Em relatórios recentes, o mercado repercutiu pontos da Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (14), dando projeções distintas para a taxa Selic ao final de 2024. Para algumas casas, a equipe do Banco Central (BC) deve reduzir os juros em mais 25 pontos-base na reunião de junho.
Segundo a ata do Copom, os diretores se dividiram entre um eventual custo reputacional de não seguir um “guidance”, mesmo que condicional, e o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.
“Consideraram, para tanto, que o cenário esperado não se confirmou em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que esperado”, pontuaram os membros do Copom no documento.
Para o time de economistas da AZ Quest, liderado por Alexandre Manoel, aos olhos do mercado, tal discussão é inócua, pois apesar de a equipe considerar como “guidance” a ata de março, na prática, este já havia sido alterado, após a comunicação do presidente Roberto Campos Neto, em evento aberto na última reunião do FMI, em Washington.
“Assim, a explicação somente mostrou que houve uma descoordenação no comitê, de modo que um erro (da comunicação aberta) foi seguido por outro”, escrevem os analistas.
Ainda para a AZ Quest, apesar de os quatro diretores dissidentes terem justificativa técnica, não perceberam que esse comportamento iria sinalizar ou sugerir subserviência ao Planalto, por terem sido indicados pelo presidente Lula. A suposta ação de leniência, portanto, provocaria um aumento da desancoragem das expectativas, perda de credibilidade e maior dificuldade para dar prosseguimento ao atual ciclo de afrouxamento monetário, o que terminaria levando o país a uma taxa terminal de juros maior.
“Resta-nos aguardar os próximos dados e uma correção no gerenciamento das expectativas, tanto por parte do Banco Central quanto dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento”, completa a casa.
“Distintivamente agressiva”, diz Goldman Sachs sobre ata; banco projeta Selic em 9,75% ao final de 2024
O Goldman Sachs (GSGI34) considera que apesar da votação dividida, a ata é distintivamente “agressiva”.
Para a casa, é unânime entre os membros o firme compromisso de conduzir a inflação para a meta, além da necessidade de uma política monetária mais contracionista e cautelosa para reforçar a dinâmica desinflacionária.
O Goldman Sachs reforça ainda que para a equipe do Copom, nenhuma orientação sobre decisões políticas futuras é mais apropriada – face ao cenário global incerto e um cenário doméstico marcado por uma atividade resiliente e expectativas não ancoradas – e que a taxa terminal será aquela que consolidará não só o processo desinflacionário, mas também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas.
“Para os diretores, não estava claro que o cenário-base prospectivo divergia significativamente do esperado, a ponto de valer a pena o custo reputacional do não cumprimentos das orientações, o que poderia levar a uma redução no poder das comunicações formais do Copom”, escreveu o analista Alberto Ramos.
No geral, o Goldman Sachs espera que o Copom reduza a taxa Selic em 25 pontos-base na reunião de junho, com a totalidade dos dados e o equilíbrio geral dos riscos para a inflação ditando até onde o Copom pode ir com o ciclo de normalização das taxas. “Nessa conjuntura, prevemos outros três cortes de 25 pontos-base nas taxas em 2024, elevando a Selic para 9,75%”, acrescenta o banco.
Warren sobre Ata do Copom: divergências entre membros são menores do que leitura inicial do mercado
Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe Warren Investimentos, a ata do Copom de maio mostra que as divergências entre os seus membros são menores do que a leitura inicial do mercado após a divulgação do comunicado.
“Percebe-se uma convergência do comitê com relação à adoção de uma política monetária mais cautelosa e sem indicações futuras, o que pode ser interpretado como um orçamento total de redução de juros menor do que o considerado anteriormente”, pontua Goldenstein.
“Há concordância ainda no diagnóstico de um cenário global incerto e, no âmbito interno, de resiliência da atividade e desancoragem das expectativas”, completa.
Após ata, Bank of America vê Selic em 10,25% ao fim de 2024
Para o Bank of America, apesar da divergência entre os membros do Copom, conforme mostrado na ata, prevaleceu um acordo unânime sobre a importância de as futuras ações políticas dependerem dos dados.
Ainda de acordo com o banco, o comitê reconheceu um agravamento do equilíbirio de risco, e que a taxa terminal deverá situar-se num nível que permita reancorar as expectativas de inflação.
“Com o equilíbrio assimétrico de riscos, o conselho será mais cauteloso à frente. Acreditamos que o Banco Central reduzirá novamente 25 pontos base na próxima reunião de junho e depois manterá as taxas até ao final do ano”, pontuam os analistas David Becker e Natacha Perez.
“À medida que o Fed inicia a flexibilização monetária no final do ano, o Banco Central (BC) deverá retomar o ciclo de flexibilização no início do próximo ano. Nossa projeção é de taxa Selic de 10,25% em 2024, com redução para 9,00% em 2025 (taxa terminal)”, completam.