Queda na Selic: Copom deve adotar postura mais cautelosa, diz ata

Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que reduziu a Selic de 11,75% para 11,25%, divulgada nesta terça-feira (6), o Banco Central (BC) afirmou que a atividade doméstica prossegue o cenário de desaceleração já antecipado pelo grupo. No entanto, o comitê já observa um arrefecimento nessa desaceleração, o que justifica a adoção de uma postura mais cautelosa.

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“Na discussão, apresentaram-se elementos que permitiriam observar, nos próximos meses, uma atenuação da desaceleração da atividade antecipada em função do aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário-mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente. Mencionou-se que alguns indicadores de alta frequência permitiriam uma leitura que corroboraria esse argumento”, pontuaram os membros do Copom no documento.

A decisão, tomada na semana passada, de reduzir a Selic em mais meio ponto percentual, foi unânime e não surpreendeu o mercado. Agora, parte dos investidores já aposta em uma intensificação do ritmo de queda na Selic, enquanto o comitê segue apontando para novos cortes de 50 pontos-base.

O Boletim Focus desta semana trouxe estimativas que apontam para uma Selic a 9,00% no final do ano, mesma previsão do documento divulgado antes da decisão do Copom. 

O que o Copom avaliou? 

O Copom avaliou que o ambiente externo segue volátil, marcado pelo debate sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias e por sinais de queda de núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países.

Para a equipe, os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho, enquanto o Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Já no ambiente doméstico, o conjunto de indicadores recentes de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia esperado pelo Comitê. De acordo com o grupo, observa-se moderação no crescimento econômico, mas resiliência no consumo das famílias. Por fim, o mercado de trabalho segue aquecido e com aceleração nos rendimentos reais, embora tenha apresentado alguma moderação na margem.

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, sinaliza a ata.

Copom: redução da taxa Selic é estratégica para convergência da inflação 

Sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, o Copom entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para ao redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em maior grau, o de 2025. 

O comitê reforçou, ainda, que essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O grupo considerou que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Ainda segundo o Comitê, a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

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Expectativas de inflação seguem sendo fator de preocupação, diz Copom

Sobre as expectativas de inflação, o Copom acredita que elas seguem desancoradas e são um fator de preocupação.

Além disso, o Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira.

Assim, em seus cenários para a inflação, o Comitê listou que os fatores de risco permanecem em ambas as direções. No caso dos riscos de alta, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, além de uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. 

Já entre os riscos de baixa, o Copom ressaltou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, além dos impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. 

“O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária”, completa.

Decisão sobre redução da taxa Selic foi consensual

O Comitê avaliou que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado pelo Comitê, mas ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária. 

Além disso, a incerteza, em particular no cenário internacional, que tem se mostrado volátil, prescreve cautela na condução da política monetária. O Comitê relembrou que a incorporação de cenários e variáveis exógenas, como a dinâmica fiscal ou o cenário externo, se dá por meio de seus impactos na dinâmica prospectiva de inflação, sem relação mecânica com a determinação da taxa de juros.

Por sua vez, em relação ao cenário doméstico, o Copom acredita que ele vem se encaminhando em linha com o que era esperado. Além disso, dados recentes sugerem moderação da atividade econômica, como antecipado pelo Comitê. 

“A desancoragem das expectativas de inflação para prazos mais longos se manteve desde a última reunião do Copom. Por fim, as projeções de inflação no horizonte relevante não se alteraram significativamente, mantendo-se acima da meta”, pontua a ata.

Assim, após a análise do cenário, todos os membros concordaram que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de forma a ajustar o grau de aperto monetário prospectivo.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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