Revolut: O que a gigante global quer fazer no Brasil? Conheça os planos
Uma fintech global, que vai oferecer conta offshore e está presente em mais de 35 países, deve inaugurar as primeiras contas para os clientes de varejo no Brasil. Trata-se da Revolut, uma companhia chefiada e fundada por um inglês de origem russa, Nikolay Storonsky.
O banco, que tem mais de 25 milhões de clientes espalhados no mundo, ainda está em fila de espera – ou seja, ainda não é possível ter uma conta da Revolut no Brasil. A expectativa é de que isso mude ainda no primeiro semestre
A Revolut, que já planejava alçar voos no Brasil há alguns meses, deve abrir para os clientes em geral após um ano de 2022 dedicado estruturar as operações com um time de funcionários já contratado em solo brasileiro, segundo o CEO da Revolut no Brasil, Glauber Mota.
Em entrevista ao Suno Notícias, o executivo destaca que apesar do caráter global do banco – com foco em produtos de câmbio e boas condições para viagens no exterior – a Revolut pretende ser um player competitivo em praticamente todos os segmentos.
A ideia é ‘ser global, mas sendo local’, oferecendo uma experiência bancária que supra as necessidades do usuário para além de questões envolvendo viagens, conta em dólar e afins.
No curtíssimo prazo, o nicho internacional deve ser o grande foco, mas o banco ainda quer alcançar 10 a 20 milhões de clientes em prazos mais longos e então atender a um público mais amplo.
Para isso, adotou a agenda de boa parte das fintechs de aliar o produto à emancipação financeira.
“Estamos totalmente alinhados com a agenda BC# [de digitalização e inclusão financeira do Banco Central] para gerar inclusão financeira e aumentar competitividade no mercado, com acesso mais barato e aprendizado. Fizemos muito investimento em educação financeira“, comenta o CEO.
O executivo destaca que a prioridade foi refinar o produto para que, posteriormente, ele chegasse ao cliente em boa forma – motivo pelo qual as contas ainda estão em fase de testes e há lista de espera.
Mas a decisão de entrar no Brasil, especificamente, se deu pelo mercado crescente de economia e finanças e também pela tese da empresa de que existe uma demanda ainda não suprida no país.
“Já nos estabelecemos em países como Austrália, Japão e Cingapura, e somos os mais relevantes no nosso nicho dentro da Europa. Houve um estudo grande para ver se vale a pena entrar aqui, mas o Brasil, assim como o México, tem custos altíssimos, burocracia enorme, e são mercados emergentes. Mas ainda assim o Brasil tem uma vantagem: todo esse trabalho de desmistificar o mundo digital aconteceu antes de a gente chegar”, comenta.
“Tenho dúvidas se em breve os [bancos] digitais possam ter mais mais share [fatia de mercado] que os incumbentes. A cereja do bolo são as barreiras de entrada, hoje é tudo na nuvem e tecnológico, e o BC fez um ótimo trabalho com licenças”, completa.
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Falando da demanda não suprida, o executiva cita que um dos diferenciais em que o banco investe é a opção de receber dinheiro do exterior e ampliar o leque de possibilidade para usar esse dinheiro, algo ainda inusual em outros concorrentes.
“Adaptamos o que tinha de muita demanda mas estava pouco servido, como mandar dinheiro para fora em moeda diferente, em qualquer moeda que você quiser. O nosso produto inicial é uma conta offshore com 28 moedas. As contas podem receber no exterior, também. Se você recebe dinheiro de um estrangeiro, dá para usar normalmente”, explica.
Segundo o executivo, outros bancos tendem a permitir somente a transição cambial e a possibilidade de gastar em dólar ou Euro, mas não a de receber.
Além disso, o banco está presente em 35 países menores em termos populacionais, tornando um desafio escalar o negócio em um país continental como o Brasil.
Apesar disso, há um grande otimismo nessa expansão para fora do berço da empresa, na Europa.
“Vemos os EUA, o México e o Brasil como grandes ilhas de crescimento, além da Ásia. Hoje temos cerca de 25 milhões de clientes pessoa física, mas ainda não estamos nem arranhando a superfície”, afirma Mota, CEO da Revolut.
Foco em ‘aplicativo completo’
A ideia é disponibilizar um produto de conta global ‘freemium’ em que o usuário pode utilizar de graça, mas paga por benefícios maiores – como um volume maior de saques e possibilidade de operar ações com corretagem zero.
Além disso, visando um superapp completo, a Revolut oferecerá integração com outras plataformas para viagens como o Airbnb (AIRB34).
Com a visão de ‘superapp’ – já explorada por concorrentes -, a Revolut visa ser suficiente para o correntista mantê-la como uma de suas contas principais, ou a principal.
Isso considerando a crescente de correntistas que passaram a concentrar seus gastos em fintechs em detrimento de bancos incumbentes, justamente
Das ações da NYSE ao ‘CDI americano’
A crescente de investidores pessoa física na bolsa de valores e a popularização do mercado de capitais também foram atrativos no Brasil.
Nesse sentido, o banco deve oferecer negociação de commodities e de ações americanas, operações que são diferentes das que consistem em comprar Depósitos de Ações Brasileiras (BDRs) em corretoras nacionais.
Indo mais longe, o CEO revela que será possível dolarizar também em renda fixa.
“Teremos os chamados ‘saving pockets’, em que você poderá alocar em renda fixa na moeda estrangeira, por exemplo, comprando o que chamamos de “CDI americano'”, revela o responsável pela operação da companhia no Brasil.
‘Regulação não foi um desafio para a Revolut’
Apesar dos custos, da burocracia e da regulação, o CEO da Revolut destaca que teve uma vantagem competitiva ao entrar no Brasil.
Por estar em cerca de 35 países, a fintech já está regulada nos principais centros financeiros – uma expertise suficiente para balizar a entrada no Brasil com menos dificuldades.
Mota, CEO no Brasil, explica que Cingapura é dos casos expressivos, já que há uma regulação avançada e restritiva no país.
“O que é barreira de entrada para muitos é uma vantagem competitiva para nós”, comenta, sobre o tema.