Na retomada econômica, os setores de varejo, tecnologia, agropecuária, seguros e educação básica entraram na lista de otimismo da KPMG. A consultoria divulgou relatório intitulado “Tendências e nova realidade: 1 ano de covid-19”, no qual destaca a perspectiva de crescimento para estes e outros setores, ao passo que ressalta as complicações vistas na aviação, indústria e ensino superior.
Dentro do varejo, os setores correspondentes a farmácia, higiene, alimentos e bebidas, e o segmento de varejo online se destacam, enquanto o food service e outros setores cedem à classificação de “retorno ao normal”, com indicativo de alguns impactos da recessão, mas com uma retomada econômica mais veloz do que as outras classificações.
O relatório não cita nominalmente as empresas, mas mostra um rol de tendências e de desafios para cada setor. Logo no preâmbulo, a KPMG cita que “os aspectos ESG estão presentes em quase todas as agendas”, e que a demanda tem aumentado para empresas com economia circular, baixo carbono, inclusivas e regenerativas.
O Varejo online deve ser destaque, com competição acirrada e aceleração da digitalização ainda em voga. Há tendência prevista de:
- Varejo físico suportando o varejo online e vice-versa.
- Proteção digital aos consumidores.
- Coleta de feedbacks.
- Inteligência de dados.
- Aumento de atendimentos via chatbot.
- Primeira troca com frete grátis.
- Pesquisa por voz.
- Avanço de meios de pagamento digitais.
- D2C (Direct to Consumer).
A concorrência acirrada deve, da mesma forma, figurar como principal desafio para o segmento de varejo. Segundo um relatório recente da XP, a previsão é de um e-commerce ainda mais competitivo ao longo do ano, sendo o Mercado Livre (MELI34) a maior ameaça às brasileiras Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VVAR3), que investem pesado no varejo digital.
Educação será sinônimo de migração
O relatório destaca uma tendência forte de migração dentro do setor educacional durante a retomada econômica. Dentro da rede privada os alunos devem se deslocar para escolas com mensalidade menores, ao passo que uma parcela também deve aderir à rede pública.
O foco e a estratégia das empresas deve ser de retenção dos alunos, com mantimento do sistema híbrido (online e presencial) até o fim da pandemia.
A educação básica deve ser o único segmento com perspectiva de crescimento, ao passo que o ensino superior apresenta um padrão de retomada de recomeço, como um segmento com demanda “permanentemente” reduzida, capital insuficiente e má execução da transformação digital.
Ainda segundo a KPMG, deve haver um aumento da procura por cursos profissionalizantes e maior relação e presença dos pais no ambiente de ensino.
A nova realidade deve ser permeada por exigência de maior capacitação dos professores, aceleração da automação, procura por mensalidades menores e sobrevivência de gestões que lidem bem com um caixa crítico, fruto de inadimplência e evasão escolar.
Crescimento, safras recorde e preço elevado
A tendência é extremamente positiva para o setor do agronegócio, com crescimento contínuo, aumento do preço dos grãos e safras recordes, apesar dos riscos climáticos ainda presentes.
As preocupações da demanda devem ser com o mercado doméstico, uma vez que o preço dos grãos está em alta no mercado internacional, sobretudo na China, destino de boa parte das exportações brasileiras. A desvalorização do real frente ao dólar deve acentuar a questão.
O setor, que teve uma alta de 2% de Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, terá um horizonte de profundos investimentos em novas tecnologias aliadas a boas práticas, gestão de risco e entidades de escala. A mudança na demanda, que procura mais informação acerca da produção, deve ser categórica no processo.
Retomada econômica fica no retrovisor do food service e aviação
O padrão de retomada mais crítico, o “reiniciar”, recai sobre a menor quantia de setores, sendo os que lidaram pior com os impactos da pandemia e não conseguiram se adaptar a tempo. A aviação, influenciada pelo turismo, e o varejo de food service, figuram como as mais emblemáticas.
A KPMG ressalta que “durante um bom tempo as interações pessoais não serão mais as mesmas”, considerando a mudança de comportamento que exige evitar aglomerações e lojas físicas.
O food service e outros segmentos de varejo que não entraram na perspectiva de crescimento devem, segundo o relatório, repensar o “custo de fazer negócios” e abandonar os modos tradicionais de cortes de custos.
Entender e modelar demanda podem ser fundamentais para o processo de restart.
Com a queda de demanda, tanto de passageiros quanto de cargas, a aviação deve enfrentar um processo semelhante, com exigência de maior integração com meios de transporte públicos (metrô, ônibus) ou privados (Uber).
A tendência ainda ressalta judicialização de contratos, devolução de concessões e reposicionamento nas iniciativas que possuem instrumentos governamentais para a retomada econômica.
Indústria também fica fora do radar
Nenhum segmento do setor industrial entra na perspectiva de crescimento, com queda de 4,1% no PIB da Indústria 4.0 em 2020.
Produção, venda e exportação de veículos ainda devem ter uma transformação mais adiante, com menos percalços. Contudo, a retomada econômica para a indústria manufatureira deve ser mais complicada, com insegurança jurídica, alta no “custo brasil” e necessidade de aperfeiçoamento aos novos modelos de negócio e hábitos de consumo.