Após a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras (PETR4), o mercado ainda monitora as sinalizações sobre o futuro da companhia, especialmente em relação às decisões estratégicas – como a política de preços, de dividendos e os investimentos a serem realizados pela estatal.
A resposta imediata do mercado foi negativa, com uma queda que chegou a 8% nas ações da Petrobras durante o pregão que sucedeu a destituição de Prates.
Segundo o analista CNPI da Suno Research, João Daronco, “existe um risco, e ele é maior agora do que com Jean Paul Prates“.
O especialista destaca que vê a mudança como negativa dado que ‘em time que está ganhando não se mexe’, e que a gestão de Prates estava sendo relativamente bem vista pelo mercado, especialmente pelo fato de ele conseguir fazer um ‘meio campo’ entre o mercado e o Governo Federal.
Daronco comenta que um dos principais riscos a serem monitorados no momento é uma possível alteração ou mudança de conduta no política de preços da Petrobras.
“Acho que são dois riscos, o primeiro é a questão de preço, e foi justamente isso que machucou o resultado do 1T24. Sabemos a empresa não tem repassado as altas de preços e segurado a revisão, o que afeta a rentabilidade. Podemos ter um preço mais segurado e até um subsídio, o que seria negativo para a empresa”, analisa Daronco.
“E outro risco são os investimentos, refinarias e transição energética, o que demanda muito dinheiro, muito Capex. Se aumentamos o Capex, o fluxo de caixa livre diminui, o que irá afetar diretamente os dividendos da Petrobras“, complementa.
Sobre os proventos, o analista explica que os dividendos já anunciados – que serão pagos em maio, junho, agosto e setembro – não têm risco, mas o mercado ainda deve monitorar guinadas nas diretrizes da petroleira que podem afetar sua remuneração aos acionistas.
“O dividendo anunciado não envolve risco nenhum, mas, para frente, o que pode impactar é uma mudança na política de preços, e também uma mudança nos investimentos, uma aceleração nos gastos. Com mais investimentos sobram menos recursos para dividendos. É um cenário que preocupa. Os dois cenários preocupam, tanto pelos investimentos quanto pelos subsídios ou política de preços”, diz ele.
Apesar do histórico, possível nova CEO da Petrobras tem vínculo com Governo
Sobre o nome da indicada para ser a nova presidente da Petrobras, Daronco observa que, apesar dos mais de 20 anos trabalhando na estatal no passado, há um teor político na indicação do Ministério de Minas e Energia (MME).
“[Magda Chambriard] é uma pessoa com um histórico dentro da Petrobras, mas ela tem um viés puxado para refinarias e transição energética, que não é o mais rentável dentro da Petrobras. Além disso ela atuou na ANP na época do Governo Dilma Rousseff, é alguém que tem um relacionamento junto a esse grupo político”, lembra.
Conforme comunicado pela estatal nesta quinta (16), a nomeação será deliberada sobre a eleição de Magda Chambriard no âmbito do Conselho de Administração, sem a necessidade de uma assembleia.
O nome dela passará pela análise das áreas de integralidade e de recursos humanos da companhia. Depois disso o nome terá de passar pelo crivo do Comitê de Pessoas (COPE) do Conselho de Administração da Petrobras – processo que deve levar cerca de 15 dias.
Na eventualidade de Chambriard ser eleita, ela servirá no conselho até a primeira Assembleia Geral que vier a ocorrer ou até a Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Petrobras de 2025.