Copom: corte da Selic em 0,5 ponto percentual é consenso entre analistas

Considerado o evento mais aguardado da agenda da semana no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), pode confirmar amanhã (20) mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa de juros, a Selic. Hoje, a taxa está em 13,25% ao ano. A reunião teve início hoje (19) às 10h16.

Terminou às 18h36 a segunda parte da sessão de análise de conjuntura do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que havia começado às 14h14. A análise de conjuntura é a primeira fase do Copom, em que se revisita temas importantes para a tomada de decisão da taxa Selic. A discussão sobre a conjuntura ainda se estende pela manhã desta quarta-feira, 20. Amanhã à tarde, ocorre a segunda parte do encontro, quando o comitê define o nível da Selic, que é anunciado a partir de 18h30.

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Na última reunião de agosto, o Copom anunciou o primeiro corte da taxa Selic desde agosto de 2020, de 13,75% ao ano para 13,25%. A decisão não foi unânime, mas chamou a atenção pela intensidade do ajuste, abrindo caminho para um maior afrouxamento monetário.

A Warren Rena espera que o comitê reduza a Selic em 0,50 ponto percentual, para 12,75%, em linha com o sinalizado na reunião anterior e as expectativas amplamente majoritárias do mercado.

“Consideramos ainda como mais provável que o comunicado repita a mensagem de que os membros do comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, aponta Sérgio Goldenstein, economista-chefe da casa.

Ainda para Goldenstein, um ritmo de ajuste mais intenso estaria em desacordo com a clara sinalização anterior do Copom, com a projeção de inflação acima da meta e com a piora de alguns riscos altistas. Segundo ele, isso poderia ainda levar uma desancoragem adicional das expectativas de inflação e a um maior desvio das projeções de inflação com relação à meta, levando a uma perda de credibilidade da política monetária.

“Assim, acreditamos ainda que a comunicação do Copom deverá ser bastante similar à reunião anterior, reiterando o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, e indicando a manutenção do ritmo de ajuste”, acrescentou.

Para os analistas Victor Guglielmi, Rafael Pacheco e Fernando Siqueira, da Guide Investimentos, o grupo deve seguir sua sinalização do último comunicado e cortar a Selic em 0,5 ponto percentual.

“O cenário mostrou deterioração em alguns aspectos desde a última reunião, sobretudo nos mercados internacionais, mas os dados correntes de inflação mostraram tendência mais benigna. O comunicado deve antever novo corte de mesma magnitude para a reunião seguinte”.

Ainda de acordo com a casa, a evolução no contexto geral foi mais negativa desde a última reunião, o que reforça que o Copom deve manter seu discurso de que a barra esta alta para uma aceleração do ritmo de corte da Selic, já antecipando uma redução de 0,5 ponto percentual na reunião de novembro.

“Existe chance de que a reunião de dezembro traga um corte maior, mas acreditamos que o cenário mais provável continue sendo um ajuste de mesma magnitude. Esperamos que a Selic feche 2023 em 11,75% e 2024 em 8,75%”, acrescentaram os analistas.

Percepções de bancos estrangeiros

Para o banco britânico Barclays, o Copom deve seguir o plano de voo divulgado na sua última reunião e reduzir a taxa Selic de 13,25% para 12,75% na quarta-feira (20). A instituição espera manutenção do ritmo de quedas em 0,5 ponto porcentual por reunião, mas reconhece que uma aceleração é possível.

“Esperamos que o Copom corte a Selic em passos de 0,5 ponto porcentual no futuro próximo, mas não podemos descartar a possibilidade de cortes maiores mais adiante no ciclo, à medida que o horizonte relevante da política monetária gradualmente muda para 2025″, afirma o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, em relatório.

Nesta linha, o Goldman Sachs também acredita que o comitê deve reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual. Para o banco americano, o colegiado deve sinalizar que manterá esse ritmo de cortes ao menos na reunião seguinte, em 1º de novembro.

“Esperamos que o Copom mantenha uma barra relativamente alta para acelerar o ritmo de cortes no curtíssimo prazo”, afirma o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.

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Corte de 0,5 ponto percentual também é consenso entre grandes bancos brasileiros

Em relatório, o Santander (SANB11) afirmou esperar que o Copom corte a taxa Selic em 50 pontos-base na próxima reunião, previsão que, segundo o banco, está em linha com o consenso dos analistas e com o precificado na curva de juros.

