A tão sonhada Disney foi ficando cada vez mais longe do brasileiro com o passar dos anos. A última vez em que o dólar foi negociado a R$ 2 aconteceu em abril de 2013. Desde então, a moeda mais que dobrou de valor e é negociada na casa dos R$ 5,20. A disparada do dólar reduziu as viagens e gastos dos brasileiros no exterior.
Dados do Banco Central apontam que, em 2013, os brasileiros gastaram US$ 25,3 bilhões em viagens internacionais. Já em 2019 — quando o câmbio já estava sendo negociado a R$ 4 e sem pandemia — as despesas ficaram em US$ 17,5 bilhões.
Com isso, a pergunta que fica é: seria possível ver o dólar a R$ 2 em um futuro próximo? Os especialistas consultados pelo SUNO Notícias dizem que não. Isso porque diversos fatores, como a política monetária e a política interna, afastam os investidores internacionais, que por sua vez, deixam de injetar dólar na economia.
Dólar a R$ 2 nunca mais?
Antes de analisarmos a situação econômica do Brasil hoje, a professora de Economia e coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da FECAP, Nadja Heiderich, nos convida a olhar o passado.
A crise de 2015, período no qual houve impeachment da então presidente Dilma Rouseff e déficit público, fez com que o risco país do Brasil aumentasse. Na continuação da linha histórica veio a pandemia, que deteriorou não somente o cenário no Brasil mas também no mundo. Portanto, tudo isso resulta em uma taxa de câmbio altíssima.
“A aversão ao risco tomou conta dos mercados, fazendo com que a taxa de câmbio subisse drasticamente. Mas aqui no Brasil a situação é mais grave por conta do histórico.”
Ou seja, desde 2015 os investidores estão mais cautelosos em investir no Brasil, o que reduz a entrada de dólar no país — essencial para controlar a volatilidade do câmbio.
Entraves para o câmbio ser negociado a R$ 2
A professora aponta dois entraves — entre muitos — que dificultam o dólar ser negociado no patamar dos dois reais.
Taxa Selic
De acordo com a professora, a taxa básica de juros (Selic) era um fator atrativo para os investidores internacionais. Historicamente, o brasileiro estava acostumado com uma taxa a mais de 10% ao ano (a.a.) e hoje se encontra em 4,25% a.a.
Os investidores viam o Brasil como um país atrativo até que o Banco Central decidiu reduzir a taxa para a mínima histórica de 2% a.a., no ano passado. “Isso fez com que parte dos estrangeiros saíssem”, disse a Heiderich.
Mas engana-se quem pensa que uma elevação da taxa seria suficiente para devolver a atratividade ao Brasil. O aumento da Selic poderia ser “um tiro pela culatra”.
“Seria um atrativo para capitais estrangeiros, mas isso acaba por outro lado deteriorando também a expectativa com relação ao governo pagar suas contas. Porque quando o governo eleva a taxa ele acaba elevando o custo da sua dívida e isso impacta também na expectativa dos investidores em relação ao nosso país, o que pode ser um tiro pela culatra.”
Redução de déficit público
Para que o Brasil consiga amenizar a volatilidade do câmbio seria necessário reformas estruturantes, como a reforma tributária e a reforma administrativa. Além de tornar contas públicas transparentes e dar andamento às privatizações.
“Acho que o caminho seria as reformas estruturantes. Enxugar a máquina pública e tornar as contas do governo mais transparente e eficientes. Esse problema pode ser resolvido e o investidor estrangeiro deve olhar melhor aqui para o Brasil e teremos incentivos para a atividade produtiva.”
No entanto, as reformas e as privatizações já estão sendo discutidas há tempos nos Congresso e até o momento não tiveram resoluções.
Dólar a R$ 2 só se o governo decidir
Na análise do economista-chefe da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), Reinaldo Cafeo, não dá mais para se pensar na moeda a R$ 2 em um futuro próximo. Isso só aconteceria se o governo decidisse fixar o câmbio neste valor.
“A única forma que você teria de ter um dólar a dois reais seria câmbio fixo. Mas se o governo decidir que o câmbio tem que ser de R$ 2, ele tem que ter dólar para ofertar. Outros países tentaram isso e se deram muito mal dentro do regime de câmbio flutuante.”
Então, para Cafeo o melhor é o brasileiro ir se acostumando com o dólar na casa dos R$ 5. “Nós vamos ter que nos contentar com o dólar operando, rodeando os cinco reais. Numa situação muito confortável, de grande oferta de dólar, ela pode ter queda, mas insisto, nunca chegará mais aos R$ 2.”