Com a alta da taxa básica de juros, a Selic, desde março de 2021, ativos em renda fixa tornaram-se mais populares entre investidores – principalmente para aqueles com perfil mais conservador, que têm aversão ao risco. Mas não é tudo tão simples ou tão ‘fixo’ assim. “Há apenas um indexador que é privilegiado no cenário de alta da Selic: os ativos indexados nela mesma. Pensando em renda fixa, é importante saber que nem sempre há garantia de um retorno fixo, exceto, claro, nos ativos pré-fixados”, explica Caio Copetti, sócio-fundador e Assessor Sênior de Investimentos na SVN Investimentos, em entrevista ao Suno Notícias.
No Brasil, a taxa Selic é o indicador que serve como balizador de retorno da renda fixa. Em março de 2021, os juros saíram de 2% ao ano para 2,75% a.a., em um primeiro movimento do Banco Central do Brasil (BC) para conter a escalada da inflação. Atualmente, a Selic mostra sinais de estabilização, em 13,75% a.a., enquanto a inflação segue como um dos maiores desafios da economia brasileira.
É possível se beneficiar de um cenário macroeconômico mais desafiador ao escolher os ativos certos. “No longo prazo, o Brasil mostrou ter tendência de uma inflação maior. Se isso está a favor do investidor – ou seja, a inflação remunerando seu capital –, ele fica protegido da elevação de preços e tem um rendimento em cima disso”, pondera Copeti.
Renda fixa nem sempre é fixa
O ponto de atenção principal para o investidor de perfil mais conservador é que nem sempre a renda fixa trará, de fato, um ganho fixo, já que há essa oscilação dos juros no radar. “Ao fazer uma aplicação, é preciso projetar como a Selic estará nos próximos anos”, explica o especialista.
Até na modalidade de investimento que é conhecida como mais ‘segura’ há diversas categorias para analisar antes de aportar. “Para ganhar mais ou menos dinheiro, ainda é preciso se expor ao risco. Um ativo de menor risco vai emprestar dinheiro ao governo federal. A ‘fábrica’ do BC pode imprimir moeda e, com esse poder, o título é mais conservador. Mas o que for feito acima dele buscará uma taxa de ganho maior.”
É possível, ainda, emprestar dinheiro para um banco, por meio de um título como Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA),Certificado de Depósito Bancário (CDB). Se for para uma empresa, isso ocorre por meio de títulos de crédito privado. Mas a orientação é clara: se não quiser perder valor em renda fixa, precisa apostar em ativos indexados ao CDI, que seguem o fluxo do Banco Central.
Diversificação em renda fixa
Especialistas do mercado financeiro costumam recomendar ‘distribuir ovos em diferentes cestas’. Da mesma forma que investir apenas em ações de empresas não garante um retorno seguro ao investidor, vale a pena investir só em renda fixa?
“Partindo do pressuposto de que ativos de renda fixa pós-fixados têm maior segurança no Brasil, se você aplicar todo o seu patrimônio em Letras Financeiras do Tesouro (LFT) pós-fixado de curto prazo, a probabilidade de não receber isso de volta – ou ter qualquer dor de cabeça – é muito curta. O risco é praticamente zero. Faz sentido fazer isso se seu perfil for ultraconservador. No entanto, o que é melhor, no geral, é ter um pouco de tudo”, responde Caio Copetti.
Mesmo na renda fixa, o especialista recomenda sempre haver diversificação em outros indexadores. “Uma parcela significativa do capital deve sempre estar em ativos pós-fixados, em ativos de menor risco, como o CDI. Além disso, é importante buscar uma tendência de seguir menor risco de crédito, como o governo federal e grandes bancos ou empresas”, diz o sócio da SVN.
Com o tempo e melhor entendimento do apetite ao risco, o investidor pode aumentar seu grau de exposição em outros papéis de renda fixa, como IPCA ou pré-fixados, dentro do prazo que o deixe confortável. “A economia muda muito rápido, por isso a importância da diversificação.”