A trajetória de redução da taxa básica de juros, a Selic, ainda que de forma gradual, aliada a ativos nacionais que mantêm descontos significativos na Bolsa, são os principais impulsionadores para o desempenho do Ibovespa no curto prazo. No entanto, analistas entrevistados pelo Broadcast (o sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apontam que essa perspectiva poderia ser prejudicada por influências adversas do cenário internacional – entre as quais, uma aversão ao risco mais pronunciada, como a observada em agosto – e por uma postura fiscal menos favorável no Brasil.
“Se Bolsa barata e afrouxamento da política monetária são aceleradores para o Ibovespa, o freio pode vir lá de fora e do fiscal brasileiro”, resume Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos. Notícias sobre pressão nos gastos públicos e aumento de impostos, características do atual governo, segundo ele, podem desancorar as expectativas do mercado em torno da inflação.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações do BTG Pactual, diz que há possibilidade de o Ibovespa ter uma “segunda pernada” de alta, caso o governo federal consiga fechar o gap do déficit zero, anunciando ideias para sustentá-lo.
Mas, neste momento, a preocupação prioritária parte mais do exterior (Estados Unidos, principalmente) do que do Brasil. O receio do estrategista da Genial é de um cenário de estagflação [inflação ainda persistente com uma economia cedendo] que, em sua opinião, seria bastante negativo para as ações globais, e o Brasil inclusive.
Além dos ativos ainda muito descontados, especialmente aqueles ligados à economia doméstica e de menor capitalização, a taxa Selic também tem uma trajetória de efeito positivo sobre a Bolsa. Segundo Villegas, historicamente falando, cada queda de 1% da taxa básica de juros corresponde, em média, a uma alta de 8% na Bolsa brasileira.
A próxima decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sobre a Selic ocorre na próxima quarta (20) — mesmo dia em que o Federal Reserve (Fed) vai anunciar a taxa de juros do país.
Na última reunião do Copom, os juros do Brasil caíram de 13,75% para 13,25%.
Investidores apostam na queda da Selic como catalisador do Ibovespa
Esta temática sobre a relação entre juros e a Bolsa, está implícita na conduta do mercado. Em uma enquete promovida com investidores durante a 24ª Conferência Anual do Santander, 68% dos entrevistados apostaram que a queda dos juros será o principal catalisador para este segundo semestre. É também por isso que o desempenho de agosto do Ibovespa, apesar de encerrar no vermelho, não surpreendeu o estrategista de ações da Santander Corretora, Ricardo Peretti, para quem o mercado tende a voltar a se valorizar no médio e longo prazos.
“O mercado realizou muito em agosto. E muito mais por fatores externos (80% a 90%) do que domésticos”, diz Peretti, lembrando que o movimento de baixa da Bolsa no mês passado coincidiu historicamente com a realização de lucros do mercado. Com os Treasuries, os títulos do Tesouro dos EUA, mais atrativos e temor da China, os estrangeiros retiraram R$ 13,205 bilhões da B3 em agosto.
Segundo Peretti, num horizonte de seis a 12 meses, sempre do mês depois que o BC dá o pontapé inicial de um novo ciclo de baixa da Selic, na média, a Bolsa brasileira volta a se valorizar de 15% a 20%. “A gente ainda realmente acha que isso vai acontecer, porque essa temática de queda de juros é muito forte no mercado”, afirma, admitindo que não é nenhum absurdo imaginar um Ibovespa fechando o ano mais próximo dos 125 mil pontos.
É a mesma perspectiva traçada por Villegas. Hoje, seu alvo para o Ibovespa fica entre 122 mil e 125 mil. “Poderia ir até 131 mil pontos, mas precisaria ter uma convergência de fatores positivos, tanto externamente quanto internamente, cenário de menor probabilidade. Então, vejo um Ibovespa neutro daqui até o final do ano”, afirma.
Já Zanlorenzi, do BTG, parece um pouco mais otimista e estima uma média de 140 mil pontos para os próximos 12 meses, caso algumas premissas macroeconômicas sejam atingidas. “Não achamos que a Bolsa deixou de estar barata, nem que não reduzimos o risco Brasil com o arcabouço”, afirma. Ele diz ainda que dois fatores importantes do exterior já parecem mais precificados: a China e a taxa de juros dos EUA.
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Resultado X Rentabilidade na próxima temporada de balanços
Para a temporada de balanços do terceiro trimestre de 2023, Villegas, da Genial, aponta que as empresas, como reflexo do início de ciclo de cortes da Selic, devem mostrar melhores resultados financeiros, que estão mais relacionados ao custo das dívidas que elas têm, mas a rentabilidade do período ainda “não deve surpreender”.
Peretti, da Santander Corretora, do ponto de vista da Selic, também não vê surpresas positivas nas performances que serão apresentadas no terceiro trimestre. E até arrisca antecipar que a próxima safra de balanços, inclusive, será bem similar à última, encerrada em junho. No ano contra ano, ele acredita que os detratores ainda serão as commodities.
Com Estadão Conteúdo