O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), começou hoje (19) as reuniões que podem confirmar amanhã (20) mais um corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, a Selic. Atualmente, ela está em 11,25% ao ano.
Na última reunião do Copom, o BC anunciou o quinto corte seguido da taxa Selic. A taxa caiu para 11,25%, no primeiro encontro do ano. A decisão era majoritariamente esperada pelo mercado e foi unânime.
Segundo Boletim Focus divulgado nesta terça-feira (19) pelo Banco Central, a estimativa para a taxa de juros segue em 9,00% ao final deste ano. De acordo com a pesquisa, para 2025, o mercado espera que a taxa de juros consiga chegar ao patamar de 8,50% e que mantenha o valor em 2026.
Ainda conforme o Focus desta semana, o mercado prevê que o IPCA, principal indicador de inflação, termine 2024 em 3,79%, acima da projeção da semana passada (3,77%), mas ainda abaixo das últimas quatro semanas (3,82%).
Para a reunião desta semana, a Warren Rena estima que o comitê reduza a Selic em 0,50 ponto percentual, para 10,75%, em linha com o sinalizado na reunião anterior e a visão consensual do mercado.
“Não vemos razão para qualquer mudança significativa da comunicação do Copom. Desde a última reunião, não houve alterações relevantes da dinâmica inflacionária, das expectativas, das projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos que justifiquem uma sinalização divergente”, aponta Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da casa.
Para Goldenstein, a principal dúvida do mercado é sobre o comunicado. Mais especificamente, sobre a manutenção ou não da frase que aponta que os membros do Comitê anteveem redução da Selic mesma magnitude nas próximas reuniões.
“Acreditamos que esse assunto será discutido na reunião, mas que a probabilidade levemente majoritária é de que a frase seja mantida, indicando a sua exclusão na reunião subsequente”, completa.
Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, avalia que, no comunicado, deve constar a surpresa positiva em termos da arrecadação federal neste início de ano, aumentando as chances de cumprimento das metas estabelecidas no Novo Arcabouço Fiscal.
Já entre os destaques negativos, Farina pontua que o BC deve ressaltar a piora da inflação na margem pela métrica da média móvel trimestral (MM3M) dessazonalizada e anualizada, que saltou de 3,0% para 6,0% nos últimos meses.
“É verdade que parte dessa aceleração inflacionária se deve a um fator climático transitório (El Niño), que tem impactado negativamente os preços dos alimentos. Mas, por outro lado, a maior parte desse movimento se deve ao aumento da inflação de serviços, principalmente dos serviços subjacentes, e que demanda uma política monetária contracionista para arrefecer”, destaca.
No saldo geral, segundo o analista, o balanço de riscos deve sofrer alguma piora, à medida que as forças inflacionárias estão, no momento, superando as forças deflacionárias, resultando num viés altista para a inflação.
“Por fim, acreditamos que o Copom deveria deixar de fornecer o ‘guidance’ futuro que aponta para cortes de juros de 0,50 p.p. nas duas reuniões subsequentes. O intuito disso não seria necessariamente o de diminuir a magnitude de corte de juros para 0,25 p.p., mas sim o de aumentar os graus de liberdade na condução da política monetária por parte do Banco Central, à medida que a Selic se aproxima da sua taxa terminal”, completa Farina.
Para o Bank of America, o Copom também deve cortar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual pela sexta vez, para 10,75%, por unanimidade. “O comitê deverá manter o plural, ao mesmo tempo em que destaca a resiliência da atividade e as preocupações com a inflação para justificar a manutenção do ritmo. A política monetária continua contracionista e muito longe dos 4,5% que o Banco Central entende como neutro”, afirma.
BC manterá atual plano de voo da política monetária, diz Gustavo Sung, da Suno
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, acredita em um corte de 50 pontos-base (0,50 p.p.) na taxa Selic, sem grandes surpresas. Em relação à reunião de janeiro, Sung acredita que o cenário econômico brasileiro não sofreu grandes alterações, o que permite ao BC manter o atual plano de voo da política monetária.
Um outro ponto, segundo o economista, diz respeito às expectativas de inflação, que seguem desancoradas. Essas expectativas acabam influenciando os reajustes de contratos e salários, o que pode contaminar a inflação atual.
“Para uma ancoragem mais firme das expectativas, é necessário reduzir o risco fiscal do país. A possibilidade de aumento dos gastos públicos neste e no próximo ano, juntamente com a redução dos esforços para atingir a meta de gasto primário, complicam esse movimento. Além disso, a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho nos próximos anos deve sustentar os preços em níveis mais elevados”, explica.
No geral, para Sung, o plano de voo sinalizado pelo Copom deve ser mantido, e a autoridade monetária poderá seguir com esse ritmo de ciclo de cortes de juros pelo menos ao longo do primeiro semestre.
