único país do mundo em que essa discussão ocorre. Somos os únicos em que o próprio presidente ataca o Banco Central. Somos os únicos em que o Ministro da Fazenda diz que todas as autoridades podem criticar o Banco Central”, comentou.
Segundo Maílson, as autoridades em todo o mundo se abstêm porque embates como esse geram a impressão de que uma intervenção está para acontecer.
“Quando isso ocorre, se instaura um clima de desconfiança, os juros futuros sobem, a expectativa de inflação aumenta e o país só tem a perder”, explica.
O ex-ministro da Fazenda ainda teceu críticas ao tom que foi adotado por membros do Partido dos Trabalhadores (PT) durante o conflito.
“Há uma ignorância incrível, ignorância mesmo, sobre o Banco Central”, disse, citando declarações passadas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e as afirmações de que o presidente do BC Roberto Campos Neto teria que ‘respeitar as urnas’.
Meta de inflação e ‘saldo positivo’ do BC com a Selic
Segundo Maílson, a atuação do Banco Central no momento atual esta em linha com boas diretrizes e com uma condução saudável da política monetária.
Na ocasião, ele se referiu a última reunião do Comitê de Política Monetária, que optou pela manutenção da Selic em 13,75% pela sétima vez consecutiva.
“Acho que o BC está correto. Ele baixou demais a Selic atrás, mas na reunião do Copom havia várias incertezas – por exemplo o núcleo da inflação estava alto, sinalizando uma resistência da inflação. Não se sabia ainda qual o Arcabouço Fiscal que viria a sair do Congresso”, comentou.
Além disso, Maílson pontuou que as discussões sobre meta de inflação são obsoletas e que o que a ciência econômica mostrou até aqui é que o padrão adotado hoje é relativamente saudável.
“O Lula falou que a meta estava errada, o Ministro da Fazenda começou a falar de meta de inflação contínua, o que até faz algum sentido. Como sabemos – e às vezes as pessoas se esquecem e não aprendem, afinal tem gente que não aprende -, e aprendemos, que quando a meta de inflação é aumentada, as instituições se adaptam instantaneamente. Se a meta subir para os ‘4,5% do Lula,’ a inflação vai ser 4,5%”, explicou.
Além dos comentários sobre a Selic, os movimentos do Copom, Maílson da Nóbrega ainda comentou sobre o considerado ‘genial’ Plano Real e a encruzilhada contra a inflação e demais temas que afetam a economia brasileira.