Com Selic e risco fiscal, Safra piora projeção do PIB e do IPCA

Na sua revisão sobre os indicadores econômicos de 2022, o Safra deixou suas expectativas mais pessimistas para o Brasil, reduzindo a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) e aumentando a do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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Em 2022, o Safra estima um PIB de 0,6% ante 1,1% anteriores, com inflação de 4,1% – somente um ponto percentual acima do prognóstico anterior.

Para este ano de 2021, o banco revisou sua projeção do IPCA de 9,0% para 9,4%, ao passo que a previsão do PIB segue estável em 4,8%.

A projeção do Safra vem após o cenário fiscal do Brasil apresentar maiores riscos, com possibilidade do furo do teto de gastos para o pagamento do Auxílio Brasil. Nesse sentido, o Comitê de Política Monetário (Copom) do Banco Central (BC) aumentou os juros acima do que era esperado antes desse cenário – deixando a Selic a 7,75% ao ano, conforme decisão da quarta (27).

“A deterioração no cenário inflacionário sustenta um cenário com juros mais altos. O comunicado indicou que o ritmo do ajuste continuará o mesmo na próxima reunião”, dizem os analistas do Banco Safra.

Na publicação, a casa lembra que os membros do Copom incluíram um comentário sobre as contas públicas, ressaltando os questionamentos recentes sobre o arcabouço fiscal e o risco de desancoragem das expectativas de inflação.

A estimativa é de que ocorra nova alta de 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em dezembro. Em seguida, deve ocorrer uma elevação de 1 ponto na reunião de fevereiro do próximo ano, levando a Selic para o nível de 10,25% no primeiro trimestre de 2022.

A análise do Safra diz que a divulgação da Ata do Copom na próxima quarta-feira (3) deve “trazer informações adicionais e mais aprofundadas sobre as projeções e balanço de riscos do Banco Central”.

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No início do mês, Safra reduziu expectativa com Ibovespa

Além das projeções macroeconômicas, nos primeiros dias de outubro o time de analistas do banco revisou o preço-alvo para o Ibovespa de 145 mil pontos para 121 mil pontos em 2021, após “incorporar uma condição macroeconômica mais desafiadora no âmbito político, fiscal e da atividade”.

A análise, vale frisar, precede a decisão do Copom e as especulações sobre o furo do teto de gastos.

“Em um cenário econômico mais desafiador, agravados pela alta persistente da inflação, corroborando com premissas de juros mais elevados do que esperávamos anteriormente e crescimento econômico menor, elevamos as premissas de taxa de desconto e reduzimos as expectativas de crescimento de lucro para os próximos anos. Assim, passamos a ter uma avaliação mais conservadora para a bolsa brasileira”, afirma o Safra.

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“Acreditamos que a crise hídrica também é outro fator de risco a ser monitorado no ambiente doméstico. Por fim, considerando que o preço das commodities foi um grande impulsionador de resultados em 2021 para algumas empresas com peso representativo no índice, a recente queda no preço das matérias-primas e receios de uma maior desaceleração do crescimento econômico chinês são fatores que podem afetar a dinâmica de lucros para o Ibovespa nos próximos anos”, conclui.

Itaú reforça pessimismo

O Itaú BBA também projetou um ano de 2022 com cenário econômico mais preocupante. Os analistas revisaram o crescimento do PIB de 0,5% de crescimento para uma queda de 0,5%, além de projetarem uma Selic de 11,25% ante 9% anteriores.

Neste caso, a revisão ocorreu entre as especulações sobre o furo do teto de gastos e a decisão do Copom, publicada no dia 25.

“Notícias sobre o aumento dos gastos fiscais aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável. Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do Banco Central em manter a inflação na meta se torna mais difícil”, afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

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Segundo o relatório, o aumento da incerteza fiscal provocado pelos eventos da semana passada, que incluem o aumento do risco de um furo do teto de gastos com o Auxílio Brasil e um ‘vale-diesel’ para os caminhoneiros, eleva o Risco Brasil e é o principal driver para inflação mais alta – com 18,4% de IGP-M e 9% de IPCA ainda em 2021, aumento de 0,9 e 0,3 pontos percentuais, respectivamente.

Para o time de análise do Itaú BBA, o BC enfrenta os problemas de ter que acomodar choques sucessivos sem perder a credibilidade, o que exige um equilíbrio entre a sinalização do compromisso com as metas de inflação ao mesmo tempo que é necessário ‘cortar na própria carne’ para manobrar os juros a custos de crescimento econômico.

“Em nossa visão, elevar a taxa Selic em 1,0- 1,25 ponto percentual seria uma resposta inadequada, pois sinalizaria uma disposição excessiva para acomodar os riscos de inflação mais elevada, enquanto um movimento acima de 1,5 ponto percentual provavelmente levaria a uma taxa de juros terminal que colocaria a economia em recessão profunda. O meio-termo não evitará uma recessão, mas contribuirá para limitar o aumento das expectativas de inflação”, analisa o relatório.

Apesar de ser mais pessimista do que o Safra, o banco ressalta que a retomada de pautas como a reforma administrativa pode ser um sinalizador para uma maior ‘resiliência fiscal’, o que deve ajudar a aliviar a pressão sob o orçamento público e reduzir as incertezas do cenário econômico futuro.

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Eduardo Vargas

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