A última semana de fevereiro foi um período agitado para o índice acionário de referência da B3. O Ibovespa perdeu quase 7,09% de sua cotação, regredindo aos 110.035,17 pontos em intervalo marcado pela interferência do presidente Jair Bolsonaro em empresas estatais e o receio de investidores diante da situação fiscal brasileira.
Na noite da sexta-feira da semana passada (19), o presidente da República destituiu o CEO da Petrobras (PETR4), Roberto Castello Branco, depois da petrolífera anunciar um novo reajuste nos preços dos combustíveis. Na segunda-feira (22), o Ibovespa já acordou estressado.
No dia, as ações preferenciais da petrolífera, que compõe em grande peso o índice, despencaram mais de 20%, levando a estatal a perder cerca de R$ 70 bilhões em capitalização, o equivalente ao valor de mercado da JBS (JBSS3).
O risco político não pesou exclusivamente sobre a Petrobras. A sinalização de Bolsonaro trouxe lembranças amargas ao mercado de ingerência em companhias controladas pela União, o que levou a baixas expressivas para o Banco do Brasil (BBAS3) e para a Eletrobras (ELET3).
Mas a semana não foi só de perdas. O Ibovespa anotou dias positivos ganhando terreno com a recuperação das estatais. Nos últimos dias, o presidente da República buscou amenizar o discurso e sinalizar seu comprometimento com o mercado, enviado uma medida provisória que garante a privatização da Eletrobras e um projeto de capitalização dos Correios ao Congresso Nacional.
Na sexta-feira (27), a imprensa reportou que o presidente do Banco do Brasil (BBAS3), André Brandão, estaria pretendendo deixar a presidência da empresa. As ações da estatal caíram quase 5% no dia.
Risco Brasil pressiona Ibovespa e alavanca dólar
Além de pressionar o mercado acionário do Brasil, o ruído político foi bater às portas do câmbio. Na semana, o dólar acumulou uma valorização de 4,09% ante ao real, batendo a marca de R$ 5,60.
No começo da semana, a moeda americana foi impulsionada pelo aumento do risco Brasil após as sinalizações de Bolsonaro. O momentum, contudo, serviu de cenário para algo maior, o crescimento dos rendimentos das notas do Tesouro americano. A alta nas taxas dos Treasuries alimento uma aversão ao risco e levou a fuga de investidores de mercado emergentes.
A desvalorização do real levou o Banco Central (BC) a agir, com leilões de moeda spot para tentar barrar o avanço do dólar. “Agora, ele não está esperando a volatilidade ser maior que a dos pares”, como o rublo russo e o peso mexicano, salientou Marcos Weigt, head de Tesouraria do Travelex Bank.
Resumo da semana
Na segunda-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), previa da inflação oficial do País. O indicador apontou uma aceleração para 1,06% em dezembro, número 0,25 p.p. acima dos 0,81% calculados em novembro.
O mercado em geral já começa a projetar uma inflação acima da meta do BC e revisa as expectativas para o IPCA e o nível da taxa Selic em dezembro de 2021.
O Bradesco (BBDC4) elevou a previsão para a inflação de 3,50% para 3,90%, sendo que o Itaú (ITUB4) revisou sua estimativa para a taxa básica de juros de 3,5% para 5,00%. Segundo o último Boletim Focus, o mercado aguarda um IPCA a 3,82% e uma taxa Selic a 4,00% ao final do ano.
Ainda no âmbito doméstico, o IBGE apresentou os números da taxa de desocupação no Brasil. De acordo com o Instituto, o desemprego na País ficou em 13,9% no trimestre encerrado em dezembro de 2020.
Já no noticiário corporativo, a Vale (VALE3) soltou os resultados trimestrais do último trimestre de 2020. A mineradora apurou um lucro líquido de US$ 739 milhões, ante prejuízo de US$ 1,56 bilhão do mesmo período de 2019.
Enquanto isso, a Petrobras registro um lucro de R$ 59,9 bilhões no período, revertendo prejuízo de R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre. Esse foi o maior resultado líquido já visto em uma empresa de capital aberto no Brasil.
Mais um destaque da semana foram os números da Ultrapar (UGPA3). A companhia obteve lucro no quarto trimestre, de R$ 431,5 milhões, mas veio abaixo da expectativa de analistas do mercado, fazendo com que os papéis despencassem 6% liderando as quedas do Ibovespa na quinta-feira..