O PIB brasileiro pode subir até 3% no ano que vem e beneficiar empresas do País. A aposta da Pacífico Gestão é que essa retomada da atividade econômica possa ser positiva para, principalmente, empresas de varejo.
“Estamos procurando empresas que se beneficiam de um retorno da atividade. Então não é só varejo. Temos Localiza, B3, Azul. Tudo isso ganha com atividade, mas no varejo o consumo fica muito evidente”, afirmou Leonardo Rufino, gestor da Pacifico Gestão de Recursos.
Zerados no setor bancário, as maiores posições do fundo atualmente são de varejistas. “Hoje, nossas maiores posições estão em Renner e Magalu”, disse ele.
Confira a entrevista exclusiva de Leonardo Rufino, gestor da Pacifico Gestão de Recursos ao SUNO Notícias:
-Como a Pacífico começou?
A Pacífico é uma gestora fundada em 2011, com uma origem no Opportunity. Eu entrei como estagiário lá em 2000 e quase todos os sócios fundadores da Pacífico entraram como estagiários lá, quando o programa de estágio era bem forte. Comecei a trabalhar com gestão em 2002 com a equipe que deu origem à Pacífico.
A Pacífico tem três mandatos principais: o long only, o long biased e também o macro, um multimercado tradicional. Hoje, temos R$ 3 bilhões sob gestão, sendo divididos entre um pouco mais da metade em multimercados e a outra parte em renda variável e estamos nas principais plataformas.
-No fundo Pacífico Ações, qual é a estratégia de gestão?
Nossa filosofia de gestão é fundamentalista. Então, investimos com horizonte de médio e longo prazo, mas obviamente também podemos operar no curto prazo, dependendo da volatilidade, para tirar proveito do que o mercado pode nos oferecer em termos de oportunidade.
É um fundo que vai usar de concentração alta em alguns momentos, fica totalmente alocado em ações, sem fazer market timing, e a maneira que eu controlo o risco do fundo é buscando alguma diversificação, mas não excessiva. A gente monta as maiores posições, que em geral corresponde a 10% da carteira e pode chegar a 15%, e trabalhamos entre 15 e 20 empresas na carteira.
Hoje, por exemplo, estamos zerados no setor bancário, que corresponde a quase 30% do Ibovespa, então não temos compromisso de estarmos colados no índice. Ao longo do tempo, fomos tendo uma preferência cada vez maior, dado o histórico de resultados, para empresas que carregamos muito tempo na carteira, como Equatorial, B3, Renner, Fleury, Localiza. Então, temos preferência por empresas de ótima qualidade, boas empresas com empresários fantásticos, um negócio muito bom, pois não é só comprar por menos do que vale. A essência do trabalho é essa, mas também contar com que o valor da empresa cresça ao longo do tempo.
Quando compramos Renner em 2014, a gente não achava o que ela valeria hoje. Mas, os gestores foram melhorando a empresa, abrindo lojas, melhorando margens, melhorando os atributos tecnológicos dos negócios deles e hoje, realmente, merece o que vale no mercado. Na verdade a gente acha que vale até mais.
Mesma coisa o que acontece com a Equatorial. Em 2012, ela era uma empresa totalmente diferente daquilo que ela é hoje. Então, às vezes a graça é deixar o tempo correr para que o empresário ter a oportunidade de gerar valor.
Mas, a gente é eclético. Não nos restringimos. Temos empresas small caps, produtoras de commodities, estatais. Nós temos disso tudo. Mas, uma preferência por empresas boas que vá multiplicar valor ao longo dos anos.
-Você me falou que estão zerados no setor bancário. Tem algum setor que agrada mais?
Hoje, temos uma concentração maior no setor de consumo e varejo, com cerca de 22%. Isso dividido em seis empresas e cada uma delas, o motivo é que o negócio da empresa tem méritos em si e decidimos fazer investimento. Mas, o somatório dessa exposição acaba tendo uma influência pelo fato de a nossa casa ter uma análise macro dentro. Então, a gente acaba usando e temos uma visão positiva em relação ao nível de atividade no Brasil.
Estamos com um número de crescimento do PIB de 3%. Esse somatório não seria 22% se eu não tivesse otimistas dentro de casa. Mas teríamos Renner, Magalu, Natura, Marisa, Vivara, Grendene, mas com um somatório menor. Usamos a análise macro para dimensionamento e análise de risco.
Ao longo da nossa história, um setor muito bom para a gente foi o setor de energia elétrica. Não só Equatorial, que temos desde 2012 e é a posição mais antiga e que mais deu ganho, mas também a Energisa, que ficamos vários anos com ela. Em CPFL e Eletropaulo também tivemos posições relevantes. Temos uma predileção histórica nesse setor, mas hoje o consumo no varejo parece mais interessante.
Estamos procurando empresas que se beneficiam de um retorno da atividade. Então não é só varejo. Temos Localiza, B3, Azul. Tudo isso ganha com atividade, mas no varejo o consumo fica muito evidente.
-Dentro do Varejo, quais os ativos preferidos?
Hoje, nossas maiores posições estão em Renner e Magalu.
-Confiantes em varejo, vocês veem essa retomada forte? O consumo está voltando porque estava muito ruim, mas não chega perto de níveis pré-crise. Como vocês veem isso?
Eu acho que é mais no sentido da base muito fraca e uma retomada cíclica que pode ser relativamente forte. Considerando que nosso PIB quase não recuperou da crise, é uma retomada medíocre. Você lembrando da crise de 2008, no ano seguinte o PIB cresceu 7%. É uma retomada medíocre, mas muito melhor do que tivemos no passado.
Brasil é difícil de imaginar que possa mudar de condições a ponto de ter um crescimento em níveis muito acima do que está agora. Com a inflação contida, os juros devem ficar baixos muito tempo, então vai ter uma expansão de crédito, as empresas ainda estão com capacidade ociosa, o desemprego ainda é alto, mas a inflação é baixa e isso deve fazer com que os juros fiquem baixos mesmo com o crescimento retomando.
Espaço para ser muito melhor que no passado há. Mas daí achar que o país vai bombar, tipo sudeste asiático, a gente não conta com isso pois precisaria de reformar mais fortes e no Brasil é complicado.
Difícil achar que vai ter mais uma reforma que seja estruturalmente significativa. Mas só o que já foi feito de reforma desde 2016 já é bastante coisa.
A Bolsa tem as melhores empresas do Brasil, então é natural que as empresas listadas lá tenham uma melhora maior que a economia como um todo. Para o mercado de capitais, é um ambiente muito positivo. Ninguém sabe que o efeito terá de fato.
-O que está bancando essa alta é o mercado local. Vocês não tem medo de o mercado interno perceber algo e o estrangeiros não sustentarem?
Eventualmente vai acontecer. Quando cai assusta até gente de mais de 20 anos de mercado. Naturalmente, um mercado subindo há quatro anos, apesar de não ser um ciclo de alto tão brutal. Quatro anos subindo, gera euforia. Então eventualmente isso vai gerar algum tipo de decepção.