Na última reunião do Copom, em maio, a taxa Selic foi reduzida em 25 pontos-base, para 10,50%, após uma sequência de seis cortes seguidos de 50 pontos-base. Nesta quarta (19), o comitê emite seu novo parecer sobre os juros oficiais do país, e a expectativa da maior parte dos analistas é a de que haja uma pausa no ciclo de relaxamento monetário.
O BTG Pactual realizou uma pesquisa com 69 participantes do mercado financeiro, e 83% deles julgam que o Copom manterá a taxa Selic em 10,50% na atual reunião. Outros 17% apostam em um corte de 25 pontos-base.
Já os especialistas ouvidos pelo Suno Notícias foram unânimes em afirmar que a taxa oficial de juros no Brasil será mantida no patamar atual.
- “Para esta reunião, a nossa expectativa é manutenção da taxa Selic em 10,50%” – Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research
- “A expectativa é que, de fato, devemos ter uma estabilidade na taxa básica de juros” – Nicolas Gass, sócio da GT Capital
- “Esperamos que o Copom interrompa o ciclo de cortes da Selic na reunião desta semana” – Marcelo Bolzan, sócio na The Hill Capital
- “Esperamos uma manutenção dos juros, e por uma decisão unânime da diretoria” – Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Quais fatores devem impactar a decisão do Copom?
De acordo com os analistas, há alguns fatores principais que devem fazer com que o Copom adote uma postura mais cautelosa na decisão desta quarta-feira.
“No Brasil, os últimos dados da inflação não foram positivos, somados à aceleração e desancoragem das expectativas de inflação, dúvidas em relação à política fiscal e incertezas no cenário externo”, resume Sung.
Entre os dados de inflação, o destaque fica por conta do IPCA de maio, que veio acima das expectativas, já refletindo o desastre ocorrido no Rio Grande do Sul.
“A inflação medida pelo IPCA apresentou aceleração em maio, interrompendo tendência de melhora dos núcleos de inflação. Vimos o avanço de 0,46%, acima da mediana do mercado que era 0,42%”, relembra Bolzan.
A valorização do dólar é algo que também está relacionado ao crescimento da inflação no Brasil e que, consequentemente, impacta na decisão do Copom.
“A gente teve uma piora nas questões relacionadas ao dólar. Estamos vendo uma deterioração do real frente ao dólar. Isso obviamente aumenta a pressão inflacionária”, afirma Faust.
Por falar em dólar, o fato dos juros nos EUA ainda não terem sido reduzidos é outra questão que dificulta a continuidade do ciclo de relaxamento monetário por aqui.
“No cenário internacional, olhando para os Estados Unidos, também tivemos essa decisão de manutenção da taxa básica de juros. Ou seja: a pista ainda não foi aberta para a gente continuar abaixando os juros aqui”, explica Gass.
Outro ponto amplamente citado pelos analistas é a questão fiscal brasileira, em meio ao iminente descumprimento da meta e as discussões sobre a desoneração da folha de pagamento.
O que esperar da postura do comitê?
Na última reunião, que reduziu a Selic em 25 pontos-base, muito se falou em um possível “racha” dentro do comitê, uma vez que a decisão não foi unânime e que já existem preocupações com a aproximação do fim do mandato de Roberto Campos Neto e possíveis influências políticas dentro da autarquia.
Na decisão desta quarta-feira, portanto, o que se espera é uma maior homogeneidade e harmonia entre os membros do Copom.
“O mais importante é que os membros alcancem um maior consenso, pois isso fortalece a credibilidade da política monetária, reduz os ruídos em torno do compromisso no combate à inflação e melhora a ancoragem das expectativas”, diz Sung.
“Aguardamos uma decisão unanime. Acredito que depois dos ruídos causados na última reunião pela decisão dividida, dessa vez o colegiado buscará um consenso. Será importante para reforçar que as decisões foram tomadas de forma técnica e não com interferência política e assim eliminar qualquer dúvida sobre a credibilidade da política monetária”, complementa Bolzan.
Em relação ao comunicado, a expectativa é a de que ele venha mais “hawkish”. Ou seja, mais duro, em linha com um ambiente inflacionário mais desafiador.
“O Copom deve aumentar a expectativa de inflação para 2025 e 2026. Esperamos, inclusive, que essa taxa de 10,50% se mantenha até o ano que vem, com o comunicado colocando bastante luz, bastante peso no desenvolvimento da economia até o final do ano”, projeta Faust.
“Esperamos que o Campos Neto dê um tom um pouco mais hawkish, sinalizando preocupação principalmente com o Rio Grande do Sul e os efeitos inflacionários que podemos ter”, complementa Gass sobre a reunião do Copom que, na visão do especialista, deve manter a Selic em 10,50%.