A sessão desta quarta-feira (28) mereceu um Resumo do Dia. Aqueles que ligaram o noticiário e checaram seus celulares por volta volta das 10h tomaram um susto: o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa, despencava 2%, seguindo o temor dos mercados estrangeiros pela volta das medidas restritivas para conter a segunda onda do coronavírus.
Ninguém pensou que o dia de hoje seria fácil, de forma alguma. Em meio à temporada de balanços do terceiro trimestre, estavam previstos os resultados de nada mais, nada menos do que Petrobras (PETR4), Bradesco (BBDC4) e Vale (VALE3), três pesos pesados do mercado brasileiro. O dia ainda previa a decisão do Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do Banco Central (BC) sobre a taxa básica de juros (Selic).
A sessão desta quarta-feira, no entanto, foi mais intensa do que a maioria poderia esperar. O dia amanheceu mais cedo na Europa, que voltou a ser o epicentro da pandemia de covid-19, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os governos, cautelosos com a nova onda de contaminações, começaram, um por um, a anunciar novas medidas restritivas.
Diversos países do continente impuseram medidas mais rígidas de fechamento de estabelecimento, como foi o caso da Itália, ao que tempo que outros governos decretaram locksdowns quase completos como o da Alemanha e da França.
Os mercados europeus precificaram o temor de um novo e longo período de um possível pacote de medidas que poderia paralisar a economia mundial novamente, com o índice referencial STOXX 600, que reúne empresas de 18 países da Europa, caindo ao menor nível desde o final de maio. O movimento levou a um efeito dominó que resultou na queda dos principais índices acionários do mercado financeiro ocidental, incluindo o Ibovespa.
O que não derreteu à luz das novas restrições foi o dólar ante ao real. A moeda americana, comumente procurada em momentos de grande incerteza, quando os investidores buscam refúgio em uma divisa sólida, disparou em relação ao real, batendo sua máxima desde maio. Coincidência.
O dia de hoje provou, mais uma vez, que o Brasil não é para iniciantes, muito menos o mercado financeiro brasileiro. Nesse sentido, para ficar a par de tudo, veja o resumo do after market e fique atualizado sobre as principais notícias do cenário doméstico e internacional.
Ibovespa em queda livre
Impossível falar do after market sem primeiro abordar o fechamento do mercado. O Ibovespa foi mais longe do que o índice europeu e fechou o pregão desta quarta-feira em queda de 4,25%, a 95.371,09 pontos, o menor patamar desde abril.
O índice de referência do mercado acionário brasileiro, que vinha em um sentido de recuperação nas últimas semanas, encontrou de novo com a barreira psicológica dos 100 mil pontos, que apesar de conseguir ultrapassar, recua toda vez que o faz.
Todas as 77 companhias que compõe o Ibovespa fecharam o dia em queda, com destaques para:
- CIEL3 -11,66% / R$ 3,41;
- CVCB3 -9,88% / R$ 12,77;
- AZUL4 -9,58% / R$ 23,40;
- IRBR3 -9,51% / R$ 6,09;
- GOLL4 -9,03% / R$ 16,92;
as piores do dia. Com isso, as perdas acumuladas na semana cresceram para quase 6%, enquanto no mês a expansão do índice caiu para menos de 1%.
Dólar para o alto e avante
Diferentemente das ações brasileiras, o dólar registrou uma forte alta na sessão desta quarta-feira, de 1,43%, negociado a R$ 5,7630. Não adiantou o BC intervir nos mercados de câmbio com leilão à vista de mais de 1 bilhão da moeda, a divisa americana não parou de subir. O motivo é o mesmo da queda do Ibovespa: a incerteza.
No pico do pregão, a moeda norte-americana chegou às portas dos R$ 5,80 e bateu o maior nível intradiário desde 18 de maio, quando chegou a ultrapassar a dita marca.
Copom mantém Selic em 2% a.a.
O Copom decidiu manter a taxa básica de juros da economia na mínima histórica de 2% ao ano. O anúncio (pelo menos um) veio em linha com a expectativa dos especialistas do mercado financeiro responsáveis pelo Boletim Focus, que prevê que a Selic encerre 2020 na casa dos 2%.
“O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”, informou o Comitê em comunicado.
O Copom entendeu que, apesar da pressão inflacionária, o choque é temporário. A alta nos preços, de acordo com o órgão, segue compatível com a meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária.
Petrobras fecha 3º trimestre de prejuízo
Em sua carta, no documento que apresenta o balanço de resultados da Petrobras, o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, salientou a melhora na indústria do petróleo. O cenário, porém, não foi o bastante e empresa reportou um prejuízo de R$ R$ 1,546 bilhão, o terceiro resultado trimestral no vermelho.
O preço do petróleo e a produção da companhia aumentaram no período, assim como o consumo interno de derivados, incluindo gasolina e óleo diesel. Apesar disso, a receita de vendas ficou em R$ 70,730 bilhões no período, uma queda de 8,2% ante os R$ 77,051 bilhões registrados no mesmo período de 2019.
Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado registrou um crescimento, de 2,6%, para R$ 33,440 bilhões no terceiro trimestre deste ano.
Além disso, o fluxo de caixa operacional da empresa anotou uma alta de 41,6% na base anual, para R$ 46,103 bilhões. Mais cedo nesta quarta-feira, a Petrobras informou que o pagamento de dividendos passará a ser compatível com a geração de caixa da companhia.
Lucro do Bradesco cai 23,1%
No que tange ao “Bradescão”, foi reportado um lucro líquido recorrente de R$ 5,031 bilhões, o que corresponde a uma queda de 23,1% em relação aos R$ 6,542 bilhões registrados em igual período de 2019. O resultado, todavia, veio acima do consenso dos analistas.
O desempenho do resultado operacional do Bradesco no trimestre foi reflexo das menores despesas com Provisão de Devedores Duvidosos (PDD), que apresentaram queda de 37,1%, mesmo com a constituição de R$ 2,6 bilhões de provisões relacionadas ao cenário econômico adverso.
A instituição financeira ainda informou que o Retorno Anualizado sobre o Patrimônio Líquido Médio (ROAE) auferido no terceiro trimestre foi de 15,2%.
Vale lucra US$ 2,91 bi
Para terminar o resumo do dia, a mineradora Vale apresentou um lucro líquido de US$ 2,91 bilhões no terceiro trimestre deste ano, ante US$ 1,64 bilhão em 2019. O resultado também veio acima do consenso em todas as linhas.
A receita líquida da companhia saiu de US$ 10,76 bilhões, contra US$ 10,22 bilhões em igual período do ano passado; enquanto o Ebitda ajustado da empresa foi de US$ 6,09 bilhões, ante US$ 4,60 bilhões na mesma base de comparação.
A companhia apontou para uma perspectiva melhor em 2021 para o mercado de minério de ferro com a recuperação nas atividades da China, Índia, Sudeste Asiático, Turquia e Europa. A empresa, contudo, vê um risco ainda alto com o ressurgimento dos casos de covid, que podem interromper a retomada, assim como parece ter considerado o mercado neste resumo do dia.