O lucro de R$ 3,81 bilhões do Santander (SANB11) no terceiro trimestre deste ano, anunciado nesta terça-feira (27), foi considerado positivo, mas graças à redução das provisões e até a um spread menor, o resultado não empolgou o mercado.
Próximo das 15h30 (de Brasília), as ações do Santander registravam queda de 4,75%, cotadas a R$ 33,26 no Ibovespa, o principal índice acionário da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). De acordo com especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, apesar de o resultado ser considerado positivo, ainda há dúvidas entre os especialistas.
“Acho que é um resultado bom, mas o Santander surpreendeu muito na provisão, que veio mais baixo que o esperado. Quando um resultado vem muito bem em provisão, não é algo muito bem avaliado pois não é algo estrutural, é algo feito em um trimestre”, disse Lucas Akira, analista da Absolute Investimentos.
As despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos (PDD) atingiram R$ 2,91 bilhões — equivalente a uma baixa de 7,5% na comparação com o mesmo período de 2019 e de 55% em relação ao segundo trimestre deste ano.
PDD é a sigla para provisão para Devedores Duvidosos e se refere a uma reserva de dinheiro feita pela empresa com foco em casos de inadimplência. Dessa forma, quanto maior for o risco de o cliente não pagar o que deve, maior deve ser o montante guardado pela empresa através da PDD.
A redução do PDD no Santander mostra que o banco está projetando uma queda na inadimplência – uma das grandes preocupações do mercado dada a crise causada pela pandemia do coronavírus (covid-19).
Com uma provisão menor, o banco conseguiu liberar mais recursos para o balanço do terceiro trimestre. Segundo o Santander, “esse desempenho é atribuído a melhoria end-to-end realizada ao longo dos últimos trimestres, como aprimoramento dos modelos matemáticos, maior qualidade na originação e evolução da multicanalidade para recuperações”.
O menor provisionamento também pode ter sido influenciado por decisão da matriz espanhola a fim de reportar dividendos maiores na operação global.
“Acreditamos que o alinhamento de interesses pode ser questionado pelos investidores, uma vez que o controlador espanhol poderia ter influenciado na decisão sobre o nível de provisionamento visando um payout maior“, disse, em nota, Marcel Campos, analista da XP.
Além disso, para Maurício Ramani, analista da Reach Capital, o resultado é positivo, mas os papéis caem pois o mercado antecipou que o Santander
“De alguma forma, o papel está caindo pois, apesar do consenso não estar tão otimista, o mercado deu uma antecipada, especialmente com as ações do Santander, que subiram bem nas últimas semanas”, disse.
Spread do Santander gera dúvidas
Outro ponto que especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias se atentaram foi na queda do spread bancário. Spread é a diferença entre o valor pago por uma instituição financeira para captar dinheiro e o valor que ela cobra para realizar empréstimos com esse mesmo dinheiro.
O volume médio obtido com clientes foi de R$ 397,081 bilhões no terceiro trimestre. O resultado mostra uma alta trimestral de 1,3%, mas o spread caiu 0,7 ponto porcentual, para 10,2%.
“O spread do banco caiu bastante, cerca de R$ 70 bilhões. Isso me decepcionou um pouco”, disse Lucas Akira, analista da Absolute Investimentos.
Para Maurício Ramani, da Reach Capital, a queda no spread pode vir a significar uma diminuição na inadimplência, dado a maior participação de programas de crédito consignado, por exemplo, na carteira da instituição financeira.
“Spread temos que entender um pouco melhor. No call com executivos do banco foi dito que a queda aumentou os créditos com garantia e, por isso, viria com uma queda futura da inadimplência”, disse Ramani.
“Tem que entender isso, se realmente vai ocorrer. É uma tendência, mas por outro lado, mostra que é possível ser rentável com spread baixo apenas acertando o risco”, afirmou o analista sobre o Santander.