A saída de Jean Paul Prates do cargo de CEO da Petrobras (PETR4) foi uma mudança inesperada, que “adiciona incerteza e aumenta a percepção de risco dos investidores”, segundo a XP.
A XP avaliou com preocupações negativas a saída de Prates em um contexto de elevada pressão política. A Petrobras confirmou o afastamento em fato relevante nesta terça-feira (14). Magda Chambriard, ex-diretora da ANP (Agência Nacional do Petróleo), deve substituí-lo no cargo de CEO da Petrobras.
O relatório da casa, assinado pelos especialistas Regis Cardoso e Helena Kelm, comenta as principais preocupações dos investidores de PETR4 com a mudança, abordando tópicos como a influência do atual governo na estatal de petróleo, a distribuição de dividendos e política de preços dos combustíveis.
“Vários veículos de comunicação noticiaram que o descontentamento político com a relativa independência da Petrobras do governo foi uma das principais motivações trás da mudança de CEO”, afirma relatório da XP.
Em relatório do Goldman Sachs, os analistas Bruno Amorim, Joao Frizo e Guilherme Costa Martins também ressaltam as questões políticas por trás da mudanças
“Observamos que a liderança da Petrobras mudou várias vezes no passado devido a desentendimentos entre a gestão e o governo – o que levou a uma queda no preço das ações nos dias seguintes aos eventos”, remontam os analistas.
Pontos sensíveis na troca de CEO da Petrobras (PETR4)
O contexto, segundo os especialistas da XP, deve levantar preocupações dos investidores minoritários sobre o possível risco de interferência do acionista majoritário – ou seja, o Governo – na gestão da empresa.
“Os investidores estão particularmente preocupados com conflitos de interesse em temas como distribuição de dividendos da Petrobras, política de preços, planos de investimento, passivos fiscais contingentes e outros”, comentam.
Para o Goldman Sachs, investidores devem ficar atentos a alterações na governança para além do anúncio da troca. “As leis atuais e o estatuto da estatal em vigor tornariam desafiador para uma nova gestão alterar significativamente as políticas de alocação de capital e de precificação de combustíveis”, ressaltam.
No curto prazo, a XP não espera mudanças significativas nos dividendos e planos de capex, mas reconhece que a troca repentina aumenta a incerteza e a percepção de risco dos ativos.
“Portanto, esperamos que as ações reajam negativamente na próxima sessão de negociação”, diz.
Às 11h23 (Brasília), os papéis da Petrobras derretiam 6,53% no Ibovespa.
BTG mantém recomendação de compra para as ações da Petrobras (PETR4)
Os analistas do BTG Pactual Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez reconhecem que a volatilidade das ações da Petrobras deve aumentar agora com o cenário de maior risco.
“Preferimos permanecer consistentes com a nossa decisão prévia e evitar uma reação exagerada a movimentos repentinos do governo. Ultimamente, acreditamos que a companhia vai perseguir uma nova fusão e aquisição (M&A) e adotar estratégias para reduzir a volatilidade do preço dos combustíveis”, afirmam os analistas.
Assim, a casa reiterou a sua recomendação de “compra” para as ações PETR4, com preço-alvo a US$ 19,00 para os ADRs PBR. Os ativos listados na bolsa de Nova York registravam queda de 7,73%, por volta das 10h30 (em Brasília), negociados a US$ 15,39. No fechamento de ontem, os papéis custavam US$ 16,69.
Saída de Prates: como ocorre a mudança na estatal?
A Petrobras anunciou que o até então CEO Jean Paul Prates renunciou nesta terça-feira (14).
Em troca, o Governo nomeou Magda Chambriard, ex-diretora da ANP (de 2012 a 2016) e com vasta experiência na indústria de petróleo e gás, além de ter trabalhado na petroleira entre 1980 e 2002. Chambriard possui mestrado em Engenharia Química pela COPPE/UFRJ (1989) e graduação em Engenharia Civil pela UFRJ (1979), com especialização em engenharia de reservatórios e avaliação de formações.
A XP avalia que Chambriard assumirá o comando da Petrobras em um “contexto desafiador de significativas pressões externas”.
O Banco Safra defende que a reação do mercado à mudança de presidente deve ser negativa, não por conta da indicação de Chambriard, mas devido à “percepção de risco com possível interferência política nas decisões da companhia”.
“Por outro lado, ela encontrará a empresa com uma forte geração de fluxo de caixa livre, um balanço patrimonial desalavancado e um portfólio de investimentos sólido”, balanceia a XP.
Os analistas Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz do Santander pontuam que, apesar de acreditarem na solidez dos estatutos e governança da Petrobras, que dificultam a implementação de “mudanças radicais”, é importante monitorar como essa mudança de CEO.
Segundo eles, a troca “poderia impactar potencialmente o ritmo de implementação e magnitude do capex, especialmente no segmento Downstream; a aceleração de projetos de fusão e aquisição (M&A) na Petrobras, especialmente em refino e petroquímica; e a precificação de combustíveis, especialmente dado o impacto potencial na geração de fluxo de caixa livre (FCF) e remuneração dos acionistas”, afirmam em relatório.
Segundo estatuto da Petrobras, a nomeação de um novo CEO não pode ser feita diretamente pelo acionista majoritário (Governo Federal), mas sim ser solicitada e aprovada pelo conselho de administração (CA). O indicado também precisa ser eleito como membro do CA da companhia.
“O caminho mais rápido para a nomeação é a renúncia de um dos membros do conselho atual, para que o novo nomeado possa ser designado como substituto no CA e subsequentemente eleito CEO – o que acreditamos que acontecerá neste caso”, finaliza a XP, explicando os próximos passos da sucessão na presidência da Petrobras.