Gestora focada em small caps, Rio Verde aposta em ações do agronegócio

Recorrentemente, uma das grandes perguntas entre leigos e investidores inexperientes é como a Bolsa pode subir com a economia patinando. A Rio Verde, gestora focada em small caps, diz que o foco deve estar no dia a dia das empresas, com boas oportunidades aparecendo desde infraestrutura até tecnologia e comércio eletrônico. No entanto, sua grande aposta é no setor de agronegócio.

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Mesmo em meio à crise sanitária, política e fiscal do Brasil, a casa enxerga com naturalidade a nova onda de IPOs na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Para a gestora de small caps, que monitora um universo de 130 empresas com base em seus critérios próprios, o crescimento do leque de opções é sempre positivo — a Neogrid (NGRD3) foi fisgada em uma situação similar.

A gestora tem 18 anos de estrada e, considerando o período enquanto ainda operava como um clube de investimentos, apresenta uma rentabilidade de quase 20% ao ano. O patrimônio sob gestão gira em torno de R$ 140 milhões, tamanho controlado para se adequar à busca por empresas de menor valor de mercado.

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Confira os principais trechos da entrevista do SUNO Notícias com Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde.

Conte um pouco sobre a operação da casa desde a sua criação e qual é a filosofia por trás da gestora.

Somos uma gestora especializada exclusivamente em small caps. A Rio Verde foi fundada há quase 18 anos, e atualmente operamos dois fundos e um clube de investimentos de uma família que atendemos. Até pela característica da gestora, nossos fundos são pequenos, com R$ 140 milhões somados sob gestão.

As nossas carteiras podem ser consideradas concentradas, que sempre varia entre 8 e 12 ações. Esse número pode ficar elevado apenas em momentos de transição, mas sempre procuramos respeitar esse limite. Também olhamos muito para a liquidez dos papéis que gostamos, pois é algo que tem penalizado muito os fundos de small caps nos últimos anos. Procuramos sempre refletir na cota do fundo o que está se passando no mercado.

Nas seleções das small caps para nosso portfólio sempre olhamos com um horizonte de três a cinco anos, modelamos as empresas por esse período. Com isso, sempre acabamos ficando com as ações em um prazo relativamente longo, em média acima de três anos. Nosso dia a dia não é de ficar comprando e vendendo, nosso foco fica muito no longo prazo.

Considerando o início da gestora, enquanto ainda clube de investimentos, temos quase 20% de rentabilidade em média nessas quase duas décadas de operação, ficando bem acima dos benchmarks do mercado.

Quais são as maiores apostas da Rio Verde atualmente e como vocês projetam o pós-crise delas?

Em nossa carteira, olhamos as vagas para as 12 ações em temas diferentes. A nossa maior aposta atualmente é o agronegócio. Esse é um segmento que conseguiu definitivamente repassar os altos preços das commodities. Nesse tema temos três posições, e a principal delas é a São Martinho (SMTO3).

O mercado tem entrado em consenso que a companhia é realmente boa (alta de 90% nos últimos 12 meses). Ela é muito bem gerida, além de se beneficiar dos preços do açúcar e valorização do dólar frente ao real.

Em outro aspecto deste assunto, também gostamos da Cosan (CSAN3), que está ligada às mudanças do meio ambiente e ligada a combustíveis renováveis, embora atualmente seja muito grande para nossos fundos. Por último, e que ocupa a menor posição de nosso fundo principal, temos a Ouro Fino (OFSA3), típica small cap.

Temos posição nela há pouco mais de dois anos, e gostamos do case de crescimento. A empresa tem melhorado bastante seu balanço, gerando muito caixa.

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Os outros temas que gostamos são infraestrutura e logística. Investíamos na Cosan Logística, olhando para a Rumo (RAIL3), mas ao ser incorporada à Cosan desfizemos nossa posição. Também olhamos para a Mills (MILS3), que passou por maus bocados recentemente, mas tem melhorado, e pode se beneficiar do momento da construção civil.

Temos a EcoRodovias (ECOR3), que é uma posição um pouco mais antiga. Temos esperado alguns gatilhos de destravamento de valor na empresa, mas parecem estar mais demorados do que esperávamos. A renegociação dos contratos de concessão em São Paulo é de grande importância para o case.

A empresa também passa por uma consolidação após a mudança no grupo de controle, há cerca de dois anos, mas tem possibilidades enormes de crescimento.

Em relação ao setor de agro, recentemente a Jalles Machado abriu capital. Vocês chegaram a olhar?

Sim, olhamos, mas não nos aprofundamos muito. A Jalles tem uma boa estratégia, com a comercialização de açúcar orgânico, que traz margens mais altas, mas tem um nicho muito específico, então não vemos volumes muito grandes à frente.

Preferimos ficar com a São Martinho, que vende um produto convencional e acreditamos nos projetos futuros. A Jalles também é menor, produz cerca de quatro vezes menos que a São Martinho, então escolhemos manter a posição na líder de mercado.

A Bolsa brasileira tem notado a ascensão das empresas de tecnologia. Vocês se aventuram em investir nessas companhias?

Olhamos os temas de tecnologia e comércio eletrônico de maneira muito próxima. Nesse sentido, temos posição em B2W (BTOW3) e Via Varejo (VVAR3) há mais tempo e recentemente adicionamos à carteira a Neogrid.