“Para 2024, a nossa projeção para a taxa de juros terminal continua em 9,50% a.a., com viés de baixa. Esse patamar deverá ser suficiente para garantir que a inflação siga para a meta, não desancorar as expectativas e evitar uma saída de capital do país”, completa.
Confira as projeções de outras casas para a Selic
Para o economista-chefe da Brasilprev, Robson Pereira, para esta reunião, as atenções estarão voltadas para a comunicação do Copom, sobretudo no que tange à manutenção ou não do forward guidance para as próximas reuniões.
“Acreditamos que estamos próximos do momento em que o Comitê optará por ter mais flexibilidade na condução da política monetária, abrindo mão desse guidance para as próximas duas reuniões”, diz. A casa também espera uma queda de 50 pontos-base para a Selic nesta semana.
“Ao mesmo tempo, não descartamos que o comunicado e a ata mantenham esse guidance, mas apontando que houve uma discussão, já nesta reunião sobre mantê-lo ou não. Até mesmo pela nova composição do Comitê, desde janeiro, é muito possível que o nível de debate esteja maior”, acrescenta Pereira.
A casa trabalha com Selic de 9,0% ao final deste ano e de 8,0% para o encerramento de 2025. “Reconhecemos, contudo, que a manutenção do guidance nesta quarta abrirá espaço para revisarmos a nossa taxa para 8,75% no final deste ano”, finaliza o economista.
Para Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, a expectativa é de que a Selic também chegue a 10,75% após a última reunião, o que já é dado como certo pela maioria dos economistas.
Segundo ela, o mais importante virá do comunicado que será feito após a reunião, com pistas dos próximos movimentos do Copom, principalmente por conta de alguns dados recentes de inflação que merecem uma avaliação mais aprofundada, em particular a inflação de serviços.
“Um cenário externo mais adverso impacta a tomada de algumas decisões do BC aqui, pois refletem diretamente no fluxo de dólares para o país. E de fato, entre os meses de janeiro e fevereiro, o fluxo financeiro passou para patamar negativo, enquanto o fluxo comercial continuou a registrar entrada de dólares, ainda que tenha desacelerado desde o início do segundo mês do ano”, aponta.
Carvalho acredita ainda que uma balança comercial mais forte contrabalance essa depreciação do real a despeito do fluxo do investidor estrangeiro, e que não deve impactar tanto a inflação.
“Na minha visão, os fatores externos influenciam, mas fatores domésticos que contribuam para redução adicional do risco-país (como novas surpresas com a arrecadação, além de uma perspectiva de um déficit menor do que o esperado pelo mercado) poderão conter uma depreciação adicional do real e dar mais espaço para cortes da taxa Selic”, acrescenta.
Grandes bancos brasileiros fazem projeções para a Selic; veja
Para o economista Caio Megale, da XP (XPBR31), a sinalização de cortes de 0,5 ponto percentual (p.p) deve continuar. “Considerando que a taxa Selic ainda está muito acima do nível que consideramos neutro (em torno de 9,00%), acreditamos que o Copom manterá o atual ritmo de corte de juros. Assim, o comitê não deve remover sua orientação futura – “outras reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões” – da comunicação oficial neste mês.
A XP mantém a projeção da taxa terminal a 9,00%. No cenário base, a casa prevê quatro cortes adicionais de 0,50 p.p e um ajuste final de 0,25 p.p, levando a taxa Selic para 9,00%. “Acreditamos em continuidade do juro básico neste patamar até, pelo menos, o final de 2025”, acrescenta Megale.
O Santander (SANB11) também projeta cortes de 50 pontos-base em cada uma das próximas reuniões do Copom, e espera que o guidance só seja removido no futuro.
“Acreditamos, no entanto, que à medida que o ciclo avança, seria apropriado que o comitê introduzisse uma discussão sobre a remoção dessa orientação em suas comunicações oficiais. Vemos isto como uma forma preferível de restringir a volatilidade potencial na curva de rendimentos local que poderia resultar da remoção da orientação”, reforça a equipe de analistas do banco, liderada por Ana Paula Vescovi.
Economistas da Anbima revisam projeção da Selic; confira
De acordo com o Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) a Selic deve encerrar o ano em 9%, ante uma projeção de 9,25% anteriormente. Para os economistas, esse patamar deve ser atingido em setembro e mantido até dezembro.
“Reduzimos o ponto terminal dos juros, mas há uma preocupação de parte do grupo em relação à manutenção do ritmo de queda da Selic, sobretudo diante das perspectivas para os juros externos e da dinâmica dos preços de serviços”, afirma Fernando Honorato, coordenador do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima.