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Retrospectiva 2018: relembre os fatos que marcaram a política nacional

Ano de corrida eleitoral, 2018 trouxe mudanças importantes para o cenário político brasileiro.

Após 34 anos de eleições disputadas entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), um partido nanico como o Partido Social Liberal (PSL), expressão da direita conservadora chegou ao poder.

“O Brasil em pouco tempo mudou muito. A crise política abalou as crenças passadas à opinião pública”, explica Adriano Gianturco,  cientista político e professor do IBMEC de Belo Horizonte.

Graças a propostas alternativas a política “tradicional”, e a personagem carismática de Jair Bolsonaro, em 2018 o campo conservador conquistou a maioria do eleitorado brasileiro. Dos 27 governadores eleitos este ano, 15 declararam apoio ao Bolsonaro. O PSL alcançou 10,8 milhões de voto, e sua bancada na Câmara passou de 8 para 52 deputados. A segunda maior da casa. Um fenômeno eleitoral.

Do outro lado, o PT terminou a eleição fragilizado. Principalmente por conta da prisão do seu líder, Luis Inácio Lula da Silva. Antes de ser preso, Lula liderava a disputa eleitoral.

Mesmo assim, o PT conseguiu levar Fernando Haddad para o segundo turno e elegeu a maior bancada da Câmara, com 54 deputados. Além disso, a região Nordeste se confirmou como um forte bastião petista. Essa foi a única região onde o PT ganhou no segundo turno, e todos os nove governadores eleitos no Nordeste declararam apoio para Haddad.

O maior perdedor das eleições 2018 foi o PSDB. Geraldo Alckmin amargou uma derrota clamorosa, ficando em quarto lugar com apenas 4,76% dos votos. O enorme tempo de propaganda na TV e os apoios de partidos como DEM, PP e PR não foram suficientes para levar o tucano sequer ao segundo turno. O partido também passou de 5 governadores para somente 3 governadores eleitos, e perdeu 20 deputados federais, passando da 3º bancada para a 9º bancada da Câmara.

Apesar do momento difícil, segundo Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ainda é cedo para decretar a morte do PSDB. “Em 2016, o PT teve a questão do impeachment da Dilma e perdeu 60% das suas prefeituras. Mesmo assim, a legenda foi para o segundo turno e conseguiu eleger a maior bancada. Esse é sem dúvida o pior momento do PSDB. Agora, vai depender de como as lideranças do partido vão refigurar o PSDB”, explicou Prando.

Condenação e prisão de Lula

O ano começou com grande acontecimento político: Lula — apontado como o favorito para a corrida eleitoral — se tornou inelegível. Em janeiro, desembargadores da 8º Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4º Região confirmaram, por três votos a zero, a condenação do ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do Triplex do Guarujá. A pena de Lula foi aumentada de 9 anos e seis meses de prisão para 12 anos e um mês em regime fechado.

Saiba mais: Defesa de Lula pede soltura do ex-presidente após decisão do STF

De acordo com a Lei da Ficha Limpa, condenados em segunda instância não podem se candidatar a cargos eletivos. Entretanto, mesmo com a decisão, Lula continuou liderando as pesquisas eleitorais.

“O PT fez a opção de ir até o limite possível, levar adiante sua candidatura evidentemente inviável. Hoje é fácil você falar que foi um erro, mas na época, as pesquisas davam Lula como favorito. Mas Lula não era candidato e nem poderia ser”, explicou Prando.

Com o ex-presidente preso, outros nomes do PT começaram a ser ventilados como seu substitutos. Entre eles, o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner e Fernando Haddad. O apoio do PT para a candidatura de Ciro Gomes chegou a ser cogitado. Mas a cúpula do partido resolveu, aparentemente sob pressão do próprio Lula, optar por um candidato próprio.

Para o professor Gianturco, o fato de Lula ter sido preso mostra o quando a política é imprevisível e como a conjuntura mudou nos últimos anos. “Lula era o filho do Brasil, um dos brasileiros mais famosos da História, muito amado até pouco tempo atrás. Entretanto, ele foi das estrelas até o chão, talvez até à lama. Pensando bem, ele ainda tem popularidade, mas caiu muito”, explicou Gianturco.

Eleição de Bolsonaro

Quando o nome de Bolsonaro apareceu entre os presidenciáveis, poucos analistas consideravam sua candidatura como séria. Na primeira pesquisa eleitoral Ibope, divulgada em 20 de agosto, Lula aparecia com 37% das intenções de voto e Bolsonaro apenas com 18%. “Por um tempo se falou que Bolsonaro chegaria a um teto. A pergunta era se ele tinha chance mesmo, se era um candidato crível, sério. Eu já o indicava como um candidato com muitas chances”, diz Gianturco

Mas quais foram os fatores que levaram Bolsonaro a se tornar o trigésimo oitavo presidente da República? Segundo Prando, foi o resultado de um conjunto de acontecimentos. Entre eles o atentado que o então candidato sofreu no dia 6 de setembro. “A facada teve toda uma dimensão simbólica que deu para Bolsonaro uma condição de vítima para o eleitorado e o resguardo das críticas nos debates que deixou de participar”, explicou Prando.

Segundo ele, Bolsonaro representou o candidato anti-sistema e anti-PT. Além disso, o fato de ter adotado uma postura dura contra a violência urbana tocou em um ponto sensível para a população.

“Bolsonaro capturou o imaginário da segurança pública com o discurso de militar. Os conceitos de hierarquia, força e ordem, começaram a ter repercussão nas diversas camadas sociais brasileiras, dos mais simples aos mais intelectualizados. Além disso, tem a questão do combate a corrupção, especialmente batendo no PT”, explicou Prando.

Sem o tempo de TV e a estrutura partidária, a imagem e as proposta de Bolsonaro foram veiculadas através das redes sociais. “Enquanto as outras equipes dos candidatos estavam montando suas ações, Bolsonaro já protagonizava olimpicamente as redes sociais”, explicou Gianturco.

Intervenção Federal no Rio de Janeiro

Outro grande acontecimento político que marcou 2018 foi a intervenção federal no Rio de Janeiro. No dia 16 de fevereiro de 2018, o presidente Michel Temer decretou – pela primeira vez desde a promulgação da Constituição de 1988 – uma intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro.

Após uma negociação com o governador Luis Fernando Pezão (MDB) e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o presidente chegou a conclusão de que a entrada de militares no estado era inevitável.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Rio de Janeiro é o estado que apresentou maior crescimento na taxa de roubos entre 2015 e 2016. Um índice que subiu de 893,9 para 1,255 a cada cem mil habitantes. Um aumento de 40,4%. No mesmo período, a taxa de homicídios do estado subiu 24,3%, passando de 30,3 para 37,6 por cem mil habitantes.

Além das questões de segurança, a intervenção militar esbarrou na agenda do Congresso. A Reforma da Previdência acabou sendo adiada para o próximo mandato presidencial. Isso porque a Constituição impede que Propostas de Emenda Constitucional (PEC), como a Reforma da Previdência, sejam votadas durante épocas de intervenção federal.

 

 

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