“Em nossa visão, a possibilidade de um ritmo mais acelerado de cortes está aumentando devido às nossas expectativas de melhorias contínuas na dinâmica de inflação no curto prazo – especialmente nos serviços – e de uma desaceleração maior da atividade nos próximos trimestres”.

Ainda de acordo com a instituição, dado que o Banco Central parece estar atribuindo maior peso às condições correntes, a aceleração do ritmo poderá se dar até o final deste ano, ou ainda no início do próximo.

“No entanto, acreditamos que um ritmo mais acelerado para as reuniões seguintes ainda não será sinalizado pelo Banco Central, uma vez que as principais variáveis do seu modelo de projeção se deterioraram desde a última reunião, o que deve levar a piora em suas projeções de inflação e um tom hawkish ao comunicado. Nossa visão atual, portanto, é que o ritmo de 50 pontos-base ainda é o mais provável, ao menos para as duas próximas decisões”, pontuou o Santander.

Já para o Itaú (ITUB4), o Copom deve anunciar um novo corte de 50 pontos-base da Selic em setembro, repetindo por ora que há unanimidade para manutenção do ritmo e, portanto, sem abrir espaço para discussão de aceleração do ritmo de cortes no curto prazo.

“A dinâmica mais benigna da inflação de serviços, no entanto, assim como a esperada desaceleração da economia (que deve ficar mais evidente ao longo da segunda metade do ano), devem permitir cortes maiores na virada do ano, bem como um ciclo mais profundo”, acrescentou o banco, apostando que a taxa Selic encerre 2023 em 11,50% a.a., e 9,00% em 2024. 

Por sua vez, um levantamento realizado pelo BTG Pactual entre os dias 12 e 15 de setembro que procurou saber a prospectiva do Copom, reforçou as expectativas do mercado de corte na taxa.

Das 57 pessoas que responderam à pesquisa, quase 93% julga que o grupo cortará a Selic em 50 pontos-base na próxima reunião e, em novembro, aproximadamente 90% dos respondentes anteveem outro corte em igual proporção.

Além disso, segundo a pesquisa realizada pelo BTG, cerca de 49% dos pesquisados veem a taxa Selic encerrando 2023 em 11,75%, enquanto quase 45% projeta a taxa de juros no intervalo entre 11,25% e 11,50%.

Para 2024, há vantagem para o grupo que enxerga a taxa entre 8,50 e 9,25% (cerca de 53% dos respondentes), seguido por aqueles que veem a Selic entre 9,50 e 10,25% (quase 30% dos pesquisados).

XP: sem espaço para aceleração

Os economistas Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, da XP, lembraram que desde a divulgação da ata da última reunião, as expectativas de inflação de médio prazo praticamente não se alteraram, permanecendo acima da meta, e o PIB do 2º trimestre ficou acima do esperado.

“A inflação de serviços veio melhor do que o previsto no IPCA de julho e agosto, embora não substancialmente melhor, em nossa opinião”, explicou a casa. No período entre as reuniões, diz a XP, seus membros repetiram, diversas vezes, que a “barra é alta” para uma aceleração, as preocupações fiscais aumentaram, os preços do petróleo subiram novamente para mais de U$ 90/barril e houve depreciação do Real.  

“Assim, não vemos razões para o Copom considerar um corte de 0,75 ponto percentual na reunião desta semana. Outro corte de 0,50 ponto percentual – unânime, desta vez – é de longe o cenário mais provável”, reforçou.

Ainda de acordo com a XP, considerando a dinâmica benigna da inflação de serviços e o fato da política monetária estar em patamar bastante restritivo, o Comitê deve manter a discussão sobre eventual aceleração no ritmo de redução de juros em seu comunicado oficial.

“O ritmo de 0,50 ponto percentual por reunião parece ser o mais seguro para garantir juros mais baixos de forma sustentável adiante. Com projeções de inflação acima da meta e indicadores de atividade acima do esperado, não parece haver urgência para um afrouxamento monetário muito antecipado”.

De toda forma, cita a casa, como há confiança em um espaço relevante para cortes de juros, o Copom pode trocar três reduções de 0,50 ponto percentual por duas de 0,75 ponto percentual ao longo do caminho.

Em relatório, a XP continua a ver a política fiscal expansionista como um limitador para uma flexibilização monetária mais intensa. Além disso, o mundo discute o risco das taxas de juros nos países desenvolvidos serem mais elevadas no longo prazo, o que também tenderia a limitar a queda de juros no Brasil. A casa mantém o cenário de taxa Selic a 11,75% no final de 2023 e 10,00% em 2024.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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