Retrospectiva 2018: veja os principais eventos na política internacional

Em 2018 a política internacional teve um papel de destaque nos noticiários. O ano que acabou de terminar ocasionou uma série de eventos internacionais de grande importância, que ganharam destaque na mídia do mundo inteiro.

Entre os principais acontecimentos da política internacional de 2018 estão a reaproximação das Coreias, os encontros entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo Vladimir Putin, e entre Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong Un, a guerra comercial desencadeada por Washington, as violências na Nicarágua, o aprofundamento do Brexit, a crise migratória, as eleições na Itália, no México, na Rússia e nos Estados Unidos.

“É muito difícil realizar uma retrospectiva completa de anos muito intensos como foi 2018 para o cenário internacional”, declarou o professor de Relações Internacionais da ESPM de São Paulo, Demetrius Pereira, “mas com certeza o ano passado vai ser lembrado como um dos mais importantes para o mundo”.

Encontros históricos na Coreia

Um dos acontecimentos mais importantes do ano foi a redução da tensão na península da Coreia. Um movimento que ocorreu em duas vertentes. A primeira foi o encontro histórico entre o Kim Jong Un e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae In.

“O ano tinha começado com um discurso muito duro do ditador norte-coreano, que ameaçava os EUA e a Coreia do Sul de usar a arma atômica. Entretanto, ao longo de 2018, Kim Jong Un lançou sinais de distensão. Por exemplo, permitindo a participação de atletas sul-coreanos nas Olimpíadas invernais em PyeongChang, na Coreia do Sul”, explica Pereira, “essa distensão continuou em abril, com o encontro entre Kim e Moon, na fronteira entre os dois países. Um momento marcante para a política internacional de 2018. Especialmente porque a Coreia do Norte e a Coreia do Sul estão tecnicamente ainda em estado de guerra. Mas a distensão continuou ainda mais em junho, quando Kim aceitou encontrar Trump em Singapura. Esse foi o ápice da distensão na Coréia”.

Segundo alguns analistas, 2018 não é o fim da Guerra na Coréia, que continua desde 1950. Entretanto, é o começo do fim do conflito que dividiu os dois países asiáticos. “Esse poderá ser lembrado como o ano em que o processo de reunificação das Coreias começou”, afirmou Pereira.

Eleições na Rússia

Em março de 2018 a Federação Russa elegeu para um quarto mandato o presidente Vladimir Putin. O mandatário se confirmou no poder até 2024 com mais de 76% dos votos.

“A reeleição do Putin confirma que a Rússia continuará levando adiante as escolhas de política exterior que marcaram 2018. Entre elas, o apoio ao ditador sírio Bashar Al Assad, a anexação da Crimeia e a crise com a Ucraína, as interferências nas eleições nos Estados Unidos e em vários países europeus, e um processo de modernização das forças armadas”, explicou Pereira.

Segundo o professor da ESPM, Putin, mesmo reeleito em um pleito formalmente democrático, continuará atuando com um líder autoritário. “A repressão das oposições e do dissenso e o consolidamento de seu poder continuarão nos próximos anos graças a essa reeleição em 2018”, afirmou Pereira.

Entretanto, sob o perfil econômico, a Rússia continuará sendo muito dependente da exportação de commodities, principalmente petróleo. E ainda não está claro se em seu novo mandato Putin conseguirá mudar essa dependência russa das cotações internacionais do petróleo. “O presidente russo tenta dar uma nova vitalidade ao Produto Interno Bruto (PIB) do país com grandes eventos internacionais. As Olimpíadas invernais de Sochi de 2014, ou a Copa do Mundo de 2018, são exemplos disso. Mas para um gigante territorial e populacional como a Rússia, é impossível reformar a economia sem mudanças muito mais profundas”, disse Pereira.

Crise migratória nos EUA e na Europa

Outro acontecimento que marcou 2018 foi o aumento da crise migratória nos Estados Unidos e na Europa. O número de pessoas que chegou a cruzar a fronteira entre México e EUA bateu recordes. E a “caravana de migrantes” que começou em países da América Central piorou a situação.

“A decisão de Trump de construir um muro na fronteira entre o México e os EUA levou muita gente a tentar imigrar antes que a obra se concretize”, explicou Pereira.

