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Selic baixa sem âncora fiscal é ‘produzir inflação’, diz Campos Neto

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Taxas sobem após fala de Campos Neto e avanço no rendimento dos títulos dos Estados Unidos. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (1º), que o Brasil precisará, no médio prazo, de um programa que gere a percepção de um choque fiscal positivo, se quiser conviver com Selic mais baixa de forma sustentável.

“Optar por juros [Taxa Selic] artificialmente mais baixos sem ter a âncora fiscal é equivalente a produzir um ajuste via inflação no médio prazo”, ele disse, em um evento organizado pela Crescera Capital, em São Paulo.

“A gente precisa buscar uma harmonia entre a política fiscal e a política monetária.”

Segundo o presidente do Banco Central, o mercado vem falando repetidamente da importância de transparência da política fiscal. Isso significa, ele explicou, que é importante saber que o resultado primário de fato representa um esforço fiscal associado àquele número.

Roberto Campos Neto repetiu que, sempre que o País conseguiu diminuir a taxa Selic de forma sustentável, esse movimento foi acompanhado pela percepção de um choque fiscal positivo. Se o mercado duvida da trajetória da dívida, a parte longa da curva de juros sobe e torna-se difícil conviver com taxas baixas, disse.

Campos Neto acrescentou que o Brasil não é o único país com dificuldade para fazer superávits primários e que obter esses números é importante para pagar os gastos da pandemia. Por isso, afirmou que a precificação do País ainda parece “exagerada.”

Convergência de inflação na América Latina e geopolítica no radar

O presidente abriu a palestra destacando o efeito da alta dos juros na convergência da inflação global após a pandemia. Porém, ponderou, esta convergência teve uma pausa mais recentemente, sendo que a inflação cheia na América Latina voltou a subir, puxada por alimentos e bebidas.

No evento, ele destacou, ainda em sua abordagem sobre o cenário externo, que a inflação de serviços está muito alta em vários lugares do mundo, dado o mercado de trabalho apertado na esteira de mudanças estruturais.

Além do cenário geopolítico “bastante complexo”, Campos Neto citou a dívida global muito alta como um grande desafio do mundo, e disse que a produtividade está ruim na Europa, ao mesmo tempo em que recua na Ásia.

Tanto a fragmentação do comércio global quanto a transição verde, observou, trazem um custo no curto prazo a ser observado pelos banqueiros centrais.

Segundo Campos Neto, o envelhecimento da população é também um grande desafio à frente.

O presidente do BC também fez observações sobre as eleições norte-americanas, cujas propostas dos candidatos, reiterou, são inflacionárias, como a maior restrição a produtos chineses, assim como não endereçam o problema fiscal.

A avaliação é de que o avanço do protecionismo, sugerido pelas campanhas, pode impactar o crescimento tanto da China quanto dos Estados Unidos.

Mercado espera Selic de 11,75% neste ano

Conforme a edição mais recente do Boletim Focus a expectativa do consenso do mercado financeiro é de uma Selic de 11,75% em 2024. Para o ano que vem a projeção é de 10,75% de taxa básica de juros.

Com Estadão Conteúdo

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