Para evitar estagflação, Copom prepara aumento de 1% na Selic; veja previsões

Com a mesma rapidez que a taxa básica de juros da economia (Selic) caiu para sua mínima histórica no ano passado, o Banco Central (BC) fará com que ela se aproxime de dois dígitos novamente. Na visão do mercado, o Copom não tem para onde correr.

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Com as expectativas para a inflação deterioradas, ao passo que as projeções sobre o crescimento da economia têm sido reduzidas, o Copom se vê em uma encruzilhada. O objetivo deve ser não deixar o País cair na estagflação

O passado não tão distante de aumento de preços galopante na economia fará com que a equipe liderada por Roberto Campos Neto se porte de maneira austera com o controle da inflação, que tira ainda mais o poder de compra dos mais de 14 milhões de desempregados no Brasil.

A divulgação da decisão de política monetária, a ser realizada na próxima quarta-feira (22), servirá para pavimentar as perspectivas para os próximos meses, que ainda serão marcados por redução do estímulos monetários nos Estados Unidos, a crise hídrica no País e ruídos políticos e fiscais.

De acordo com as estimativas de oito casas consultadas pelo Suno Notícias, o Copom elevará a taxa Selic em 1% na reunião desta semana. Confira quais são:

  • BTG Pactual;
  • Itaú;
  • Goldman Sachs;
  • Suno Research;
  • Fatorial Investimentos;
  • Western Asset;
  • BS2 Asset;
  • Santander.

Sinuca de bico

Como aponta o BTG Pactual (BPAC11) em relatório, o Copom está em uma sinuca de bico.

Caso se mantenha muito dovish (postura voltada à atividade econômica), olhando mais para o Produto Interno Bruto (PIB), a inflação tende a ser ainda mais pressionada.

Por outro lado, se hawkish (mais pessimista, preocupada com a inflação), o PIB do ano que vem deve sofrer impactos negativos. 

A única saída, segundo a instituição, portanto, é seguir a orientação já passada após a última reunião, de alta de 1%, levando a Selic para 6,25%.

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O BTG diz que há motivos para uma elevação da Selic mais contundente, de 1,25%, como a curva de curva precificava há alguns dias. Todavia, as previsões mais cautelosas para a economia no ano que vem devem puxar o freio de mão no ciclo de alta da taxa de juros.

“O que fará preço, na nossa leitura, é se o comunicado trará mais pistas sobre qual o patamar de juros pretendido pela autoridade monetária”, comentam os analistas.

O BTG estima que, além da elevação em 100 bps nesta semana, haverá ainda mais outra alta de 1% em outubro e 0,75% em dezembro, com a Selic fechando 2021 em 8%. 

Copom namora com juros acima do patamar neutro

Já na visão do Goldman Sachs, além da alta de um ponto percentual na taxa de juros, o BC pode sinalizar que a Selic ficará acima do patamar neutro.

O juro neutro, tão falando no mercado nos últimos meses, nada mais é do que um patamar indicado para o estímulo monetário sem que haja instabilidade na inflação do País. Ele também é chamado de juro estrutural, juro ideal, taxa natural ou taxa de equilíbrio.

“Acreditamos nas altas e disseminadas pressões inflacionárias, intensa pressão de custos, deterioração das expectativas de inflação, falta de avanço nas reformas e ruído político prolongado deve levar o banco central a continuar normalizando a política monetária.”

Embora se discuta o patamar deste juro neutro, os especialistas têm reafirmado que o importante é o Copom ser transparente em sua visão para a política monetária do País. 

“O ponto chave é a comunicação e, portanto, a sinalização do BC quanto ao combate da inflação”, afirma Gustavo Sung, economista da Suno Research

“A comunicação tem um efeito direto e efetivo sobre as expectativas dos agentes econômicos. Portanto, aumenta a eficiência da política monetária e, consequentemente, a economia como um todo.”

Contas públicas e riscos elevados impedem Copom de voltar atrás

O cenário inflacionário continuou se deteriorando e os riscos permanecem elevados. É dessa forma que o Itaú (ITUB4) comenta o cenário econômico desde a última reunião do Copom.

“A situação hídrica gera pressão sobre a inflação corrente, via aumento das contas de luz e também sobre a dinâmica de preços do ano que vem, através da inércia resultante de um Índice de Preços ao Consumidor Amploa (IPCA) mais elevado e do risco de novas medidas que visem à redução do consumo de eletricidade.”

O banco também cita as dúvidas sobre a trajetória das contas públicas, sobretudo em referência ao cumprimento do teto de gastos em 2022.

O risco fiscal resulta em pressão duradoura sobre a taxa de câmbio, “que deve ter menos espaço para apreciação, mesmo com a trajetória esperada de aumento da taxa de juros”.

O contexto não fará com que o Copom volte atrás e a Selic deve ser elevada em um ponto percentual.

“Esperamos que o Copom repita o diagnóstico de inflação mais persistente e balanço de riscos assimétrico para cima, com sinalização de outro ajuste da mesma magnitude na próxima reunião (ou próximas reuniões)”.

O banco prevê que a Selic encerre o ano em 8,25%, sendo elevada a 9% após a primeira reunião de 2022. 

A flutuação do mercado pré-Copom

Segundo Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, a alta da taxa de juros tem influenciado na elevação dos juros nos pré-fixados, que tem possibilitado maior rentabilidade no curto prazo.

“Essa elevação também tem aumentado taxas percentuais do CDI dos pós-fixados. Isso abre espaço para clientes aplicarem na renda fixa com medo de alocar em risco na renda variável”, comenta em nota.

O especialista também entende que o BC continuará utilizando a política econômica para conter a inflação — o que é negativo, do ponto de vista para o crescimento do ano que vem. Quando tivermos menor pressão sobre preços dos insumos, teremos um maior controle da inflação e uma volta aos poucos da normalidade”, diz.

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A forte flutuação do mercado frente às expectativas para a reunião do Copom começou nas últimas semanas. A inflação de agosto acabou vindo muito acima do esperado, o que pressionou ainda mais os juros futuros.

Os agentes do mercado passaram a prever que, nesta reunião, a alta poderia ser de 125 bps, levando a Selic para 6,50%.

Mas, em recente evento do BTG, o presidente do BC, Campos Neto, disse que a autoridade monetária está centrada as metas de longo prazo e, por mais que está preocupada e atuará sobre a situação vigente, não irá se movimentar com base em dados de alta frequência.

Confira as previsões de mais casas:

  • Western Asset prevê aumento em 1%, com o BC de olho na meta de inflação do ano que vem. A taxa de juros subiria para 9% em fevereiro;
  • BS2 Asset estima um aumento de 1%, mas com a autoridade acompanhando de perto os impactos do ciclo de alta da taxa de juros no crescimento do ano que vem;
  • Santander (SANB11) estima que a Selic subirá 1% nesta reunião, caminhando para 8,25% no fim de 2021 e 8,50% no fim de 2022.

A próxima reunião do Copom acontecerá entre os dias 26 e 27 de outubro. O último encontro deste ano ocorrerá no dia 8 de dezembro.

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Jader Lazarini

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