O Banco Central surpreendeu os mercados ao aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, após seis anos de queda. Com isso, a taxa Selic passou da mínima histórica de 2% para 2,75% ao ano. Agora, os investidores se questionam se essa alta foi suficiente para tornar a renda fixa atrativa. Afinal, será que vale a pena investir em renda fixa?
Apesar do aumento surpreender o mercado, que estimava uma elevação entre 0,25 a 0,50 ponto percentual, os especialistas apontam que essa elevação não torna a renda fixa atrativa o suficiente. Mas alertam para a importância do investimento na carteira do investidor e os principais ativos que se beneficiam com o aumento da taxa básica.
Veja as percepções dos especialistas consultados pelo SUNO Notícias sobre se vale a pena investir em renda fixa com a Selic em 2,75%.
Aumento da taxa Selic não é bom por causa da inflação
De acordo com o educador financeiro André Massaro, o aumento é significativo em termos macroeconômicos, porém em relação à carteira do investidor “não muda em nada” e “certamente, não é isso que vai fazê-lo ficar rico”.
Isso porque, segundo o educador, a inflação hoje está em torno de 5,20%, portanto o investidor perde seu poder de compra.
Para entender melhor, o professor da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godoi, explica que a conta que o investidor precisa analisar para considerar se o aumento da Selic é positivo para sua carteira é essa: o quanto está ganhando de retorno – o valor da inflação = o que ganhou.
Portanto, a conta seria: 2,75% (taxa básica) – 4,71% (inflação prevista pelo Boletim Focus) = – 2% (poder de compra). “Para que o investimento em renda fixa seja atrativo, a Selic tem que ser superior à inflação”, explica Godoi.
Mas os especialistas apontam que não é preciso aumentar a taxa básica para tornar a renda fixa atrativa, mas sim reduzir a inflação.
“Como a inflação flutua, considerando a inflação a 4,71%, com a Selic em 5,30% você empata [não perde o poder de compra). Mas você pode questionar, então o ideal é a taxa em 5,30%? Não, o ideal é que a inflação caia. Se tivermos uma inflação a 3% e a Selic a 4%, você sai ganhando. É sempre um conjunto. Investir em renda fixa vale a pena desde que a inflação não esteja alta”, conclui o professor.
Renda fixa é atrativa apenas para diversificação de portfólio e reserva de emergência
No entanto, não é somente por causa da perda do poder de compra que os investidores devem abrir mão de investir em renda fixa e focar apenas na renda variável. A renda fixa tem uma contribuição positiva na diversificação da carteira e serve como uma ótima reserva de emergência.
Além do mais, o BC sinalizou a elevação da Selic na mesma magnitude na próxima reunião, nos dias 4 e 5 de maio, o que tende a fazer com que o rendimento fique mais atrativo, no quesito portfólio, e comece a ter ganhos positivos, considerando o investimento com prazo mínimo de 1 ano.
Segundo o responsável pela equipe de análise da Singulare, Nicolas Takeo, ao aplicar em renda fixa, o investidor tem que pensar na diversidade de produtos em sua carteira de investimentos.
“Investir em renda fixa é sempre interessante do ponto de vista do investidor pessoal, a renda fixa tem uma contribuição positiva na diversificação do portfólio, independente de retorno. Na prática você acaba reduzindo a volatilidade das perdas e tem uma alocação mais eficiente. Com a trajetória de alta, essa renda fixa volta a ficar mais atrativa, apenas no efeito de diversificação”, apontou Takeo.
Massaro completa que “o investimento em renda fixa sempre vai ser importante para reserva de emergência, mas não para ganhar dinheiro ou para a construção de um patrimônio, mas como ativo mais fácil e prático que reduz a desvalorização contra inflação“.
Apesar do aumento da Selic, poupança permanece desvantajosa
Há quem ainda mantenha seu dinheiro guardado na antiga e conhecida poupança. Os especialistas têm o consenso da importância de poupar dinheiro, porém, não indicam a poupança.
Para eles, apesar do aumento da Selic beneficiar minimamente a poupança, há outros produtos disponíveis muito mais interessantes.
Atualmente, a poupança rende 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), que está em 0%. Portanto, ao deixar o dinheiro na poupança, de todas as possibilidades em renda fixa, a pessoa está perdendo ainda mais o poder de compra, isso porque ela já tem um desconto de 30% da taxa básica em seu rendimento.
“A poupança não é rentável, porque só pela constituição do produto você perde 30% da taxa Selic”, analisa Godoi.
Quais os melhores investimentos em renda fixa?
Portanto, visto que, é importante investir na renda fixa por causa da reserva de emergência e da diversificação do portfólio, os especialistas apontam os melhores investimentos atrelados à taxa Selic.
Na ordem do professor, a lista de melhores ativos são os seguintes:
- LCIs (Letras de Crédito Imobiliário): são isentos do Imposto de Renda;
- CBDs (Certificado de Depósito Bancário) acima de 100% do DI (Depósito Interbancário, que rende 0,2% menos que a Selic)
- Títulos públicos indexados à Selic
No caso das debêntures, que são títulos de dívidas de empresas privadas, dificilmente se encontram indexados à taxa Selic. É mais comum encontrá-las atreladas à inflação.
“Vale a pena a renda fixa pós-fixada, ou fixada à taxa Selic ou taxa DI. Portanto, CDB, LCI,LCA e títulos do Tesouro. As debêntures se beneficiam apenas se forem atreladas ao DI. Partir agora para renda fixa, seria uma forma de perder menos, seria uma forma de reduzir sua perda para inflação”, acrescenta Massaro.