Terminou nesta segunda (7) a terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia. O encontro de representantes dos dois países ocorreu mais uma vez em Belarus. No 12 º dia de guerra, os russos fizeram uma lista de exigências para encerrar o conflito — relação que foi contestada e negada pelos ucranianos.
Moscou diz que, para encerrar os ataques, quer a rendição total de Kiev, além de reconhecimento de áreas separatistas na Ucrânia e da Crimeia, anexada pelos russos em 2014, além da garantia de que o país invadido não vá integrar a Otan.
Os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e da Ucrânia, Dmytro Kuleba, vão discutir o conflito em Antália, na Turquia, na próxima quinta (10). no primeiro encontro entre os chanceleres desde o início da guerra, em 24 de fevereiro.
Rússia oferece corredores humanitários de cinco cidades da Ucrânia
A Rússia propôs o estabelecimento de corredores humanitários para permitir que civis deixem cinco cidades ucranianas, incluindo a capital Kiev, a partir das 9h (horário local) de terça-feira, dependendo da concordância da Ucrânia, informaram agências de notícias russas. Mas a maioria dos corredores seria para a Rússia ou para Belarus, algo que as autoridades ucranianas rejeitaram.
Civis deixando as cidades de Kiev, Chernigov e Kharkiv viajariam para a Rússia, alguns via Belarus, informou a agência de notícias Interfax, citando comunicado de um comitê russo encarregado da coordenação humanitária na Ucrânia.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, rejeitou propostas anteriores para a saída de cidadãos ucranianos para o que ele descreveu como “território ocupado” na Rússia e em Belarus.
As pessoas que deixassem a cidade de Sumy e Mariupol teriam, no entanto, a possibilidade de escolher entre a Rússia ou as cidades ucranianas de Poltava e Zaporizhia, respectivamente, de acordo com o comunicado mencionado pela Interfax.
A Ucrânia recebeu até as 3 da manhã (horário de Moscou) para concordar com os termos, disse a Interfax.
O embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, disse nesta segunda durante reunião do Conselho de Segurança da ONU que a Rússia havia “minado os arranjos” dos corredores humanitários ao insistir que todas as rotas passem pela Rússia ou por Belarus.
Ataques a civis na Ucrânia
Autoridades ucranianas afirmaram que uma fábrica de pães foi atingida por um ataque aéreo da Rússia nesta segunda-feira (7), enquanto os negociadores do país se reuniam para discussões com autoridades russas, após rodadas anteriores não terem gerado uma pausa no conflito.
Os corpos de pelo menos 13 civis foram recuperados dos escombros, após a fábrica na cidade de Makariv, na região de Kiev, ter sido atingida, disseram serviços locais de emergência. Cinco pessoas foram resgatadas, das 30 que estariam no local naquele momento. A Reuters não conseguiu verificar o ataque em um primeiro momento.
A Rússia havia oferecido rotas de fuga aos ucranianos para a Rússia e Belarus, sua aliada próxima, nesta segunda-feira, após tentativas de cessar fogo para a retirada de pessoas ao longo do fim de semana terem falhado. Na cidade portuária sitiada de Mariupol, centenas de milhares de pessoas continuam presas, sem comida e água, e sob bombardeios regulares.
Um porta-voz do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy disse que a proposta da Rússia era “completamente imoral”.
“Eles são cidadãos da Ucrânia, eles deveriam ter o direito de ir para o território da Ucrânia”, disse o porta-voz.
Um negociador ucraniano pediu que a Rússia pare o seu ataque à Ucrânia, que, segundo a ONU, fez com que 1,7 milhão de pessoas fugissem para a Europa Central.
“Em alguns minutos, vamos começar a conversar com representantes de um país que realmente acredita que violência em larga escala contra civis é um argumento”, disse o negociador ucraniano Mykhailo Podolyak, no Twitter. “Provem que não é o caso.”
Pela proposta da Rússia, um corredor da capital Kiev levaria a Belarus, aliada da Rússia, e civis de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, seriam direcionados para a Rússia, segundo mapas publicados pela agência de notícias RIA.
“Tentativas dos ucranianos de enganar a Rússia e todo o mundo civilizado… são inúteis desta vez”, disse o ministério de Defesa da Rússia após anunciar os “corredores humanitários”.
A Rússia nega estar deliberadamente tentando atingir civis. Chama a campanha que iniciou em 24 de fevereiro de “operação militar especial” para desarmar a Ucrânia e retirar líderes que descreve como neonazistas. A Ucrânia e seus aliados ocidentais consideram isso um pretexto para uma invasão que busca conquistar a nação com 44 milhões de pessoas.
Rússia pode sofrer sanções nas exportações de petróleo
Nações ocidentais aplicaram fortes sanções a Moscou para isolá-la do comércio global e agora estão considerando proibir importações de petróleo russo. O preço do petróleo disparou para o patamar mais alto desde 2008, diante da possibilidade de haver menos oferta da Rússia, a maior exportadora do mundo de petróleo e gás.
Ao mesmo tempo, o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia disse que as forças russas estavam “começando a acumular recursos para atacar Kiev”, cidade com mais de 3 milhões de habitantes, após dias de progresso lento em sua principal frente, partindo do sul de Belarus.
Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reiterou à Reuters que o governo russo interromperia as operações se a Ucrânia parasse de lutar, alterasse sua Constituição para declarar neutralidade e reconhecesse a anexação da Crimeia pela Rússia e a independência de regiões tomadas por separatistas apoiados pela Rússia.
Ed Arnold, analista do instituto Royal United Services do Reino Unido, disse que a Rússia precisaria tentar consolidar os ganhos que já conseguiu e dar uma pausa para mobilizar mais forças, a menos que aumente o ritmo do seu ataque.
“Com a atual taxa de baixas da Rússia, temos indicações de que esta operação será insustentável em cerca de três semanas”, disse.
Moscou reconheceu quase 500 mortes entre seus soldados, mas países ocidentais dizem que o número real seria muito maior, e a Ucrânia afirma que estaria na casa dos milhares.
Ucrânia: guerra provocou danos de US$ 10 bi à infraestrutura do país
A Ucrânia sofreu cerca de 10 bilhões de dólares em danos à sua infraestrutura desde que a Rússia invadiu o país, disse nesta segunda-feira (7) o ministro de Infraestrutura ucraniano, Oleksander Kubrakov.
Ele disse, em comentários televisionados, que o número se mantinha desde domingo, e acrescentou: “A maioria das estruturas (danificadas) será reparada em um ano, e as mais difíceis em dois anos”.
Kubrakov disse que 40.000 pessoas haviam sido retiradas da cidade de Kharkiv, no leste do país, no domingo. Mas a Ucrânia apelou à Rússia para que deixasse os civis saírem de outras cidades e um funcionário do Ministério do Interior, Vadym Denysenko, disse que 4.000 civis ainda precisavam ser retirados da periferia da capital Kiev.
“A Rússia está fazendo tudo o que pode para evitar corredores (humanitários)”, acrescentou Denysenko.
Jornalista, é editor no Suno Notícias. Trabalhou nas revistas Playboy, Super, Veja Comer & Beber, Homem Vogue e Universo Masculino, além dos portais Abril.com, R7, nas editorias de Home, Esportes, Hora 7, Entretenimento e Geral, e Eu Quero Investir. Autor do livro Bruce Lee: Definitivo (Editora Conrad). Colaborou nas revistas Nova, Veja SP, Grandes Guerras, Placar, Bizz, Casa Claudia e Quatro Rodas.