Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (8), o Banco Central (BC) afirmou que a decisão de redução da taxa de juros, a Selic, de 13,75% para 13,25% ao ano tem forte compromisso com a reancoragem e dinâmica inflacionária. Mas é ‘pouco provável’ uma intensificação adicional no ritmo de ajustes.
“Tal confiança viria apenas com uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação, tais como uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”, pontuaram os membros do Copom no documento.
A decisão tomada na semana passada – que não foi unânime – surpreendeu o mercado, cuja maioria esperava uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros. Quatro (Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gome) dos nove membros do Copom votaram por essa diminuição mais “parcimoniosa”.
Com os votos da maioria do comitê (Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso), de 0,5 p.p, o mercado já apostava em uma intensificação do ritmo de ajustes dos juros. O Boletim Focus desta semana trouxe estimativas que apontavam para uma Selic a 11,75% no final do ano, contra 12% previstos do documento antes da decisão do Copom.
Contudo, a ata divulgado hoje pode impactar nessas perspectivas.
O que o Copom avalia?
O Copom avaliou que apesar de uma certa desinflação sendo observada na margem, ainda há núcleos de inflação elevados, desaceleração gradual da atividade e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países, com os bancos centrais das principais economias determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas.
O conjunto de indicadores macroeconômicos recentes sugere um cenário de desaceleração gradual da atividade. Os membros do Comitê destacaram o forte desempenho da agricultura, concentrado no primeiro trimestre, mas observaram alguma retração no setor de comércio, estabilidade na indústria e certa acomodação no setor de serviços, após ritmo mais forte nos trimestres anteriores.
“Com relação aos próximos passos, os membros do comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, sinaliza a ata.
Copom: redução da taxa é estratégica para o longo prazo
Sobre a decisão em reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, o Copom observou que ela é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025.
O comitê reforçou, ainda, a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
O grupo considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante.
Para o Copom, a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda “serenidade e moderação” na condução da política monetária.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
A magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos, disse o Copom.
Arcabouço fiscal
O comitê retirou de seu balanço de riscos a incerteza residual sobre a aprovação do arcabouço fiscal, mas em sua discussão, notou que a dinâmica fiscal seguia sendo relevante em seu cenário-base.
Segundo o Copom, alguns membros avaliaram que persiste alguma incerteza entre os agentes sobre a superação dos desafios fiscais, evidenciada nas expectativas de resultado primário que divergem das metas estabelecidas pelo governo, e que isso pode também estar se refletindo em expectativas de inflação desancoradas para prazos mais longos.
A equipe ressalta que, entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, além de uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Já entre os riscos de baixa, o Copom destaca uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global, além de impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Decisão em manter postura conservadora foi consensual
Segundo a ata, o Copom julgou haver mérito tanto na opção de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual como em 0,50 ponto percentual, reforçando que, qualquer que fosse a decisão, era consensual que um cenário com núcleos de inflação ainda acima da meta e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária.
No texto, o Comitê afirma que um grupo defendeu uma redução da taxa de juros mais parcimoniosa, não observando alterações relevantes no cenário ou projeções que justificassem uma reavaliação dessa sinalização.
Enquanto isso, diz o Copom, outra equipe considerou que a postura de política monetária em patamar significativamente contracionista permite um início do ciclo de ajustes da Selic já no ritmo moderado considerado para as próximas reuniões, sem detrimento do comprometimento com a meta e a credibilidade da política monetária.