Selic: entenda o que impactou na redução do corte e como aproveitar a taxa mais alta
Na última quarta-feira, o Copom reduziu a Selic em 25 pontos-base, para 10,50%. A decisão apertada, com 5 votos a 4, não agradou o mercado, que esperava um corte de 50 pontos-base, e fez com que algumas casas de análise revisassem suas projeções de taxa terminal.
Alguns fatores explicam a redução do ritmo de cortes da taxa Selic na última reunião do Copom. Um deles é a incerteza quanto às metas fiscais do governo, que não passa confiança para o mercado quando o assunto é a austeridade.
“O cenário fiscal é essencial para a ancoragem das expectativas da inflação. Como as expectativas desancoraram no cenário fiscal, o BC acaba tendo menor espaço para seguir com os cortes de juros no ritmo que se esperava”, diz Alessandra Gontijo, CCO e sócia da Investo.
Outra questão que pesa bastante é a política monetária dos Estados Unidos. A expectativa do mercado era a de que os juros americanos começassem a cair em março, o que acabou por não acontecer. Agora, é possível que o relaxamento monetário por lá tenha início apenas em 2025, o que tende a influenciar os próximos passos do Copom.
“Caso o corte de juros no Brasil ocorra de maneira mais acelerada que nos EUA, é possível que haja um fortalecimento do dólar devido à alta demanda e valorização das treasuries americanas, o que pode desencadear em um aumento da inflação no Brasil. De certa maneira, o limite para o corte da Selic é dado pelo ritmo do corte de juros nos EUA”, afirma Gontijo.
Impactos para o Ibovespa
E esse cenário, conforme explicam os analistas, tende a se traduzir em uma tendência negativa para o Ibovespa, sobretudo pela falta de entrada de recursos estrangeiros na Bolsa brasileira.
“Isso se reflete em pessimismo para o Ibov, principalmente enquanto houver dúvidas em relação à política fiscal e monetária do Brasil e incertezas em relação ao corte de juros nos EUA, dado que todos estes aspectos causam impacto do fluxo de recursos para a bolsa brasileira”, comenta Gontijo.
“Juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos significa um vetor negativo para o índice Bovespa. Sobretudo por conta do custo de oportunidade da nossa bolsa, que passa a ter uma atratividade menor, mais fraca”, diz Eduardo Aun, gestor de Macro da AZ Quest
Segundo Aun, além do cenário ser negativo para o Ibovespa, ele também pode ser ruim na análise micro das empresas.
“Isso pega no custo financeiro das empresas, na parte do resultado. Isso pode refletir de alguma forma no ânimo em relação às companhias. Então se outros ativos estão rendendo mais, o dinheiro pode vir menos para cá. É um vetor que joga contra”, completa.
Quais são as perspectivas e como aproveitar a Selic mais alta?
Dada a atual conjuntura, os próximos passos da política monetária no Brasil ainda são um tanto incertos, como destaca Alessandra Gontijo.
“Ao analisarmos a curva de juros atualmente, é precificado mais um corte de 0,25% na Selic até o final do ano, para 10,25% a.a. No entanto, não há consenso em relação ao ritmo dos cortes, principalmente ao analisarmos o placar da última reunião do Copom, o que aponta para algumas incertezas sobre a política monetária no médio prazo”.
Mesmo assim, complementa a CCO e sócia da Investo, existem oportunidades para o investidor, sobretudo pensando no dólar.
“Este cenário é particularmente atrativo para alocação global, principalmente em ativos com exposição ao dólar, devido ao fortalecimento da moeda nos últimos meses. O ETF WRLD11, que replica no Brasil o índice Vanguard® Total World Stock, investe em mais de 9.800 empresas ao redor do mundo. Através deste ETF, é possível dolarizar o patrimônio e acessar as maiores economias mundiais”, completa, citando investimentos para aproveitar a redução nos cortes da Selic.