A variação acima do esperado para o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) em dezembro, de 1,15%, é um choque de oferta na parte de carnes, sem nenhuma pressão de demanda que equilibre a inflação, segundo banco Santander (SANB3).
O principal indicador da inflação do Brasil subiu acima do esperado pelos analistas, após ter avançado 0,51% em novembro. Dessa forma, IPCA atingiu 4,31% no ano passado, ultrapassando o centro da meta estipulada pelo governo, que era de 4,25%.
Mauricio Oreng, economista do Santander, salienta que todos os indicadores subjacentes do aumento de preços, demonstra certa ausência de demanda para tal oferta. Segundo ele, os índices de difusão, que apresentam o quão espalhadas estão as pressões de inflação, estão rodando em torno de 50%. A média histórica para o indicador é de cerca de 62% a 63%.
Pelos cálculos do banco espanhol, o índice de difusão “cheio” dessazonalizado ficou em 54,7% no último mês de 2019, enquanto o índice que exclui a parte de alimentação ficou em 48,4%, também considerando o ajuste sazonal.
Para janeiro, o Santander espera uma alta de 0,35% para o IPCA, com a dissipação do choque do preço das proteínas. Ao final deste ano, a projeção do banco é de um avanço de 3,4% para a inflação. O Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira (6) pelo Banco Central (BC), espera que a inflação seja de 3,60%, abaixo do centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4%.
Saiba mais: Produção industrial recua 1,2% em novembro frente a outubro, diz IBGE
“Para 2020, o fundamento da inflação é favorável, com ociosidade da economia, expectativas ancoradas e câmbio relativamente bem comportado”, disse Orenga ao jornal “Valor Econômico”. “Além disso, o choque do setor de proteína antecipou muito da inflação para 2019 e tirou de 2020”, afirmou, reforçando ainda que há expectativa positiva também para os preços das contas de luz em 2020.
Quanto à possível pressão sobre o preço dos combustíveis, devido ao conflito entre Estados Unidos e Irã, Oreng disse que esse é um risco a ser monitorado. Mas, caso o choque não seja confirmado, também podem haver surpresas positivas, principalmente na gasolina.
Mudança no cálculo da inflação
A partir do próximo resultado mensal, a metodologia usada pelo IBGE para o cálculo da inflação, medida pelo IPCA, será alterada.
Perante os novos costumes de consumo dos brasileiros, identificados por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, o instituto decidiu mudar a cesta de produtos e serviços pesquisados mensalmente para se aferir ao aumento dos preços.
A nova estrutura irá considerar 377 produtos e serviços, com seis subitens a menos que a divulgada até o ano passado.
A pesquisa passará a incluir o acompanhamento de preços de 56 novos itens, como tratamento de animais domésticos e macarrão instantâneo. Enquanto itens os quais o peso ficou menor no orçamento dos brasileiros, como aparelhos de DVD, máquinas fotográficas, microondas e liquidificadores, sairão do cálculo da inflação.