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Rússia: Celeiro de commodities, Brasil pode atrair investidores, mas inflação global preocupa

Crise Rússia e Ucrânia - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Crise Rússia e Ucrânia - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A guerra declarada pela Rússia à Ucrânia, que derreteu os mercados nesta quinta-feira (24), pode fazer com que investimentos feitos hoje no mercado financeiro russo migrem para o Brasil, que também é conhecido como um grande produtor de commodities. No entanto, o cenário é de tanta incerteza e volatilidade que os riscos preocupam – e muito – os analistas.

Com a aversão ao risco generalizada no mundo inteiro após o anúncio de conflito armado pelo presidente russo, analistas começam a estimar e projetar os próximos passos. Tanto Rússia como Ucrânia são fortes produtores de commodities, o que faz com que seja possível elencar riscos e possíveis oportunidades para o Brasil, que não está imune ao cenário macroeconômico mundial.

“Uma guerra como esta gera uma pressão no preço de commodities que pode beneficiar o Brasil”, aponta Jason Vieira, economista chefe da Infinity Asset. “Mas, dado o nível de volatilidade, é difícil chegar a uma conclusão certa, mas são possibilidades do que pode acontecer.”

Segundo Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, o Brasil é um “belo substituto” da Rússia em termos de alocação de capital, por ser um país exportador de commodities. “O Brasil pode acabar se beneficiando por ser um destino para este capital”, afirma.

Isso vale principalmente para as empresas de commodities listadas em bolsa. Já as empresas domésticas de setores cíclicos devem sofrer com a alta da inflação e das taxas de juros causadas pela redução da oferta de produtos agrícolas e dos combustíveis no mundo, segundo Giuberti.

Outro problema é que o aumento de incerteza causado pela guerra na Ucrânia faz com que os investidores demandem um desconto na hora de comprar ações, fazendo com que os preços dos ativos caiam, de acordo com Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos. ”

Hoje, com a alta demanda por causa do conflito armado entre Rússia e Ucrânia, o preço do petróleo ultrapassou pela primeira vez em sete anos o nível dos US$ 100. Antes do anúncio de conflito armado ser feito, nos últimos dias, houve um fluxo intenso de capital estrangeiro e o preço do dólar chegou a furar os R$ 5 ontem, chegando a mínima de R$ 4,96. A última vez que a moeda norte-americana atingiu esse patamar foi em junho de 2021.

Commodities: impacto do conflito entre Rússia e Ucrânia no cenário nacional

De acordo com Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, a Rússia é o principal exportador de petróleo do mundo. Em 2020, 11% do petróleo global foi exportado pelo país. Agora, com o ataque à Ucrânia, o país vai sofrer sanções — algumas já anunciadas pelos Estados Unidos e países Europeus, de forma que o Brasil não fica à parte no contexto macroeconômico mundial. “Inevitavelmente em uma guerra, uma tensão, países sinalizavam haveriam retaliações e embargos, [o que] traz movimentos”, afirma a economista.

Já a respeito da Ucrânia, o país é o quarto maior produtor de milho do mundo. Com apenas uma pequena janela de produção por causa do clima do país, um conflito agora na região pode colocar em cheque toda a produção da região, consequentemente levando a um reajuste de preços do milho.

Conforme a economista, o milho, assim como o petróleo, é uma das commodities de energia que tendem a sofrer elevação nos preços. “No petróleo, já tinha esse movimento, que começou com as primeiras mensagem da tensão, mas no milho o movimento não foi visto, e portanto existe muito para acontecer ainda”, disse.

Uma das projeções daqui para frente, considerada somente como uma possibilidade entre várias, é que o Brasil se torne um “substituto” da Rússia a respeito das commodities.

“No caso do petróleo, pelo fato de o Brasil ser um grande produtor [da commodity], ele acaba recebendo esses recursos. Milho, idem. E isso pode ser um vetor de força adicional para esse movimento”, continuou Argenta.

O monstro de sete cabeças: inflação

Mesmo com todas as oportunidades no mundo em que o Brasil pode se beneficiar em um momento como esse, há um forte impedimento: a inflação, que agora especialmente manterá uma tendência de alta.

O sócio e head da mesa de RV da Alta Vista, Marcelo Serrano, montou uma linha sequencial sobre o que pode acontecer. Primeiro, de acordo com ele, a inflação deve se manter alta no mundo todo. “A inflação se mantendo alta deve trazer elevação do juros no mundo todo, o que impacta diretamente na diminuição da atividade economia. A queda da atividade economia reflete num lucro menor das empresas, o que consequentemente também resulta em recuo das cotações”.

Outros analistas destacam o risco da inflação em alta no mundo. “Os ativos podem reagir muito negativamente. Podemos ter um problema de médio prazo de continuidade na inflação de transportes, que vinha de um alívio recente, mas que agora fica mais pesado. Ou seja, um dos cernes da inflação brasileira, [a inflação de] transporte junto com alimentos. Se isso mantiver a pressão, é complicado para a economia local”, afirma Jason Vieira.

Carla Argenta destaca que o posicionamento do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sobre a inflação local, ao mencionar que a taxa de juros continuará sendo utilizada para fazer a inflação nacional entrar em patamar aceitável significa que “o BC não vai pensar duas vezes se precisar elevar a taxa de juros para levar a inflação para patamar condizentes a meta de inflação nacional”.

“Essa mensagem sinaliza que os juros serão mantidos elevados e remunerarão os títulos públicos e investidores com um patamar muito elevado, em um momento em que a eclosão dessa guerra pode trazer um revés para as políticas monetárias mundo afora”, completou sobre a crise na Rússia.

 

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