Selic: cortes nos juros aumentam compras na Bolsa, mas podem esconder uma armadilha, diz gestor

No começo deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, de 12,75% para 12,25% ao ano, influenciando uma série de investimentos. Em entrevista ao canal Suno Notícias, no Youtube, Eduardo Aun, gestor de Macro da AZ Quest, afirmou que espera os juros terminais abaixo de 10% e listou as principais preocupações do mercado nesse cenário.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/08/Lead-Magnet-1420x240-A.png

De acordo com a o boletim Focus, para 2024, o mercado espera que a taxa de juros termine o ano em 9,25%. Já para 2025, a expectativa é de que a taxa Selic chegue a 8,75% e, em 2026, 8,50%.

Segundo Aun, uma das principais preocupações é o cenário externo. “A gente acredita que o juro terminal chegue abaixo de 10%. A grande restrição é o cenário externo – existem preocupações que são legítimas, como o aperto de liquidez no ano que vem, com as emissões corporativas.”

Para Aun, uma taxa terminal abaixo de 10% acarretaria em outro valuation para Bolsa e também impactaria o comportamento do câmbio, principalmente se houver um diferencial de juros menor entre os países.

“No final das contas, o juro é o grande juiz no valuation da Bolsa. A Selic abaixo de 10% vai incentivar a compra em Bolsa, com mais procura por um maior retorno em relação ao CDI”, explica o gestor. 

No entanto, Aun alerta que a Bolsa barata pode ser uma armadilha ao gestor. “Ela pode continuar barata e exigir um carrego que vai perder dinheiro rodando contra o CDI”. Em termos de setor, o gestor diz que a AZ Quest vem mantendo posições mais consistentes em ações de bancos e em small-caps, que tendem a se valorizar com a queda dos juros.

Em relação aos fundos, Aun lembra que o ano vem sendo difícil para a indústria, com ativos performando abaixo do esperado. Para ele, não houve grandes movimentos que facilitassem a vida dos fundos multimercados.

“A gente conseguiu ter uma performance melhor no primeiro semestre, quando vimos que os preços do Brasil estavam deprimidos em relação ao que achávamos que aconteceria no cenário local. Aproveitamos aquele stress no início do ano, em função da imprevisibilidade do que seria o governo. Neste segundo semestre está mais difícil, mas em razão do cenário externo”, conclui.

Selic: Entidades do setor produtivo divergem sobre corte na taxa

A decisão do Banco Central (BC) de cortar a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual é tímida e não impede a desaceleração econômica, na avaliação de entidades da indústria e de centrais sindicais, que pedem mais ousadia da autoridade monetária.

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) “compreensível, mas insuficiente”. A entidade ressaltou que a taxa de juros real (acima da inflação) está em 8,5% ao ano, 4 pontos percentuais acima dos juros neutros, que não estimulam nem desestimulam a atividade econômica.

“Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que nós precisamos. Na verdade, estamos em uma armadilha, porque a nossa Taxa Selic atingiu um patamar bastante desestimulante. Entendo que não é possível fazer uma queda abrupta, mas o Banco Central poderia ser um pouco mais desafiador e ter iniciado uma redução mais acelerada”, afirmou em nota o novo presidente da CNI, Ricardo Alban.

Já a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) considerou a decisão acertada, em função do cenário econômico atual. A entidade avalia que os dados recentes evidenciam dinâmica mais favorável da inflação para o consumidor. “As projeções para a inflação, em 2024 e 2025, indicam estabilidade, permanecendo dentro da meta estabelecida. Além disso, os indicadores econômicos de curto prazo sustentam a perspectiva de desaceleração nos próximos trimestres”.

Apesar da análise positiva, a Firjan destacou que fatores externos trazem incertezas ao cenário atual, como a elevação das taxas de juros nos Estados Unidos e a guerra no Oriente Médio, que trouxe preocupações para o mercado de energia. “Mais do que nunca, é fundamental manter o compromisso firme com o equilíbrio fiscal e com as metas estabelecidas. A solvência da dívida pública desempenha um papel crucial no amortecimento dos efeitos das incertezas que permeiam o cenário internacional. A credibilidade fiscal é um pilar essencial para preservar a percepção do risco país e favorecer a continuidade dos cortes de juros”, indicou a Firjan.

Fundos multimercados têm ano difícil e registram perdas

Grande parte dos fundos de multimercados vem obtendo resultados abaixo do esperado em 2023, principalmente quando comparado aos rendimentos do ano anterior. 

No geral, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais), os fundos de investimentos tiveram mais saídas do que aportes de janeiro a setembro, totalizando R$ 84,6 bilhões de resgates líquidos. 

Os dados mostram que o resultado foi puxado pelas classes de multimercados, ações e renda fixa. Os fundos de multimercados tiveram uma retirada líquida de R$ 57 bilhões, sendo responsável pela maioria dos resgates. 

Para Marco Prado, CIO da BullSide Capital, um dos fatores que influenciaram as retiradas foi um cenário macroeconômico mais imprevisível. “O investidor migrou para produtos mais seguros. No caso, a renda fixa, pois a renda variável ficou completamente exposta.”

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/Ebook-Acoes-Desktop.jpg

A dificuldade dos gestores de captar tendências econômicas também foi apontada por analistas como um dos pontos de dificuldades dos fundos. Segundo João Arthur, CIO da Suno Wealth, a classe de multimercado para operar bem precisa ter um cenário de volatilidade, a fim de tomar risco.

“Tivemos o mercado piorando de janeiro a março, dando uma oportunidade do mercado de bolsa, câmbio e juros operar de maneira pessimista, mas não operou. Novamente, nos últimos dois e  três meses, o mercado piorou, mas a cota dos fundos de multimercado não reagiu”, explica Arthur. 

De acordo com Arthur, boa parte da perda no multimercado ocorreu por causa de juros, ou por erros na perspectiva sobre a queda na Selic. O analista aponta ainda que agora os fundos estão bem pessimistas sobre a queda do juros. “Se o juros caírem mais que o esperado, é possível ver as cotas do multimercado ‘sofrerem’ um pouco mais”, destaca.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/04/1420x240-Planilha-vida-financeira-true.png

Vinícius Alves

Compartilhe sua opinião

Receba atualizações diárias sobre o mercado diretamente no seu celular

WhatsApp Suno