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Com Selic elevada, vale a pena manter fundos de debêntures incentivadas?

fundos de debêntures incentivadas

fundos de debêntures incentivadas. Foto: Unsplash

A combinação entre crédito privado e isenção de imposto de renda fez dos fundos de debêntures incentivadas uma das apostas dos investidores de renda fixa nos últimos anos. Mas com a persistência dos juros elevados, o desempenho dessas carteiras passou a oscilar — e muitos investidores começaram a questionar se ainda vale a pena manter esse tipo de fundo na carteira.

Segundo Ricardo Colin, head de crédito privado da Drys Capital, é importante entender que nem todos os fundos de debêntures incentivadas reagem da mesma forma aos movimentos de juros. Alguns são estruturados para acompanhar índices de inflação, como o IMA-B ou IMA-B5. Outros usam derivativos para tentar neutralizar os impactos das taxas prefixadas — e, por isso, tendem a ser mais estáveis.

“No caso dos fundos que fazem hedge, os efeitos da alta de juros tendem a ser pequenos, porque os ganhos e perdas dos ativos são compensados por posições nos derivativos”, explica.

Já nos fundos que seguem o IMA-B5, o cenário é mais sensível: quando os juros sobem de forma inesperada, pode haver perdas de curto prazo. Mas, segundo Colin, esse efeito pode ser suavizado quando há alta da inflação, queda nos prêmios de crédito ou uma gestão que opte por encurtar os prazos da carteira (a chamada duration).

No primeiro trimestre de 2025, por exemplo, o IMA-B5 teve desempenho de 3,1%, acima dos 2,1% registrados pelo CDI no mesmo período — resultado puxado por um IPCA acumulado de 2% no trimestre. “Só a parcela da inflação já entregou praticamente o CDI”, afirma o gestor.

Com taxas reais elevadas, fundos ainda fazem sentido

Apesar da volatilidade, Colin defende que os fundos de debêntures incentivadas continuam interessantes — especialmente num momento em que os títulos públicos de longo prazo estão pagando prêmios elevados. Isso inclui tanto os fundos não listados quanto os FI-Infra.

A Drys Capital analisou o histórico do índice IMA-B5 e mostrou que, quando a NTN-B 2035 oferece IPCA +6% ao ano, o índice superou o CDI em 93% das janelas seguintes de 12 meses. Quando a taxa ultrapassa IPCA +7%, a probabilidade sobe para 95%.

“As taxas estão altamente atrativas e os emissores têm bom risco de crédito”, afirma. Em março, o fundo Drys Debêntures de Infraestrutura oferecia taxa implícita de IPCA +8,59% ao ano, com mais da metade da carteira composta por ativos AAA. Já o fundo listado da casa, o INFB11, tinha retorno estimado de IPCA +9,48% ao ano.

Gestão ativa e cenário regulatório impulsionam o segmento

Além da atratividade das taxas e do perfil de longo prazo, fatores regulatórios e a atuação ativa dos gestores também têm contribuído para o desempenho recente dos FI-Infra.

Segundo Laurence Mello, CIO de Fundos Alternativos e Crédito da AZ Quest, a valorização das debêntures incentivadas é favorecida por uma demanda crescente por ativos isentos de impostos. O movimento ganhou força após a mudança na resolução 5.118 do CMN, que alterou o lastro das emissões de CRIs, CRAs, LCIs e LCAs — elevando a procura por debêntures incentivadas e, consequentemente, seus preços no mercado secundário.

Mesmo em um ano desafiador para os índices de inflação, a estratégia da AZ Quest conseguiu se destacar. O fundo AZ Quest Debêntures Incentivadas teve rendimento de 0,87% em um mês de referência recente (ante 0,59% do IMA-B5), acumulando 8,95% no ano.

De acordo com Mello, esse resultado se deve principalmente ao fechamento dos spreads de crédito — reflexo de uma gestão ativa focada em capturar oportunidades mesmo em ciclos de maior volatilidade.

Risco de crédito: o que o investidor precisa observar

Mesmo com retornos elevados, os fundos de infraestrutura carregam um risco central: a saúde financeira das empresas emissoras das debêntures.

Colin reconhece que esse tipo de análise pode ser inviável para o investidor pessoa física fazer por conta própria. “É um esforço hercúleo para quem não tem formação em crédito. Por isso, é importante contar com profissionais especializados, acessar conteúdos de research ou delegar a decisão a uma gestora com experiência no setor”, orienta.

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