Ciclo da Selic deve mudar, mas inflação e retomada ainda preocupam mercado

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, que começou nesta terça-feira (19), deve apontar para um novo ciclo da taxa básica de juros (Selic) no País, apesar da alta da inflação e de uma recuperação ainda incerta embaralhar as apostas.

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Segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, o BC deverá retirar o forward guidance, que é uma indicação de médio prazo dada pelo BC sobre como pretende conduzir a política monetária, nesta reunião. Isso deverá ser interpretado pelos agentes do mercado que o ciclo de baixa da Selic chegou ao fim.

“O forward guidance deve ser abandonando já nessa reunião e a partir de junho de 2021 podemos ter o início da sequência de altas da Selic que deve ser gradual e ir até 2022. Até final de 2021, nossa estimativa é de Selic de 3,5%”, disse Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter (BIDI11).

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A retirada do foward guidance é quase unanimidade no mercado. Consultados pelo SUNO Notícias, BTG Pactual (BPAC11), Goldman Sachs e Itaú Unibanco (ITUB4) esperam a mudança.

“Mantivemos a nossa expectativa de taxa Selic em 3,5% a.a. no final de 2021, mas antecipamos o início do ciclo de alta para maio, em razão do ambiente inflacionário. Esperamos também que o Copom abandone o forward guidance na reunião de janeiro”, informou o Itaú Unibanco, em nota.

Para o BTG, por exemplo, a retirada é esperada, mas um aumento da Selic não será automático.

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“Tal decisão dificilmente seria surpreendente dada a sinalização emitida desde o comunicado pós-reunião sobre a “possibilidade de retirada do FG em breve”, disse, em nota. “Com a decisão, o comitê também manteria a mensagem de que a retirada do “FG” não mecanicamente implicar um aumento da taxa de juros”, afirmou o banco.

Inflação, recuperação e endividamento ainda preocupam

Há três motivos principais para que o mercado aponte para o fim do ciclo de estímulos, mas não, necessariamente, a um aumento dos juros nesta reunião:

  • inflação em alta, mas indo para a meta do BC,
  • recuperação da economia ainda lenta
  • endividamento público elevado.
  • Para o Goldman Sachs, apesar da inflação em alta, o índice de preços deve caminhar para a meta já neste ano e ser enquadrado no ano que vem, aliviando a pressão por uma alta mais rápida ou maior da Selic.

“Em 2022, a inflação deve caminhar para perto da meta e, no ano que vem, em breve, ganharão peso extra em função de reação do Copom”, disse o banco, em nota.

A inflação vem apertando as decisões do Copom, que segue pressionado para conter a alta dos preços ao subir as taxas, tirando crédito do mercado e, assim, diminuindo o consumo.

No ano passado, a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou 2020 com alta de 4,52%, acima dos 4,31% registrados em 2019, na maior taxa acumulada no ano desde dezembro de 2016, quando havia registrado 6,29%.

De acordo com o Goldman, a mediana da expectativa do mercado para a taxa Selic para no final do ano de 2021 é de 3,25% e, para 2022, de 4,75%.

Além da inflação, como a recuperação econômica ainda é lenta, o Copom só deve começar a subir a taxa básica de juros no segundo trimestre deste ano.

“A elevação da taxa Selic deve coincidir com o processo de recuperação da economia, e portanto o motivo para a retirada dos estímulos. O consumo deve continuar recuperando para o patamar pré-pandemia, principalmente com a volta da mobilidade e a retomada dos setores de serviços”, afirmou Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.

Outro ponto é o endividamento elevado do País, que faz com que o mercado exija prêmios maiores (leia-se uma taxa de juros maior) para ajudar o estado a se financiar.

“Cenários alternativos de deterioração do cenário fiscal continuam sendo a maior preocupação, oscilando o equilíbrio dos riscos para o lado positivo. Mas com a manutenção do regime fiscal, as mais recentes as previsões condicionais sugerem que ainda não haveria necessidade de pressa para aperto monetário”, disse o BTG, em nota.

Alta da Selic não deve afetar Bolsa

Apesar do fim do ciclo de baixa da Selic, os ativos listados na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) não devem sofrer com a saída de capital em busca do conforto dos títulos públicos.

“Teoricamente, uma taxa de juros maior significa que uma taxa maior de desconto que refletiria em preços menores dos ativos da Bolsa”, afirmou Eliseu Hernandez D’oliveira, especialista em renda fixa, produtos e alocação da Blue Trade.

“Entretanto, com a Selic a 3,25% ao ano, conforme o mercado está esperando, significa ainda que as taxas permanecem muito baixas para os padrões brasileiros. O investidor que busca maiores rentabilidades continuará a buscar na bolsa de valores a oportunidade de maiores ganhos”, completou.

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, apesar do fim do ciclo de baixa da Selic, a taxa básica de juros ainda estará abaixo do nível histórico do País.

“Além disso, os juros de longo prazo ainda estão bastante elevados e embutem altas significativas da taxa Selic, que não sendo necessárias, podemos até ver um efeito maior de desinclinação da curva de juros, o que tende a favorecer os investimentos no Brasil e impulsionar ainda mais a atividade. Nesse cenário de juros reais menores e expectativa maior de crescimento da economia, as bolsas também podem ser favorecidas”, concluiu.

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Vinicius Pereira

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