As ações ordinárias de Sabesp (SBSP3) despencaram no Ibovespa nesta terça-feira (1), liderando as quedas do índice, com o mercado repercutindo a notícia de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, confirmou que o modelo de follow-on, oferta subsequente de ações, foi o escolhido para a privatização da companhia. A informação tinha sido antecipada pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
No fechamento as ações ordinárias da Sabesp caíram 4,13%, cotadas a R$ 55,70.
Cotação SBSP3
Além da alternativa selecionada, outros três modelos foram analisados para a desestatização da Sabesp, segundo Tarcísio. O primeiro deles seria parecido com o da Eletrobras (ELET3), com regras mais rígidas e maior pulverização de capital. Na lista apareceram ainda a possibilidade de venda parcial ou total da companhia.
“Vamos seguir modelo de follow on, buscando investimentos de longo prazo”, afirmou o governador de São Paulo em coletiva de imprensa realizada na noite desta segunda-feira, 31.
Tarcísio considera que esse é o modelo mais adaptável para Sabesp por ser mais flexível. “O objetivo é oferecer uma maior concentração de capital para atrair investidores de referência”, complementou.
A expectativa é de que esse modelo de privatização da Sabesp garanta investimento para todos os municípios do Estado, mesmo os que não apresentam vantagem econômica. A redução da tarifa é outro benefício citado pelo governador.
O que os analistas acharam sobre o modelo de privatização?
Em relatório, analistas do Santander chamaram a atenção para a falta de detalhes sobre o modelo escolhido, mas mantiveram sua recomendação ‘outperform’, equivalente a compra, para as ações de Sabesp, com preço-alvo a R$ 83,75. “Acreditamos que a pronta divulgação de mais detalhes será fundamental para sustentar o bom momento da ação”, disseram.
Na visão de Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos, a notícia de que a privatização da Sabesp será realizada via follow-on é positiva, o que vai atrair mais investimentos para empresa, mantendo o Estado de São Paulo como acionista minoritário. Ele lembrou ainda que, na semana passada, a Sabesp também anunciou expansão de projetos de saneamento na região metropolitana de São Paulo no valor de R$ 470 milhões.
“O mercado como sempre seguiu a regra do ‘sobe no boato e cai no fato’. Em síntese, a empresa continua apresentando bons resultados e vemos como positivo esse processo de privatização, mas, como o papel já havia ‘antecipado’ o movimento de alta, vemos de forma saudável essa correção de hoje”, pontuou.
Ainda de acordo com Lemos, o mercado aguardava que o governador de São Paulo divulgasse mais dados sobre os investidores estratégicos (que já estariam interessados) e principalmente a regra do direito a voto na nova corporação. “Isso ficou para janeiro de 2024, frustrando o mercado, mas não muda a boa gestão que a empresa está tendo, mesmo em meio a incertezas de fins regulatórios”, acrescentou.
‘Estado continua acionista da empresa’
O Governo do Estado de São Paulo seguirá acionista da Sabesp mesmo após a privatização da companhia, segundo o governador. No entanto, a definição da participação, que hoje é de 50,3%, ainda será decidida.
“O Estado não vai sair completamente da empresa, apenas do controle. Seguirá com participação minoritária, acompanhando o crescimento da empresa”, afirmou Tarcísio durante coletiva de imprensa promovida na noite desta segunda-feira, 31.
A possibilidade de o Estado receber golden shares, ações com poder de veto para decisões de caráter estratégico, está sendo estudada, segundo a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Natália Resende.
Uma possível trava na participação privada na Sabesp também está sendo analisada pelo governo, de acordo com o secretário de Parceria em Investimentos, Rafael Benini.
Queremos evitar na Sabesp o que aconteceu com a Eletrobras, diz Rafael Benini
O secretário de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo, Rafael Benini, afirmou que o governo paulista quer evitar o chamado “risco Eletrobras” na privatização da Sabesp.
“A gente quer que o Estado tenha uma participação (na Sabesp, após a privatização) parecida com a trava (de participação dos acionistas) para não acontecer a mesma coisa que aconteceu com a Eletrobras, o risco Eletrobras”, afirmou Benini ao Broadcast Político.
O secretário fez referência à ação em que o governo Luiz Inácio Lula da Silva questionou, no Supremo Tribunal Federal (STF), as regras para privatização da Eletrobras. O petista quer maior poder decisório na empresa.
Segundo Benini, o episódio gerou temor no mercado financeiro, e o governo paulista quer definir um modelo de privatização que dê maior segurança jurídica aos futuros acionistas. “O que a gente ouviu muito do mercado é que isso se tornou um risco. A gente quer evitar. Dependendo da participação que o Estado for ficar, mais ou menos por ali que a gente vai colocar a trava”, explicou o titular da SPI.
Ainda segundo Benini, a ideia de colocar uma trava de participação para os acionistas é uma forma de pulverizar a governança na empresa e evitar que ela tenha um único controlador. “Não quero vender a Sabesp para alguém, não quero que ela tenha outro controlador, ela tem que travar a participação de todo mundo.”
O secretário afirmou que ainda não se sabe qual será a trava, mas o desejo do governo é de que ela seja maior que a da Eletrobras, que ficou em 10%, e menor que 30%. “Não vou mais de 30% porque, a partir de 30%, ele vira um acionista. Não quero um controlador. Quero pulverizar, mas não quero pulverizar tanto, mas ainda quero ter acionistas que consigam influir na administração da Sabesp.”
Com Estadão Conteúdo