O mercado financeiro avalia que a decisão do Comitê de Política Monetária, o Copom, de elevar a Selic, a taxa básica de juros, em 1 ponto percentual para 11,75% ao ano foi equilibrada e neutra em relação às expectativas do mercado, que já havia precificado o ajuste nessa magnitude.
Foi a nona elevação seguida da taxa de juros. É o maior patamar desde abril de 2017.
A principal novidade desta reunião do Copom foi a disparada das commodities com o conflito no leste europeu entre Ucrânia e Rússia, que fez subir o preço de combustíveis e de alimentos, itens importantes na cesta de consumo dos brasileiros.
Com o cenário incerto e a alta volatilidade ainda presente nos mercados, a postura do comitê foi bem recebida pelo mercado, que considerou a decisão do BC adequada às condições atuais.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que a autoridade monetária quis sinalizar um fim de ciclo com taxas não tão elevadas, mas apenas se as condições preconizarem uma austeridade maior.
Confira a seguir a avaliação de instituições financeiras sobre a decisão do Copom:
Itaú espera Selic terminal a 13% a.a.
Entre os pontos tratados pelo comunicado, o Itaú Unibanco (ITUB4) destaca que o Copom considera dois cenários de perspectiva para a inflação, com trajetórias mais e menos agressivas para os preços do petróleo.
“Em particular, avalio que o choque de oferta decorrente do conflito [entre Rússia e Ucrânia] tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas”, reforçou artigo assinado pelo economista-chefe, Mario Mesquita.
O banco disse que espera outra alta da Selic, de 1,0 p.p. na reunião de maio e seguido de outro aumento de 0,25 p.p. na reunião seguinte, o que elevaria a taxa de juros para 13% a.a., ao fim do ciclo de alta. Caso seja necessário, o banco não descarta revisar o cenário após a divulgação da ata na semana que vem (22).
Copom vigilante, mas equilibrado
Para o Goldman Sachs, a decisão da reunião do Copom mostra que a autoridade monetária brasileira está no fim do ciclo de altas da taxa básica juros e se aproximando do pico. Segundo o banco, o Copom mantém uma postura “vigilante, mas equilibrada”.
“O Copom segue na ofensiva na calibragem da política monetária, particularmente considerando a deterioração adicional, tanto das expectativas e previsões de inflação para 2022”, afirma em relatório assinado por Alberto Ramos, head de Pesquisa Econômica para a América Latina.
“Entretanto, tudo tem um limite. Considerando que a clara postura monetária já está em terreno contracionista e a defasagem de efeito das altas recentes da taxa de juros, estamos entrando no ciclo final de ajustes finos”, declara a instituição.
Após o comunicado do Copom, o Goldman Sachs disse que espera mais um aumento de 1,00 p.p. na próxima reunião, em maio, e outra elevação, de 0,25 p.p. a 0,50 p.p., na reunião em junho, o que colocaria a Selic entre 13,00% a.a. e 13,25% a.a. O banco não projeta cortes na taxa antes de 2023.
Porta aberta para Selic mais alta ou por mais tempo
O Bank of America nota que a decisão unânime de elevar a Selic em 1 p.p. vem em linha com as perspectivas do mercado financeiro. Em relação às expectativas do banco, o BofA avalia que o comunicado foi neutro: nem muito duro, nem muito suave, ainda que a autoridade monetária tenha anunciado que vai avançar ainda mais em território contracionista.
“O Comitê deixou a porta aberta para a possibilidade de um ritmo de aperto maior ou um ciclo mais longo, o que daria mais tempo para avaliar os cenários extremamente incertos da guerra no leste europeu, bem como para os efeitos secundários sobre a inflação”, afirmou.
“Acreditamos que o aumento de preços por todo mundo deve reforçar a inflação resiliente e disseminada”, completa.
Após o comunicado, o BofA disse que espera mais um ajuste de 1,00 p.p. em maio e outro de 0,50 p.p. em junho, colocando a Selic a 13,25% a.a. no fim de junho. Este nível deve ser mantido até o começo de 2023, ano em que o Copom deve baixar as taxas para 10,50% a.a.
Governo também precisa ajudar
O Banco Inter (BIDI11) destaca que o Copom segue atento também ao risco fiscal, apontado como um fator de preocupação.
“Novas medidas fiscais, que possam estimular a demanda nesse momento, podem contribuir para manter a inflação elevada. E, apesar das contas públicas estarem apresentando melhor resultado, o risco de desancoragem de inflação ainda está associado a possíveis novos estímulos fiscais que possam ser implementados”, diz o banco.
“Ou seja, o governo tentar estimular a atividade nesse momento e terá como resultado juros maiores na economia”, observa o relatório assinado pela economista-chefe, Rafaela Vitória.
Para o banco, o cenário de inflação ainda elevada e os riscos de desancoragem até 2023 apontam para mais uma alta de 1,00 p.p. na Selic na próxima reunião em maio, a última de 2022. A expectativa é de uma taxa final de 12,75% a.a., com uma pequena probabilidade de os juros começarem a ser reduzidos a partir do final de 2022.
O principal fator que contribui para este cenário é a possibilidade de a demanda interna apresentar queda mais significativa, “o que pode acontecer pelo efeito defasado da política monetária, ou caso haja uma reversão mais significativa dos preços das commodities”.
Entretanto, o Inter reforça que o cenário mais provável é o Copom iniciar o ciclo de redução da Selic somente a partir do próximo ano.