Aposentadoria, previdência privada e renda passiva ainda não são conversas de mesa de bar, mas isso pode mudar em breve. A população brasileira está envelhecendo mais rápido do que o esperado, e com as mudanças dos últimos anos nas regras do INSS, a tendência é que esses temas sejam mais presentes no dia-a-dia dos mais jovens.
Segundo o último censo demográfico, de 2022, há 55,5 idosos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos no país. Além disso, após uma queda decorrente da pandemia do coronavírus, a expectativa de vida brasileira tende a seguir crescendo nos próximos anos. Hoje, ela é de 75,5 anos.
Com esse cenário, a perspectiva é de que os problemas previdenciários do país só aumentem. Apesar disso, a parcela de pessoas que destinam parte do orçamento para garantir uma aposentadoria mais confortável ainda é baixa.
De acordo com o último Raio-X do investidor, divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), o principal destino do dinheiro aplicado pelos investidores brasileiros segue sendo a compra de um imóvel próprio. Mas cada vez mais brasileiros não aposentados já enxergam que precisarão ir além do INSS para compor a sua renda na terceira idade.
A pesquisa mostra que o número de pessoas que contarão apenas com a previdência oficial no futuro caiu de 50% para 44% — atualmente, 89% dos aposentados dependem exclusivamente desta fonte de renda. O levantamento revela que 9% dos entrevistados contarão com aplicações financeiras, e 4% com previdência privada. Na outra ponta, 19% planejam continuar trabalhando na velhice e 16% não sabem o que será do futuro.
O percentual de investidores que aplicam dinheiro pensando na aposentadoria é de 18%, mas entre os não-aposentados o índice chega a 30%. Comparado com 2021, o número de investidores brasileiros que usam os recursos para a terceira idade cresceu 2 pontos percentuais, indo a 10%, mas há espaço para muito mais.
Caminhos para a aposentadoria
Ainda de acordo com a ANBIMA, 58% dos não-aposentados ouvidos pela pesquisa ainda não começaram a pensar na aposentadoria, mas pretendem fazer isso em breve.
Pensar na velhice não precisa ser razão para cabelos brancos. Não há exatamente uma receita de bolo a ser seguida, mas o investidor tem uma série de opções nas mãos e pode escolher aquela que mais se adapta às suas necessidades e momento atual de vida.
Além da tradicional e conservadora poupança — que ainda é abraçada por 26% dos investidores —, há planos de previdência privada ou ativos financeiros geradores de renda passiva que podem servir de aliados nesse objetivo.
Há uma série de diferenças entre as duas estratégias, e elas envolvem a natureza dos ativos, flexibilidade de aportes, liquidez e benefícios fiscais.
Os planos de previdência privada são produtos financeiros com horizonte de longuíssimo prazo, onde o investidor transfere aos gestores de fundos a administração do portfólio. Produtos como PGBL e VGBL estão atrelados a benefícios fiscais e possuem limitações com relação ao saque antecipado do valor investido.
Já uma estratégia de renda passiva busca ser uma geradora de receita sem um esforço ativo ou contínuo. Ou seja: você pode contar com ele pingando na conta, mas não precisa trabalhar para isso. O investimento em imóveis com fins de recebimento de aluguéis é um exemplo, mas não o único.
Comprar uma casa ou apartamento costuma ser burocrático e envolver valores altos de investimento — ou longos empréstimos bancários. Além disso, muitas vezes uma tentativa de venda pode levar anos para ser concluída
Há opções mais acessíveis e líquidas na bolsa de valores, como ações pagadoras de dividendos, títulos de renda fixa que pagam juros regularmente, fundos de investimentos com distribuição periódica de rendimento e fundos imobiliários.
No Brasil, apenas uma pequena parcela da população já investe nesses ativos. Segundo a ANBIMA, somente 4% dos investidores escolhem fundos de investimentos como uma opção. O número é ainda menor quando olhamos para ações: 2%.
Renda passiva: como e por que investir?
Se você busca maior flexibilidade nos aportes, liquidez e uma maior diversificação de ativos, a estratégia de renda passiva pode ser uma alternativa a ser considerada.
Não há um valor mínimo definido para se investir visando renda passiva. O quanto e quando desembolsar de capital sempre vai depender dos ativos escolhidos, das taxas administrativas e de negociação envolvidas e, principalmente, do objetivo final de cada um.
Para Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, ter uma fonte de renda passiva pode proporcionar estabilidade financeira, especialmente durante a aposentadoria ou em momentos de imprevistos financeiros.
A analista lembra que a busca por renda passiva não é interessante apenas no longo prazo. As estratégias podem ser aplicadas em uma janela de tempo mais curta, como forma de complementação mensal ou receita para uma despesa específica.
“Se estamos falando de um jovem que está começando a trabalhar e investir agora, é importante reinvestir os rendimentos gerados pelos seus investimentos para a construção de um portfólio robusto de longo prazo. Se uma pessoa já está aposentada, essa renda passiva de retorno dos investimentos pode se tornar o seu salário mensal”, explica Sene.
Para minimizar riscos e maximizar ganhos, a orientação geral é diversificar os setores e tipos de ativos. Assim, as chances de passar por grandes turbulências sem grandes impactos na sua renda passiva é maior.
Para Erick Scott Hood, head de produtos de investimentos do Inter, o primeiro passo para proteger o seu investimento é garantir que você está respeitando o seu perfil de risco. Isso impede trocas de portfólio em momentos adversos de mercado que se mostrem prejudiciais no longo prazo.
“A estratégia tem que estar comprometida com o horizonte de investimento. É interessante mesclar necessidades de curto prazo com ativos de menor liquidez que visam o longo prazo e possuem mais risco”, aponta.
Apesar de a regra padrão ser colocar um pouco de tudo dentro da carteira, Hood classifica os títulos de renda fixa com pagamentos recorrentes e os fundos imobiliários como os melhores ativos para perfis mais conservadores ou moderados. Já as ações ficam para os investidores mais arrojados, capazes de se debruçar sobre os detalhes e a capacidade de geração de caixa das empresas.
Independente de qual seja a estratégia de renda passiva escolhida, plantar boas escolhas de ativos, disciplina e constância nos investimentos são essenciais para colher bons frutos no futuro.
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