À primeira vista, a proposta da reforma tributária de unificar e cobrar 15% de imposto de renda nos ativos de renda fixa parece positiva para o investidor, mas os gestores não se animaram com a proposta, e apontam que o impacto da mudança seria praticamente nulo.
Hoje, os investimentos de renda fixa sofrem uma tributação regressiva, que começa em 22,5% e cai gradualmente, chegando a 15% após dois anos. A proposta do governo, divulgada na sexta-feira, pretende unificar a tributação da renda fixa em 15%.
A intenção seria beneficiar o investidor de menor poder aquisitivo, que geralmente não consegue manter o dinheiro investido por muito tempo.
Segundo os gestores de renda fixa consultados pelo SUNO Notícias, a mudança seria positiva na teoria, por simplificar a tributação e permitir que os investidores paguem apenas 15% de tributo ao investir no curto prazo.
Mas na prática, a realidade deve ser outra, pois as pessoas não vão mudar sua estratégia de investimento só por causa da nova tributação.
Confira a opinião dos gestores
“Se uma pessoa está investida em um fundo rendendo positivamente, ela só vai resgatar caso precise do dinheiro ou tenha uma oportunidade melhor. Caso ela precisa de dinheiro, ela vai resgatar de qualquer forma, a diferença é que agora ela não será penalizada por ficar menos tempo alocada”, disse o gestor de fundo da Valora Investimentos, Paulo Fleury.
A opinião é compartilhada por outro gestor de uma grande gestora de fundos de renda fixa, que não quis ser identificado. Segundo ele, o impacto dessa proposta não seria significativo, pois a maioria dos investidores deixam seu dinheiro rendendo sem contabilizar a tributação.
“As pessoas simplesmente não fazem conta, quando precisam resgatar, resgatam e pronto. No final do dia, o impacto é nulo”, disse a fonte.
Vale lembrar que, além da unificação do imposto de renda em 15%, a proposta prevê a cobrança do come-cotas apenas uma vez ao ano, e não duas vezes, como ocorre hoje. Segundo o CEO da Butiá Investimentos, Rodrigo Dias, este ponto da proposta é positivo.
“Para os fundos abertos e ativos de renda fixa, a proposta é positiva. Primeiramente pelo fato de impactar somente uma vez ao ano o come-cotas no caso dos fundos, atualmente a cobrança se dá em duas vezes, em maio e novembro”, disse Dias.
Empresas podem ter impacto com unificação da tributação da renda fixa
Entre os gestores de renda fixa, também existem aqueles que veem problemas na proposta, caso seja aprovada como está. Isso porque a redução da tributação de investimentos de curto prazo reduziria o incentivo para as pessoas investirem no longo prazo.
Esta é a visão de Marcos Lorio, gestor da Integral Investimentos, que teme pelo aumento do custo de captação das empresas.
“Pode ser que os fundos de renda fixa não tenham tanta demanda por ativos longos. Eles podem dar uma preferência por ativos mais curtos e isso pode provocar um aumento do custo para as empresas que precisam captar no longo prazo porque em geral todas as empresas precisam ter passivo mais alongado”, analisou o gestor.