Segundo o professor, o endurecimento da política migratória dos EUA aparentemente não está conseguindo parar o fluxo de pessoas que querem atravessar a fronteira. E isso está levando a um aumento do número de imigrantes presos pelas autoridades norte-americanas. “Entre eles, estão muitas crianças. Algumas delas acabaram falecendo durante esse período de detenção. E isso comoveu o mundo em 2018”, explicou Pereira.

Na Europa, a crise migratória continua intensa, especialmente de países do norte da África. “Entretanto, o novo governo italiano optou pela linha-dura e decidiu proibir o acesso de navios de ONGs humanitárias nos portos do país. Isso levou a uma crise entre os países europeus, pois nenhum outro aceitou acolher os migrantes. E muitas ONGs acabaram desistindo de suas ações de resgate em mar”, disse Pereira.

Crise na Nicarágua

Em abril de 2018 eclodiram protestos na Nicarágua que levaram o país centro-americano a enfrentar uma das piores crises de sua história. As manifestações violentas e a repressão do governo do presidente Daniel Ortega provocaram mais de 350 mortos em pouco mais de três meses. Entre as vítimas, a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 30 anos, atingida por tiros disparados por um paramilitar.

“A crise na Nicarágua mostra toda a fragilidade desse pequeno país. Mas é algo que poderia acontecer também em nações próximas, na mesma região. Pois todas têm economias muito debilitadas, élites políticas corruptas e incompetentes e uma situação social extremamente complicada”, afirmou Pereira.

A população do Nicarágua foi as ruas por causa da insatisfação contra o governo de Ortega. Presidente, ex revolucionário sandinista, está no cargo há 16 anos consecutivos e rejeitou qualquer hipótese de renúncia. A Organização dos Estados Americanos (OEA) chegou a aprovar uma resolução para que o Ortega antecipasse as eleições de 2021 para 2019. Entretanto, o presidente não cedeu, declarou que terminará o seu mandato nos termos previstos e que uma sua eventual renúncia “criaria instabilidade, insegurança e só pioraria as coisas”. Enquanto isso, na Nicarágua as violências e os protestos continuam.

O Brexit se aprofunda

A saída do Reino Unido da União Europeia teve novos desdobramentos em 2018. Entre eles, a decisão da Corte Europeia de Justiça, segundo a qual Londres pode recuar unilateralmente do Brexit, e o acordo alcançado entre o governo britânico e a Comissão Europeia. O texto, de 585 páginas, indica os termos do divórcio entre o Reino Unido e o bloco europeu. Entretanto, o documento deveria ser aprovado pelo Parlamento de Londres em dezembro, mas o voto foi adiado.

“A primeira-ministra Theresa May percebeu que não tinha votos suficientes para aprovar esse acordo. O texto mantêm o Reino Unido vinculado a UE em muitos aspectos, como por exemplo o respeito das leis europeias e até das decisões da Corte de Justiça por um período de transição indefinido que teoricamente poderia chegar até 2099. Algo evidentemente inaceitável para o Parlamento de Westminster”, explicou Pereira.

Outro ponto que foi duramente criticado é o acordo sobre o status jurídico da Irlanda do Norte. Segundo o acordo, essa região do Reino Unido permaneceria no mercado único e sem fronteiras definidas com a Irlanda, país que permanece na União Europeia. “O acordo sobre o Brexit de fato tira a soberania de Londres sobre a Irlanda do Norte, que se tornaria algo economicamente e até politicamente separado do resto do Reino Unido. Além disso, a questão da fronteira entre as Irlandas é algo tão delicado que qualquer mudança criaria uma série infinita de problemas. Devemos lembrar que até os anos 1990 naquela região o terrorismo era uma triste realidade e somente a eliminação da fronteira física permitiu o fim das violências. Ninguém quer voltar a essa época triste”, explicou Pereira.

O Brexit terá seus desdobramentos finais entre janeiro e março de 2019. Nesses meses, o Parlamento britânico deverá votar o acordo, podendo aprová-lo ou rejeitá-lo. Não poderá modificá-lo, pois a União Europeia já deixou claro que não há mais espaço para negociações. “Entretanto, no dia 29 de março de 2019 o Reino Unido sairá de qualquer forma da UE, com o sem acordo. E isso poderá ter consequências econômicas gravíssimas para o país, para a Europa e para o mundo inteiro. Por isso, o Brexit continuará sendo, mesmo no próximo ano, um dos acontecimentos mais importantes na política internacional“, concluiu Pereira.

Carlo Cauti

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