Em ambos os três negócios enxergamos avenidas de crescimento enormes, em setores da economia que também estão em ascensão.

Neogrid chegamos a comprar perto da oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), diminuímos um pouco nos últimos meses quando ela teve uma alta forte, e depois recompramos novamente na queda.

Ela é uma companhia que tem muito espaço para evoluir. Falando com a empresa recentemente percebemos que um crescimento muito forte da indústria tem sido observado nos últimos meses e demonstra sinais de permanência.

Ao investir em empresas deste porte, nos perguntam se procuramos companhias de valor ou crescimento. No fim, nós procuramos valor. O crescimento se converte em valor lá na frente. Criará valor aos acionistas as empresas que crescem hoje e demonstram capacidade de se manter no mercado daqui a anos.

Entre Jalles e Neogrid, ambas chegaram à B3 nessa última onda de IPOs. Como vocês têm recebido as novas aberturas de capital? Como se posicionam frente às novas oportunidades?

Raramente entramos em operações de IPO. Normalmente gostamos de entrar depois, sobretudo para podermos analisar melhor a empresa. Se o case for bom, vamos apenas perder o começo da caminhada na Bolsa; se for ruim, não perdemos nada.

De modo geral, essas chegadas das empresas são sempre boas. O leque de opções é ampliado para os investidores – uns 90% das novas companhias já chegam dentro do nosso universo de investimento. A questão do preço tem relação com o momento de mercado; como agora, que a cautela impera, e as empresas estão tendo de aceitar descontos. Quem não se adequa, cancela. Então isso é relativo.

Um desses casos é a Blau Farmacêutica (BLAU3), que acompanhamos desde que tentou abrir capital na primeira vez, em 2018, mas não entramos no IPO. Gostamos da empresa, e conseguimos comprar depois de alguns dias de negociação a um preço similar ao de abertura. Via de regra, esperamos para comprar as empresas quando elas estiverem em um ponto atrativo para a Rio Verde.

Com essas características da gestão do fundo, quais são os cuidados ao entrar e sair das posições? Small caps normalmente são empresas de menor market cap.

Temos um critério objetivo no que se refere à liquidez, com filtros para atender às nossas necessidades. Apenas abrimos uma posição na carteira caso ela possa ser liquidada em até sete pregões e represente apenas 20% do volume dos papéis. Caso a ação não preencha esses requisitos, não fará parte de nossas carteiras, o que já elimina uma boa parte das empresas da B3.

Não é uma regra interna, mas sempre objetivamos ter ao menos 5% de uma posição no fundo, nunca investimos em algo que represente apenas 1% ou 2% do total dos fundos. A maior participação pode chegar a 25%.

No que se refere aos critérios diretos do que são small caps, esse aspecto é vago no Brasil. Mas nós consideramos um valor de mercado máximo de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 21,75 bilhões), um valor acima do que é considerado normalmente. Investimos em empresas que tenham no máximo essa capitalização de mercado.

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Dessa forma, se combinarmos as restrições de liquidez com o limite de tamanho, eliminamos a maior parte das grandes empresas, mas também as menores, chamadas micos, que possuem baixo volume de negociação. Existem cerca de 130 empresas elegíveis no Brasil.

Em planejamento interno, nós simulamos até onde poderíamos ir caso os fundos crescessem demais, por exemplo. Quais seriam nossas alternativas. Se tivéssemos sob gestão R$ 1,2 bilhão, por exemplo, ainda teríamos 90 empresas para investir. Consideramos ser um universo razoável de opções.

O Ibovespa tem avançado bem nas últimas semanas, enquanto a economia tem patinado. Sabemos que PIB não é Bolsa, mas como vocês observam o micro em meio à crise que vivemos?

Temos recebido essa pergunta de muitos investidores. Como pode a Bolsa estar em um bom momento, enquanto a economia está de ponta cabeça, com pandemia avançando, sem nem um Orçamento público para 2021 até poucos dias atrás?

Quando olhamos para o micro, outros fatores nos chamam atenção. Existem empresas muito boas no Brasil. E como sabemos, as melhores empresas do País, as que saem melhor da crise, estão na Bolsa. Estamos observando uma série de oportunidades de aquisições e crescimento mais acelerado do que antes.

Neste 30 ou 40 anos quase constante de crises no Brasil, as empresas têm se tornado resilientes e costumam surfar em qualquer cenário.

De outro lado, embora a taxa de juros futuras estejam em um patamar alto em comparação aos últimos meses, o juro real ainda é bem baixo em relação à média histórica. Isso inevitavelmente acaba trazendo mais pessoas para a Bolsa, pois empresas boas e bem geridas podem ser mais confortáveis aos investidores.

No que se refere à pandemia, por mais que ainda grandes desafios se mostrem à frente, sabemos que ela vai acabar. Só não sabemos quando. Depois disso tudo, a economia voltará a crescer.

E mesmo neste ano, com todos os entraves políticos, o PIB crescerá, seja por inércia ou apenas em termos estatísticos. A economia vai se recuperar. Então acredito que esses pontos expliquem a Bolsa subindo com a economia em baixa – os investidores sempre operam na expectativa.

No nosso universo, o grande problema é estarmos limitados aos requisitos litados anteriormente, pois sempre observamos boas oportunidades de investimento em small caps.

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Jader Lazarini

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